quarta-feira, 2 de setembro de 2015



A PRESENÇA e o SIGNIFICADO do HUMOR na BÍBLIA

Tem-se por vezes difundido a ideia errada, acerca da relação entre Deus, a fé e o humor. A verdade é que existe entre os três um laço indissolúvel e benéfico para a experiência pessoal e para a forma como podemos compreender Deus.
Na verdade, a vivência cristã nunca poderá estar conotada à tristeza, mas sim à alegria e à felicidade. Porque Cristo nos libertou do poder do pecado e nos dá a possibilidade de experimentarmos uma transformação na nossa vida, por si só já é motivo de alegria. Apesar das dificuldades do início do Cristianismo, os primeiros cristãos eram pessoas alegres (Actos 2:46; 5:41; 16:23-25), pois a "alegria é o cunho particular do cristão"1. Devido à importância da alegria, um certo autor cristão chega até a dizer: "Haverá algum critério para avaliar a maturidade, a autenticidade, a saúde da fé? Sim, o espírito de alegria e regozijo que envolve a experiência religiosa"2.
Desta alegria, faz também parte o humor, como componente da vida e experiência de todo aquele que crê em Deus.

Definindo o Humor

A nossa palavra humor, vem do latim humor, que significa, "água" ou "humidade" e faz referência a toda a substância líquida ou semi-líquida contida num corpo organizado e principalmente nos organismos3.
A palavra foi também usada para ilustrar os quatro humores cardinais que eram o sanguíneo, o fleumático, o colérico e o melancólico. As misturas variadas destes humores, determinavam nas pessoas os seus temperamentos, as qualidades mentais e físicas e as disposições. A pessoa ideal era a que tinha uma mistura proporcional dos quatro. Atribui-se a Hipócrates (460 a 370 D.C.) a menção destes humores"4. Hoje falamos de hormonas e outras substâncias bioquímicas em vez de humores.
A palavra humor, veio também a exprimir tudo o que podia caracterizar uma atitude interior, uma forma de conceber a existência. Trata-se num certo sentido dum controle dum reflexo humano face a tudo o que nos possa acontecer"5.
Neste sentido podemos definir o humor como a capacidade de se elevar para lá das circunstâncias e sorrir. Deste ponto de vista, o humor está intimamente ligado à mensagem da Bíblia.
Já o Apóstolo João tinha definido a fé como um triunfo sobre as circunstâncias da vida "pois todo o que é nascido de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé" (1 João 5:4).
O humor é por isso uma espécie de antecipação da grande esperança cristã: a reposição da verdade, da justiça; a eliminação completa do mal e do sofrimento; o desaparecer das circunstâncias limitativas da felicidade; a reposição da perfeita alegria de viver, numa relação renovada e equilibrada entre Deus, nós e o meio que nos rodeia - que sucederá após a segunda vinda de Cristo (Apocalipse 21:4; 22:1-6).
Por outro lado, como veremos, o humor bíblico, ajuda-nos a colocar as coisas no seu devido lugar, permite-nos fazer a distinção entre o que é provisório e o que é eterno. Ele pode expressar-se por diferentes formas: ironia, sarcasmo, imitação, brincadeira, paradoxo...
Vejamos então alguns episódios de humor na Bíblia.

Relatos Humorísticos no Velho Testamento

Várias passagens do Velho Testamento dão conta do humor de Deus,
até mesmo para com os Seus inimigos

(Salmos 2:1-4; 37:12-13; 59:8; Provérbios 8:30)



A- Um dos relatos em que o humor está presente é o episódio da Torre de Babel relatado em Génesis 11:1-9.
Existe aqui um humor irónico. A humanidade procurava então "fazer-se" e atingir os céus, para ver Deus. Mas eis que é Deus que desce para ver o que fazem os seres humanos, e ver o produto insignificante da sua realização... Ora este ser humano que está prestes a ultrapassar a sua fronteira entre o céu e a terra, acaba por ser espalhado pela face da terra. De um intento que era quase unânime, resulta uma discórdia pela multiplicidade da linguagem.
O humor, está aqui na contradição entre o que se pretende e o que se obtém. O Homem que quer ser como Deus, elevar-se até Deus, não consegue afinal de contas resolver os seus próprios diferendos linguísticos e acaba por cumprir aquilo que era plano de Deus: povoar a Terra. A soberania e direcção de Deus sobre o Universo sai assim realçada mesmo apesar das tentativas de destronarem Deus.

B- Em 1 Reis capítulo 18, temos outro episódio humorístico na confrontação entre a idolatria e o culto ao verdadeiro Deus. Elias usa o humor com recurso à ironia e à sátira para realçar a insensatez que é procurar apoio em deuses que mais não são que invenção humana. (pequeno filme no final)

C- Pessoalmente o relato mais humorístico da Bíblia, para mim, é o do livro de Jonas. Alphonse Maillot, pastor Protestante, disse que este livro "é a autêntica interpelação que o Deus autêntico dirige a cada um de nós"6. Neste livro se retratam alguns aspectos dum profeta de Deus, Jonas. Uma pessoa depressiva, taciturna, egoísta, a quem Deus quer fazer compreender a importância da salvação do ser humano (não importando a sua raça, religião ou comportamento social).
Jonas começa por fugir de Deus e da missão que Ele lhe confere: anunciar a destruição de Nínive. Surge uma tempestade e Jonas que queria passar despercebido é obrigado a dizer quem é, que mensagem tem, e porque acontece tal tempestade (devido à sua fuga). Engraçado, enquanto Jonas é lançado ao mar (por sugestão sua), já não consegue ver que com a sua mensagem fez com que esta tripulação adorasse a Deus (Jonas 1:16)
Outros detalhes trazem o humor à história de Jonas e de Nínive. Por exemplo, as intervenções dos animais para fazerem Jonas refletir. Primeiro é um grande peixe que o engole e que lhe permite fazer uma oração na qual Jonas reconhece que do Senhor vem a salvação (Jonas 2:9). Depois é um pequeno verme que faz secar a árvore em que o teimoso Jonas esperava ver descer o fogo do céu para consumir Nínive e os seus habitantes (Jonas 4:7) e que leva ao grande diálogo do livro onde Deus, duma forma humorística, faz comparações entre o desgosto de Jonas por uma árvore que lhe dava sombra, e o amor de Deus pelos habitantes de Nínive (Jonas 4).
Em segundo lugar é o efeito da graça de Deus. Os Ninivitas acolhem a mensagem de Jonas e arrependem-se confiando na misericórdia e graça de Deus, e vivem. Jonas deseja morrer porque essa graça poupou a vida dos Ninivitas (Jonas 3:10-4:3). Através do humor, Deus dirige-se a Jonas e leva-o a compreender a Sua pedagogia. Deus não tem prazer na destruição, mas na salvação (Ezequiel 18:32) e leva Jonas a olhar para lá do seu pequeno mundo, para uma realidade mais abrangente que são as necessidades reais daqueles que o rodeiam.

      

O Humor no Novo Testamento

O Evangelho é a boa nova da Salvação de Deus e como tal Jesus e a Sua mensagem são sinónimos da alegria. Podemos até dizer que "Cristo chegou a um mundo enfastiado e vazio e penetrou nele pela porta esquecida da alegria"7. Na verdade a mensagem de Jesus transmite alegria (Lucas 2:10; 6:21), e como as crianças e as pessoas em geral se sentiam bem na Sua presença, devemos concluir que Ele era alguém simpático, alegre, humorado. É natural pois que o humor encontre também eco nas Suas palavras. Mateus 7:3 transmite-nos uma ponta do humor de Jesus: "Porque reparas no cisco que está no olho do teu irmão, mas não percebes a trave que está no teu"?
Nesta afirmação, Jesus caricatura aqui a tendência humana de minimizarmos os nossos defeitos e de maximizarmos os dos outros. Usando o absurdo, Cristo chama-nos a uma tomada de consciência dos nossos erros, que podem ser até maiores que os erros alheios. As faltas dos outros não podem esconder as nossas, nem nos impedirem de ver o quanto precisamos de progredir na nossa esfera pessoal.
Mateus 23:23-24 é outro exemplo do humor de Jesus. Aqui Jesus coloca em evidência o zelo extremoso dos fariseus para certos aspectos que eles consideravam essenciais (donde a expressão coar um mosquito), mas que no fim de contas desprezavam o mais importante da revelação de Deus: a lei, a justiça, a misericórdia e a fé. A figura de engolir o camelo, sugere o quanto estes contemporâneos de Jesus estavam longe do ideal de Deus para a humanidade. Pode-se ser muito exigente em certos aspectos que no fundo são insignificantes, e ignorar completamente o que é essencial na experiência religiosa.

       

(A jumenta de Balaão fala - Números 22)    (David e o gigante Golias - I Samuel 17)

CONCLUSÃO

Há muitas outras passagens da Bíblia em que o humor está presente, mas que por motivo de espaço não podemos incluir aqui. Mesmo este estudo é apenas uma pequena contribuição para algo que ressalta da mensagem bíblica. Deus dirige-se a cada um de nós de muitas maneiras e o humor é uma delas. Recorrendo a esta forma de expressão podemos compreender que se Deus ri e usa o humor, então Ele é alguém acessível. Através do humor, no entanto Deus continua a mostrar-nos como Ele deseja que sejamos conscientes dos nossos erros, da nossa condição de criaturas, das nossas tentativas frustradas de O substituirmos na nossa vida. Mas diz-nos também que não há mal que não tenha solução, e que se desejarmos, Ele pode transformar a nossa vida.
O humor ajuda-nos a viver acima das situações, porque como cristãos sabemos em última análise que Deus dirige todas as coisas e que tudo Ele fará para nosso bem (Romanos 8:28). Finalmente o sentido de humor é já uma antecipação daquilo que Deus realizará no final dos tempos: a restauração de todas as coisas, a erradicação do mal e a instauração do bem e da felicidade em todo o Universo.

Anotações:
1 Cf. Atilano Alaíz, Cristãos Adultos, Lisboa: Edições S. Paulo, 1994, pág. 75; 2 Id., pág. 71; 3 Cf. Dictionnaire Encyclopédique Quillet,: Éditions Quillet, 1990, pág. 3361; 4 Cf. The New Encyclopaedia Brittanica 1992, vol. 6, pág. 145. Ver também Tim la Haye, Temperamentos Transformados, S. Paulo: Editor Mundo Cristão, 1998, pág. 7; 5 Cf. Roland Fisher; "L'Humour dans la Bible", in Servir, nº 3, 1995, pág. 52; 6 Cf. Alphonse Maillot, Jonas, Paris: Delachaux et Niestlé, 1977, pág.21; 7 Cf. José Luíz Martin Descalzo, Vida e Mistério de Jesus de Nazaré, Cucujães: Editorial Missões, 1994, vol. II pág. 490.

Artur Machado, mestre em Teologia, é o Secretário da UPASD (União Portuguesa dos Adventistas do 7º Dia) em Portugal. Texto da Revista Sinais dos Tempos, 1º Trimestre, 2002.


Um Pequeno Presente de um Grande Coração
(O Humorzinho Tão Amoroso de um Querido Menino! EE)

     Fui trabalhar nas Ilhas Andaman, na Índia, como estudante missionário. Não sabia quem me buscaria no porto, onde moraria, ou o que iria fazer. Mesmo assim, segui em frente, sabendo que o Senhor tomaria as providências necessárias.
     No navio, conheci um senhor que, além de ser adventista, também era o cozinheiro-chefe do navio. Ele me convidou a ir para sua casa e, de bom grado, aceitei. Sua família, constituída de sete pessoas, concordou alegremente que eu morasse com eles.
     Eles tinham apenas um filho, de sete anos de idade, ao qual chamavam carinhosamente de "Sunny." Esse menino era meu guia na pequena cidade; ele me mostrou o caminho para as lojas, restaurante e residências dos membros da igreja.
     Por seis semanas, estive ocupado dirigindo a Escola Cristã de Férias e os cultos da igreja, pois não havia pastor naquela congregação. O tempo passou rapidamente e logo chegou a hora de voltar para o Spicer Memorial College, em Pune, Índia, para continuar meus estudos.
     O fato de ficarmos juntos por mais de um mês, ensinando novas canções, contando histórias e ajudando-os a apresentar encenações baseadas na Bíblia para a Escola Sabatina e para os cultos, criou um elo muito forte entre nós.
     O momento de fazer a última refeição no lar da querida família que tanto me ajudou, chegou muito rápido. Sunny sentou-se ao meu lado à mesa, enquanto a mãe servia. Geralmente, ele reclamava da comida para sua mãe, uma mulher muito paciente. Ela não se importava, pois ele era seu único filho. Nessa refeição, entretanto, ele sentou-se ao meu lado, comeu sozinho o que a mãe lhe serviu e sem reclamar uma só vez. Após a refeição, reunimo-nos para orar e o pai da família disse:
     - Isso é para você - entregando-me uma nota de 50 rúpias (cerca de um dólar americano).
     Ao lhe perguntar por que estava fazendo isso, ele me disse alegremente o que havia acontecido antes da refeição, enquanto eu arrumava a mala para ir embora.
     Sunny foi até seu pai e perguntou: "Pai, o que o senhor me dá se eu comer toda minha comida sozinho, sem reclamar para minha mãe?" O pai, feliz com seu filho, disse: "Escolha o que você quiser." Sunny pediu 50 rúpias. O trato foi feito e ele comeu tudo. O pai estava impressionado com o menino e, quando lhe ia dar o dinheiro, Sunny disse: "Por favor, dê ao meu professor da Escola Cristã de Férias." O valor era pequeno, mas para mim, muito sagrado.

Enquanto viajava sozinho, lembrei-me de outro Filho que foi até Seu Pai e perguntou: "O que o Senhor me dará se Eu tomar esse cálice?" E o Pai pediu gentilmente ao Filho para escolher. O Filho escolheu assumir a minha e a sua pena de morte. Ele disse ao Pai: "Por favor, dê vida eterna àquele professor da Escola Cristã de Férias e a todos os que crerem em Mim."

Jesin Israel Kollabathula é estudante de pós-graduação no Instituto Internacional Adventista de Estudos Avançados (AIIAS), em Silang, Cavite, Filipinas. Texto apresentado na Revista Adventist World Janeiro 2009.


Pode ler na Bíblia sobre a história verdadeira deste filme, de 1 Reis 16:29 até ao fim do capítulo 19. E depois, o final com o seu sucessor Eliseu, em 2 Reis 2. Impressionante a subida de Elias para o Céu num carro de fogo, onde já está a viver com Deus e com todas as maravilhas que lá existem!
A Bíblia, o Livro de Deus, fala de mais 2 homens que também já vivem no Céu: Enoque e Moisés. "As únicas pessoas mencionadas nas Escrituras como tendo sido arrebatadas ao Céu em vida (não por ocasião da morte como ensinam alguns) foram Enoque (Génesis 5:24; Hebreus 11:5), Moisés (Deuteronómio 34:6 e Judas 9 – antes de ir para o céu, Moisés foi ressuscitado) e Elias (2 Reis 2:9-12)." Leandro Quadros - Na Mira da Verdade, Links 1R.