quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

DOENÇA OU CASTIGO?

Breve Reflexão Sobre o Sofrimento Humano



QUANDO A DOENÇA ATACA
"'Foi a vontade de Deus!' Com esta expressão geralmente responsabilizamos a Deus pelas doenças e acidentes que nos sobrevêm. É Ele realmente responsável pelo mal existente no mundo? Leia este livrinho e saiba quem é o autor do sofrimento."

"Às vezes temos que nos defrontar com momentos de crise, acompanhados de dor e sofrimento. A grande pergunta que se levanta nessas ocasiões é: 'Por que eu, Senhor?' Porque Deus está fazendo isso comigo? Mas será que é Deus, realmente, que nos aflige com preocupações, ansiedades, desencantos, dor e sofrimento? Rubem M. Scheffel responde com equilíbrio e sensatez a tão intrigantes e perturbadoras interrogações. Este livrinho é um esforço para ajudar as pessoas a encontrar uma resposta satisfatória para as suas inquietudes, perturbações e sofrimentos, e a compreender quão importante é enfrentar tais dilemas, ancorados em Alguém que nos ama e quer a nossa felicidade. É com prazer, e sentindo-me honrado, que apresento Doença é Castigo? como uma contribuição de solidariedade e ânimo aos feridos pela dor e pelo sofrimento."
Pastor Floriano Xavier dos Santos

John e Cláudia tinham pouco mais de 20 anos e eram recém-casados. Estavam felizes. Mas essa felicidade durou apenas um ano. Cláudia contraíra a doença de Hodgkins – cancro das glândulas linfáticas, e os médicos diziam que sua chance de vida era de apenas 50%. Os cirurgiões fizeram-lhe um corte que ia da axila até ao abdómen e removeram todo e qualquer traço visível da doença. Fraca e confusa, ela estava ali, num leito de hospital.
John trabalhava como assistente de capelão. Embora ele e a esposa fossem cristãos, sentiram revolta contra Deus. Revolta contra um parceiro a quem eles amavam e que Se tinha virado contra eles.
- Ó Deus, por que nós? Deste-nos apenas um ano de casamento feliz para então nos trazeres esta dor? - clamaram eles.
"O tratamento de cobalto arruinou o organismo de Cláudia. Ela perdeu a beleza. Sentia-se constantemente cansada, sua pele tornou-se escura, o cabelo começou a cair, e a garganta estava sempre inflamada e ferida. Vomitava quase tudo o que comia. Os médicos precisaram suspender o tratamento por algum tempo, pois a garganta havia inflamado de tal maneira que ela não podia engolir nada. Todos os dias Cláudia pensava em Deus e na dor que sentia, principalmente quando estava na sala de tratamento. Naquela sala fria, estirada numa mesa, ela ouvia o chiado e o estalido do aparelho, bombardeando-a com partículas invisíveis. Cada dia de radiação fazia o seu corpo envelhecer meses." 1

As Visitas
De início, Cláudia esperava consolo e conforto dos seus amigos cristãos. Mas isso nem sempre acontecia.
+ Um diácono de sua igreja disse-lhe que ela deveria meditar solenemente naquilo que Deus estava tentando ensinar-lhe.
- Deve haver alguma coisa em sua vida que desagrada a Deus. Você deve ter deixado de fazer a Sua vontade. Estas coisas não acontecem por acaso. Procure descobrir o que é que Deus está querendo lhe dizer.
+ Outro dia apareceu uma senhora gorda, trazendo flores. Ela cantou hinos e recitou lindos salmos, sempre batendo palmas. Todas as vezes que a doença de Cláudia era mencionada, ela depressa mudava de assunto. Queria afastar o sofrimento com o seu entusiasmo e boa vontade. Mas quando ela se foi, as flores murcharam, não mais se ouviram os hinos, e Cláudia se viu face a face com outro dia de dor.
+ Outro visitante disse a Cláudia que a única solução seria buscar a cura divina.
- A doença jamais é da vontade de Deus - insistia ele. - É o que a Bíblia diz. O diabo está alerta, e Deus espera que você tenha fé e acredite que será curada. Lembre-se, Cláudia, que a fé remove montanhas, inclusive o cancro. Se de todo o coração acreditar que será curada, Deus responderá às suas orações.
Nas manhãs seguintes, Cláudia tentou 'aumentar a fé', enquanto estava deitada na sala de tratamento de cobalto. Mas essa questão 'de aumentar a fé' pareceu-lhe um processo terrivelmente cansativo, e ela não pôde descobrir como conseguir isso.
+ Outra senhora, muito consagrada, veio ler para ela livros sobre louvar a Deus por tudo.
- Cláudia, você precisa chegar ao ponto de poder dizer: Ó Deus, eu Te amo por me fazeres sofrer desta maneira. É a Tua vontade. Tu sabes o que é melhor para mim. Agradeço-Te por tudo, inclusive por esta experiência.
Ao meditar no que a senhora dissera, a mente de Cláudia se encheu de visões horríveis e cruéis de Deus. Imaginou um gigante, tão grande quanto o Universo, que tinha prazer em esmagar entre os dedos pobres criaturas humanas, pulverizando-as com os punhos e arremessando-as contra pedras pontiagudas. E os seres humanos continuavam a ser torturados até que gritassem: "Ó Deus, eu Te amo por fazeres isso comigo."
Essa ideia lhe era repulsiva. Cláudia não podia adorar nem amar um Deus assim.
+ Outro visitante, o pastor da sua igreja, fê-la sentir que estava cumprindo uma missão:
- Você, Cláudia, tem o privilégio de participar dos sofrimentos de Cristo. Você foi escolhida para sofrer por Ele, e Ele a recompensará. Deus a escolheu por causa de sua integridade, assim como Ele escolheu a Jó. Ele a está usando como exemplo. A fé de outros poderá aumentar por causa da sua atitude.

Qual desses visitantes estaria com a razão? O diácono, que lhe disse que a doença era castigo divino por algum pecado; a viúva, que procurava ignorar a doença com cânticos e muita alegria; o visitante, que afirmou que a única solução era buscar a cura divina; a senhora, que a aconselhou a agradecer a Deus por fazê-la sofrer; o pastor, que a considerou mártir, usada por Deus, para benefício de outros?

Resposta difícil, não é mesmo? Muito difícil. Vamos ver rapidamente outro caso.
Um homem, que estava ficando cego, escreveu uma carta para um pastor. E a carta dizia, em resumo, o seguinte: "O que eu preciso é ver, para acreditar que Deus não me odeia. Será que Deus não sabe o que está fazendo comigo?... Quase não posso mais ver o que estou fazendo, e tenho que tatear como um velho urso. Praguejo e digo palavrões, e imagino que estou condenado ao inferno... Por que Deus está fazendo isso comigo? Por que Ele não me devolve a visão? Só consigo ver a calçada agora, mas quando eu mergulhar totalmente nas trevas, sei o que vou fazer..." 2
Ele certamente se referia àquilo que 16 mil americanos haviam feito no ano anterior: cometer suicídio.

Tanto num caso como nos outros várias pessoas atribuíram a responsabilidade pela doença a Deus. Deus estava castigando Cláudia. Deus queria que Cláudia fosse participante dos sofrimentos de Cristo. Deus a fazia sofrer e ainda esperava gratidão. Deus é o responsável pela cegueira desse pobre homem. E em inúmeros outros casos de doenças ou acidentes, Deus é quase sempre direta ou indiretamente responsabilizado. Afinal, Ele é ou não é soberano? A Bíblia não diz que "nenhum pardal cai ao chão sem que seja do consentimento de nosso Pai celestial?" (São Mateus 10:31) Por que, então, Ele permite que os seres humanos, especialmente os Seus filhos, sofram?

SOFRIMENTO É CASTIGO?

Se Deus estivesse dando a cada um segundo as suas obras, agora, então os maus deveriam estar sempre sofrendo e os justos sempre prosperando, porque Deus é um Deus de justiça. A realidade, porém, mostra que muitas vezes são os justos que sofrem e os ímpios que prosperam!
Essa ideia de que os pecados são punidos nesta vida é muito antiga. Os antigos judeus pensavam assim. Vejam a seguinte declaração: "Toda a enfermidade era considerada como o castigo de qualquer mau procedimento, fosse da própria pessoa, fosse de seus pais. É verdade que todo sofrimento é resultado de transgressão da lei divina, mas esta verdade fora pervertida. Satanás, o autor do pecado e de todas as suas consequências, levara os homens a considerarem a doença e a morte como procedentes de Deus - como castigos arbitrariamente infligidos por causa do pecado. Daí, aquele sobre quem caíra grande aflição, sofria além disso o ser olhado como grande pecador." 3

Mesmo os discípulos pensavam que a dor e o sofrimento eram juízos divinos. Certa ocasião, quando Cristo Se viu face a face com um homem cego de nascença, Seus discípulos Lhe perguntaram: "Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais." São João 9:2 e 3. A ideia pagã de que a desgraça e o sofrimento se abatiam sobre as pessoas como juízos arbitrários de Deus era repulsiva a Jesus.
Noutra ocasião, disseram a Jesus que os galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os mesmos realizavam, deviam ter sido muito ímpios para receber tal tratamento. Jesus, porém, respondeu: "Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? Não eram, Eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.
Ou cuidais que aqueles dezoito, sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou, eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não eram, Eu vo-lo afirmo." São Lucas 13:2-5.

Jesus, portanto, deixou bem clara essa questão. Embora o sofrimento e a morte sejam consequências naturais do pecado, o pecado não vem de Deus, e Deus não está punindo o pecado, agora. Se a doença fosse um castigo divino, que direito teríamos de procurar os médicos para sermos curados? Estaríamos agindo contra a vontade divina.

E A CURA DIVINA?

Caso de Ezequias
A Bíblia conta o interessante caso da doença do rei Ezequias e sua cura maravilhosa. Ele havia adoecido de uma enfermidade mortal, e tomou conhecimento disso através do profeta Isaías, que lhe disse: "Assim diz o Senhor: Põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás." II Reis 20:1. O rei, inconformado, virou o rosto contra a parede, chorou muito e orou ao Senhor lembrando a sua fidelidade no passado e pedindo que lhe prolongasse a vida. Em atendimento à sua oração, Deus imediatamente mandou que o profeta Isaías retornasse a Ezequias com uma nova mensagem: "Ouvi a tua oração, e vi as tuas lágrimas; eis que te curarei; ao terceiro dia subirás à casa do Senhor. Acrescentarei aos teus dias quinze anos." II Reis 20:5 e 6. Orientado por Isaías, foi colocada uma pasta de figos sobre a chaga de Ezequias, e ele sarou.

Há várias lições que se podem tirar desse episódio.

Em 1º lugar, observamos que nem todas as profecias são necessariamente absolutas, mas podem ser condicionais, como ocorreu no caso de Nínive (Jonas 3:4-10). Se orarmos, Deus poderá fazer por nós o que não faria se não orássemos.
Em 2º lugar, quando Lhe pedimos que nos cure, devemos fazê-lo com um espírito submisso, pois só Deus sabe se o atendimento a essa oração será para o bem do suplicante e se redundará em glória para Deus. Ao orar pelos enfermos, alguns têm cometido o erro de quase exigir que Deus conceda vida e saúde ao que sofre. A vida dos que assim se salvaram, em muitos casos não honrou posteriormente a Deus. Teria sido melhor que essas pessoas tivessem baixado à sepultura enquanto tinham a esperança da salvação. O prolongamento da vida de Ezequias é um exemplo desse fato, pois foi nesse período de acréscimo que ele cometeu o único erro grave de sua vida (versos 12-19). Se em sua oração Ezequias tivesse dito: "Todavia, não seja como eu quero, e, sim, como Tu queres" (São Mateus 26:39), poderia ter morrido com o registo de uma vida irrepreensível. 4
Em 3º lugar, observamos que nesse caso o homem se valeu de um remédio (natural) para ajudar a operar uma cura milagrosa. Deus deseja que façamos aquilo que está ao nosso alcance, com os recursos que temos. Quando estes são insuficientes para alcançar o objetivo desejado, Ele provê ajuda adicional aos processos naturais, se Lho pedirmos e se isto for de Sua vontade. Ezequias, portanto, foi curado porque se voltou humildemente para Deus e, com o auxílio dos remédios disponíveis, aliados à ajuda divina, restabeleceu-se.

Mas o Velho Testamento também conta a história de outro rei que adoeceu, e dessa vez o resultado foi outro.
Diz o relato bíblico: "No trigésimo nono ano do seu reinado caiu Asa doente dos pés; a sua doença era em extremo grave, contudo na sua enfermidade não recorreu ao Senhor, mas confiou nos médicos. Descansou Asa com seus pais; morreu no ano quarenta e um, do seu reinado." II Crónicas 16:12 e 13.
No passado, o rei Asa havia confiado em Deus, a ponto de merecer um bom registo bíblico: "Asa fez o que era reto perante o Senhor, como Davi, seu pai." I Reis 15:1l. Mas em vez de continuar confiando em Deus, nos últimos anos de seu reinado ele passou a depender quase que exclusivamente da ajuda humana, tanto na administração pública como na enfermidade. E a sua doença, que alguns acreditam ter sido gangrena, lhe causou a morte.
O grande erro de Asa foi ter confiado apenas nos médicos de seu tempo, que eram pouco mais do que curandeiros, já que a Medicina e a feitiçaria andavam de mãos dadas naqueles tempos remotos.

Mesmo hoje, com todos os recursos médicos que temos, não deveríamos jamais prescindir da ajuda divina. Mas confiar em Deus, por outro lado, não significa dispensar os cuidados médicos. Em outras palavras, não devemos optar por um com exclusão do outro, pois Deus deseja operar em associação conosco.
Um capelão americano contou que muitos dos pacientes que davam entrada no hospital se sentiam culpados por isso. Eles desabafavam dizendo: "Se eu tão-somente tivesse tido a necessária fé, eu poderia ter sido curado pelo poder da oração, evitando assim despesas médicas e hospitalares!" Mas essa atitude é incorreta, pois embora Deus deseje operar milagres ainda hoje, há certas condições que precisam ser observadas:

1. Tanto quanto possível, Ele quer que façamos a nossa parte, caso contrário a operação de milagres nos encorajaria à preguiça. Se a pessoa precisa fazer exercício físico para curar-se de insónia, não adiantará orar, ao mesmo tempo que negligencia os exercícios, pois a oração não é substituto para o trabalho.
Temos hoje um acervo extraordinário de conhecimentos médicos, e Deus certamente não deseja que desprezemos esses recursos, trocando-os pela oração, e esperando de braços cruzados que Ele faça tudo, enquanto não fazemos nada. É preciso unir a ajuda humana com a divina, em vez de optar por uma com exclusão da outra.
2. Deve-se unir a cura à educação e reforma. Se o doente contraiu uma enfermidade devido à transgressão de leis naturais, ele deve ser orientado a corrigir seus hábitos de vida, pois Deus não é honrado em curar alguém apenas para que este continue a viver erroneamente e contrair novamente a mesma doença da qual já foi curado uma vez.
3. Deus nos ouve se pedirmos alguma coisa segundo a Sua vontade. (I São João 5:14 e 15.) Algumas coisas que desejamos ardentemente, inclusive a cura, podem não estar de acordo com a vontade de Deus." 5
4. Embora Deus tenha poder para curar, Ele nem sempre o faz, porque uma doença pode ser usada por Deus como um instrumento de correção para produzir frutos (ver II Coríntios 4:17). O apóstolo Paulo é um exemplo de alguém que por três vezes orou pedindo a cura para o seu "espinho na carne" e não foi atendido. A resposta divina foi: "A Minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza." II Coríntios 12:9. E qual foi a reação do apóstolo Paulo diante dessa recusa? Passou o resto da vida choramingando e reclamando? Não. Ele se conformou dizendo: "De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo." (Verso 9.)
Dessa experiência podemos concluir que precisamos confiar na sabedoria divina e aceitar a Sua decisão. Se Ele decidir não nos curar, devemos nos conformar e crer que isto também é para o nosso bem eterno, pois "todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus".

O SENHOR É A MINHA LUZ


VÁRIAS CAUSAS DE SOFRIMENTO

Dentre  as  Muitas  Causas  de  Sofrimento,  Queremos  Salientar  Aqui  as  Seguintes:

1. Em primeiro lugar, temos o SOFRIMENTO QUE É COMUM A TODA A CRIAÇÃO, a qual geme sob o efeito do pecado. Não só o homem, mas também os animais e a Natureza em geral.
Quando Adão e Eva pecaram, surgiram os espinhos, que devem tê-los espetado algumas vezes, fazendo-os sofrer. Quando Adão foi lavrar a terra, pela primeira vez sentiu cansaço, e grossas gotas de suor escorreram-lhe pela face. Daí ele entendeu o que Deus lhe havia dito: "No suor do teu rosto, comerás o teu pão." Adão também notou que a terra havia perdido parte da sua fertilidade, que haviam surgido pragas, e que ele agora precisava trabalhar mais para colher menos. Os animais, que antes eram vegetarianos, passaram a se devorar uns aos outros.
E quando Eva teve o seu primeiro filho, sem anestesia, entendeu as palavras divinas: "Com dor terás filhos." Assim, o sofrimento se tornou comum a todos, como consequência do pecado. Como diz Salomão, em Eclesiastes 9:2 e 3 "Tudo sucede igualmente a todos: o mesmo sucede ao justo e ao perverso; ao bom, ao puro e ao impuro; assim ao que sacrifica como ao que não sacrifica; ao bom como ao pecador; ao que jura como ao que teme o juramento. Este é o mal que há em tudo quanto se faz debaixo do sol; a todos sucede o mesmo."

2. Em segundo lugar, temos o sofrimento causado por ESCOLHAS ERRADAS que fazemos na vida. Deus nos concedeu livre-arbítrio, mas essa liberdade acarreta responsabilidade, conforme diz o apóstolo Paulo: "Aquilo que o homem semear, isso também ceifará." Gálatas 6:7.
Por exemplo: Se o homem transgredir as leis sociais, ele poderá perder a liberdade. Se transgredir as leis das relações humanas, colherá inimizades. Se transgredir as leis de trânsito, poderá colher um acidente. SE TRANSGREDIR AS LEIS DE SAÚDE, COLHERÁ ENFERMIDADES. Se desafiar as leis físicas, como a lei da gravidade, irá cair ao solo e, dependendo da altura, poderá perder a vida. É interessante notar que Satanás tentou Jesus a transgredir exatamente essa lei. Levou-O ao pináculo do Templo e disse-Lhe: "Pula daqui! Deus irá Te proteger!" Mas Jesus Se recusou a fazer tal exibicionismo, deixando-nos essa preciosa lição. Deus não pode anular as leis que Ele próprio estabeleceu, porque senão o Universo viraria uma anarquia.
A lei da causalidade é uma das leis mais inflexíveis que existe. Plantou, colhe. A toda causa segue-se uma consequência. No entanto, os homens muitas vezes acionam as causas e esperam que Deus remova as consequências... Mas Deus dificilmente faz isso.
O homem pode até aceitar sofrer como consequência de seus erros. O que ele não admite é pagar pelos erros alheios. Você pode estar no seu direito e ser atropelado por um bêbado!!! É que nós fazemos parte de uma sociedade em que os erros de uns poucos, podem fazer toda a sociedade sofrer. Se o governo toma uma decisão errada, toda a Nação pode sofrer. Foram poucos os que decidiram a Segunda Guerra Mundial. E milhões de inocentes, que não escolheram a guerra sofreram os seus efeitos.
A vida moderna se tornou tão entrelaçada, tão interdependente, que o erro de uma pessoa-chave nessa sociedade, pode afetar milhares de pessoas. E o cristão, certamente, não está isento desse tipo de sofrimento.

3. Sofrimento causado por CATÁSTROFES NATURAIS. Jesus disse que antes do fim haveria fomes e terremotos em vários lugares (São Mateus 24:7). Os terremotos, furacões, raios, inundações, atingem uma pessoa sem lhe perguntar se é boa ou má. Não é verdade que atingem os maus e poupam os bons. Como também não é verdade que as pessoas atingidas estejam sendo castigadas.
Um crente, ao sair da igreja após o culto, foi atingido mortalmente por um raio. Alguns irmãos, muito piedosos, julgaram que ele devia ter algum pecado oculto em sua vida, já que o castigo veio de cima, de modo fulminante. Concluíram que isso só podia ser uma manifestação da ira divina.
Mas Deus não está punindo o pecado, agora. Um terremoto na Índia derrubou o prédio de uma missão e deixou em pé, ali perto, um prostíbulo. Na Birmânia, entretanto, um terremoto destruiu toda uma localidade, deixando intacta apenas a casa de um cristão. E isso foi considerado um ato especial da Providência. 6
Interessante: quando um cristão é poupado, numa catástrofe ou acidente, dizemos que houve um milagre divino. Mas quando um descrente é poupado, dizemos que "bicho ruim não morre!"
Se fosse possível provar que o cristão é sempre poupado, nos sofrimentos e calamidades, as multidões afluiriam às igrejas e aceitariam o cristianismo e sua proteção como se estivessem obtendo uma apólice de seguro. Com isso o cristianismo se degradaria, e também o cristão, pois ele não teria a disciplina necessária para viver num Universo regido por leis imparciais.
A Bíblia indica que Satanás tem poder para causar catástrofes, operando através dos elementos da Natureza. A experiência de Jó, que analisaremos no tópico seguinte, deixa claro que Satanás foi quem fez se levantar um "grande vento da banda do deserto, e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre eles (os filhos de Jó) e morreram". Jó 1:19.
Por trás dos violentos furacões, tempestades, inundações, maremotos, terremotos, está a mão de Satanás. E à medida que nos aproximamos do final da história deste mundo, podemos esperar que essas calamidades não apenas cresçam de intensidade, mas que também se tornem mais frequentes. Diz o Apocalipse: "Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta." Quanto menos tempo ele tem, maior a sua ira. E quanto mais ira, mais destruição.
É interessante observar, por exemplo, o aumento na frequência dos terremotos. Veja a tabela seguinte:


4. Sofrimento POR CAUSA DA JUSTIÇA. Jesus disse: "Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça." São Mateus 5:10.
O caso de Jó é uma boa ilustração desse facto. É o pior caso de sofrimento mencionado na Bíblia. E porque sofreu Jó? Por causa de algum pecado? Isso era o que os seus três amigos pensavam. Foram vê-lo a fim de consolá-lo e acabaram acusando-o. Diz o papa João Paulo II: "Dir-se-ia que os velhos amigos de Jó querem não só convencê-lo da justeza moral do mal, mas, de algum modo, procuram defender, aos seus próprios olhos, o sentido moral do sofrimento. Este, a seu ver, pode ter sentido somente como pena pelo pecado; e portanto, exclusivamente no plano da justiça de Deus, que paga o bem com o bem e o mal com o mal." 7
No entanto, a história de Jó revela claramente que por trás de todo o seu sofrimento estava a atuação de Satanás, arrebatando-lhe as posses, os filhos e a saúde. Se Deus lho permitisse, ele teria também tirado a vida de Jó.
Satanás dissera a Deus que Jó só O servia por interesse. Deus, porém, tinha certeza de que Jó O servia por amor. Como Satanás duvidasse, Deus lhe permitiu afligir a Jó. A provação foi dura, mas valeu. Satanás foi derrotado.
E o melhor veio depois. Quando Jó orava pelos seus amigos, Deus mudou-lhe a sua sorte e deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra. E outros dez filhos. O Sofrimento dos Mártires pode pertencer a este grupo, como também o do homem cego, que foi curado, conforme se acha registado em São João 9:3: "Para que se manifestem nele as obras de Deus".
Nós estamos no meio desse fogo cruzado entre Cristo e Satanás, e podemos ficar feridos. É o risco que todos nós corremos, desde que o homem (Adão e Eva) entregou a Satanás, de presente, o domínio da Terra.

5. Sofrimento PARA DISCIPLINAR. Aqui nós temos mais uma demonstração do amor de Deus: "O Senhor corrige a quem ama, e açoita a todo filho a quem recebe... pois, que filho há a quem o pai não corrige?" Hebreus 12:6-8. "Eu repreendo e disciplino a quantos amo." Apocalipse 3:19. Nascemos com tendência para o pecado, e de vez em quando precisamos de uma reprimenda, a qual, às vezes, toma a forma de sofrimento. A experiência de Saulo, na estrada de Damasco, seguida de três dias de jejum e cegueira, e talvez de visão deficiente para o resto da vida, poderão também pertencer a este grupo.

6. Sofrimento relacionado com PECADOS GRAVES E ESPECÍFICOS. Alguns exemplos, notadamente no Velho Testamento, não parecem deixar dúvida de que a transgressão foi punida exemplarmente por Deus. Nadab e Abiú eram sacerdotes, trouxeram fogo estranho perante Deus e foram mortos. Uzá tocou a arca, desobedecendo à proibição divina, e foi fulminado. Davi mandou matar Urias para apossar-se de sua esposa, e então Deus, através do profeta Natã, mandou dizer-lhe que sobreviriam problemas de todo o tipo sobre ele, o seu reino, o seu povo, e sobre o bebé, o qual morreria. E tudo aconteceu conforme predito. (Ver II Samuel 12:7-19)
Já no Novo Testamento, temos os exemplos de Ananias e Safira, os quais pecaram contra o Espírito Santo e foram punidos exemplarmente. Herodes foi ferido por um anjo do Senhor, conforme relatado em Atos 12:23.
Mas esse tipo de sofrimento pode ser considerado raro, e talvez inexistente na era moderna. Através da História Deus já demonstrou claramente a Sua repulsa pelo pecado, e não precisa ficar multiplicando exemplos. Portanto, repetimos que não se deve dizer que Deus está punindo alguém que esteja sofrendo, porque ninguém sabe em que tipo de sofrimento está envolvido. Isso será sempre um teste para a sua fé.

PORQUÊ, SENHOR?

Muitas pessoas boas, tementes a Deus, têm a vida repentinamente abreviada ou mutilada, através de uma catástrofe, acidente ou doença, deixando no ar a pergunta: "Porquê, Senhor? Era um bom cristão, estava fazendo a Tua obra, e ainda tinha a vida pela frente. Por que ele, e não outro?"
Deus dificilmente responde a esta pergunta. Este é um mistério para o qual só teremos uma resposta definitiva na eternidade. Mas às vezes a vida nos dá algumas indicações. Vejamos a experiência de Fred Adams, missionário americano no México. Ele estava um dia trabalhando na construção de um galpão que abrigaria a marcenaria da escola, quando o telhado veio abaixo lançando-o no piso de concreto. A queda quebrou-lhe o pescoço deixando-o paralítico.
Até aquele instante a vida lhe sorrira. Estava casado com Diana havia seis anos e ambos desfrutavam a alegria de criar o seu filhinho de um ano e meio de idade. Havia aceite o convite para trabalhar como professor-missionário no México e se dedicava de coração a essa tarefa. Mas em apenas cinco segundos sua vida mudara completamente. A longa viagem de avião para o Centro Médico, Adventista, da Universidade de Loma Linda na Califórnia, foi seguida de uma cirurgia e cinco meses de reabilitação intensiva. Teria de encarar o futuro, agora, numa cadeira de rodas. Não havia qualquer esperança de voltar a andar, e nem mesmo de poder usar os seus dedos novamente.
Inúmeras vezes foi confrontado com a pergunta: "Porquê, Senhor? Estas coisas acontecem a outras pessoas... Mas a um missionário fazendo o trabalho de Deus? Oh, Deus, eu não consigo entender!" Entretanto, alguns meses após ter recebido alta do hospital, ocorreu algo que o ajudou a entender a situação um pouquinho melhor. Seu filhinho Daniel havia estado doente o dia todo, e não conseguia segurar qualquer alimento ou líquidos no estômago. À tardinha ele se achava debilitado e com muita sede. O pediatra, porém, havia recomendado que os pais esperassem duas horas após Daniel ter tentado tomar algum líquido. Então ele poderia tomar duas colheres de água. Se não a devolvesse, poderia receber quantidades crescentes a cada meia hora.
Às sete horas da noite o garoto estava com muita sede e pedia algo para beber. Os pais sentiam agonia por verem o menino choramingar pedindo água e terem de negá-la. Como pais amorosos, eles queriam explicar-lhe a situação: ele receberia a água mais tarde. Eles o estavam fazendo esperar porque esse era o melhor caminho. Se lhe dessem água agora, isso iria lhe fazer mais mal do que bem. Mas Daniel era pequeno demais para entender o problema.
Durante esses longos e agonizantes momentos, Fred pensou em sua própria situação. Todos os dias ele suplicava a Deus que o curasse, devolvendo-lhe o corpo sadio que sempre tivera. De repente, ele teve a percepção de que Deus estava sofrendo com ele e com as demais pessoas que sofrem. Quase podia sentir os Seus amorosos braços circundando-o e apertando-o contra o Seu peito. Parecia ver grossas lágrimas escorrendo-Lhe pela face, enquanto dizia: "Fred, Eu o amo muito mais do que você pode compreender. Eu tenho poder, e posso curá-lo, mas este ainda não é o momento certo. Meu querido filho, Eu sinto muito ter de permitir que isto lhe aconteça. Se houvesse uma maneira melhor, Eu o pouparia desse sofrimento. Não tenha dúvida quanto a isto! Mas preciso deixar que Satanás demonstre as suas obras diante do Universo. Todos devem testemunhar os resultados da sua administração na Terra. Você, portanto, está cumprindo o mais elevado propósito de sua existência: defender a Minha bondade perante o Universo! Quando os demais seres criados virem como o pecado destrói o que é belo, causando apenas sofrimento e morte, ninguém jamais irá questionar a Minha soberania. O seu sofrimento, Fred, poupará bilhões de criaturas de passarem pela mesma agonia. Em breve Satanás e seus seguidores serão eternamente destruídos, e então tudo voltará a ser como antes: felicidade completa. Apenas tenha um pouco de paciência até que tudo termine!" 8
Naquela mesma noite o pequeno Daniel pôde saciar a sua sede, e na manhã seguinte estava bem melhor. E da mesma maneira como Daniel foi curado, Deus pode também curar a todo aquele que sofre. Mas se Ele não o fizer agora, fará quando Jesus voltar. É só uma questão de tempo! Logo Jesus voltará e porá fim à dor, conforme a promessa feita em Apocalipse 21:3 e 4 - "Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda a lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas já passaram."

PORTANTO,  AGUENTE  FIRME!  VALE  A  PENA  ESPERAR!

Referências
1. Yancey, Philip. Deus Sabe Que Sofremos. Editora Vida, págs. 8-ll.
2. Hegstad, Roland R. Who Causes Man's Suffering? Review and Herald Publishing Association, Hagerstown, MD, EUA, 1965.
3. White, Ellen G. O Desejado de Todas as Nações. Casa Publicadora Brasileira, 1990, pág. 471.
4. Comentário Bíblico Adventista Del Septimo Dia, Pacific Press Publishing Association, Mountain View, California, EUA, vol. 2, pág. 959.
5. Endruveit, Wilson H. Movimento Carismático. Instituto Adventista de Ensino, 1976, pág. 55.
6. Jones, E. Stanley. Cristo e o Sofrimento Humano. Editora Vida, 1991, págs. 18 e 19.
7. João Paulo II. O Sentido Cristão do Sofrimento Humano. Editora Vozes, Petrópolis, 1984, pág. 16.
8. Why? Fred Adams. Adventist Review, March 22, 1990, págs. 12 e 13.

"Prezado leitor: Se você gostou desta leitura, recomende-a a outros. Lembre-se de que 'livro é presente de amigo'."
Rubem M. Scheffel, Pastor e Escritor, Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, São Paulo