domingo, 12 de agosto de 2012

"NO MEIO ESTÁ A VIRTUDE"...
UMA ANÁLISE. A MELHOR SOLUÇÃO.



MÉTODO, PRECISÃO E DISCIPLINA

Porto, fins dos anos 50. O Senhor Antunes era guarda-livros numa importante firma de import/export na Rua dos Clérigos.
Formado pela Escola Comercial Oliveira Martins, era homem de uma só palavra.
Método, precisão e disciplina sempre foram as bases que nortearam todo o seu comportamento. No decorrer dos anos foi granjeando admiração e simpatia na baixa comercial do velho burgo.
Em casa, os horários eram cumpridos à risca. Sua extremosa esposa, Dona Filomena, excelente dona de casa, mantinha uma ordem discreta e serena, capaz de criar um ambiente onde dava gosto viver.
O andar que habitavam, alugado, situava-se na Rua de Cedofeita, velha artéria de penetração, suficientemente longe e suficientemente perto do centro (como costumava dizer o Senhor Antunes). Sem luxos, tinha já no entanto aqueles electrodomésticos recém-aparecidos, entre os quais a televisão, que não deixavam, por vezes, de provocar certos comentários invejosos dos vizinhos com menos posses mas não menos ambições.
À noite, logo após o Telejornal das nove e meia, seguido com atenção e respeito - as palavras do venerando Chefe de Estado e os actos dos Ministros transmitiam aquela sensação de estabilidade e progresso tão desejados a uma noite sem insónias. António, 14 anos, filho do casal, despedia-se dos pais e dirigia-se para o seu quarto. ("Menino com educação esmerada e obediente!", comentava a televizinha daquela noite, perante o orgulho disfarçado de Dona Filomena.)

Mas, nessa noite, o inesperado acontece e a calma rotineira é alterada. O telefone toca. Era o Senhor Afonso Menezes Barbosa, patrão do Senhor Antunes. A sua voz transmitia exaltação. Não é que, ao passar ao princípio da noite pelo escritório, o Senhor Menezes Barbosa deparara com uma importante carta esquecida pelo João, o paquete da firma? Quando este saiu para os correios da Praça da Batalha, não incluíra esta carta no maço a despachar.
Sentindo-se responsável por tão grave esquecimento, o Senhor Antunes logo se prontificou a reparar o acto, comprometendo-se a usar os meios necessários para que a missiva chegasse no dia seguinte ao seu destino. Se o telefone transmitisse imagem, o Senhor Menezes Barbosa veria o seu leal empregado a empalidecer quando lhe disse a quem a carta era dirigida: ao agente da firma em Lisboa.
Logo se recompondo, o Senhor Antunes retorquiu: "Esteja o Senhor Barbosa tranquilo. Amanhã de manhã o meu filho irá no primeiro comboio entregar a carta em mão."

A excitação reinou pela primeira vez em anos naquela casa. O António nunca viajara sozinho. As recomendações foram mais do que muitas: "Chegado à estação de S. Bento compras um bilhete de segunda classe para Lisboa/Rossio. Pede do lado direito para não apanhares sol. Ao chegares a Lisboa, o escritório do agente encontra-se ainda encerrado para almoço; tens um café mesmo em frente da estação. Sentas-te, encomendas um bife e uma imperial. Ao terminares o almoço, está praticamente na hora de abertura. Atravessas a Praça do Rossio, passas pela Praça da Figueira, entras na Rua dos Fanqueiros e diriges-te ao nº 14 - 2º andar. Apresentas os meus cumprimentos ao Senhor Martins Ferreira, (etc., etc., etc.)." Toda esta catadupa de informações, e outra tanta que se torna fastidioso relatar em pormenor, foi cuidadosamente retida por este filho, habituado a uma obediência cega e respeitosa às palavras do seu progenitor.

Às 7:45 horas em ponto lá se encontrava o António em S. Bento a comprar uma segunda para Lisboa/Rossio, do lado da sombra para que o sol não lhe fizesse mal à cabeça. A viagem decorre com normalidade. Apeado no Rossio, atravessa a rua, senta-se no café e encomenda um bife e uma imperial. O empregado, delicado e solícito, informa: "Só temos cerveja em garrafa."
Serenamente, António levanta-se, sai do café, pergunta ao primeiro transeunte onde fica a estação dos correios mais próxima. Após informado dirige os seus passos para os Restauradores, entra na Estação dos Correios, pede um boletim de telegrama e redige com caligrafia segura e cuidada, como tão bem lhe é ensinado na Escola Comercial Oliveira Martins, onde é brilhante aluno:
"Pai - só servem cerveja em garrafa. Que devo fazer?" - João Miguel Cunha

(Repare: muito rigor e firmeza, mas não deixava de recomendar bebida alcoólica ao filho!... E. E.)


O TITANIC DO OCIDENTE

Nos anos 70, quando Ana Salazar lançou a sua linha de roupa preta para senhora, achei que iria ser um tremendo fiasco.
Quem é que, num país do Sul, quereria andar todo vestido de preto? Na altura eu acabara de concluir o curso de Arquitectura na Escola de Belas-Artes, ia com frequência a Paris, fascinava-me com os impressionistas – Renoir, Van Gogh, Cézanne, Monet, Modigliani, Gauguin – e não podia perceber como é que se renegava a cor no vestuário feminino. Não era mais bonito ver as mulheres, sobretudo as jovens, vestidas com roupa alegre de cores garridas do que enfiadas em trajes de luto?
Ontem, 40 anos depois do aparecimento de Ana Salazar, passava eu por uma loja de roupa, olhei distraidamente para dentro e o que vi? Manequins vestidos integralmente de negro. E numa loja de homem que havia em frente, o que dominava a montra? Fatos pretos.
Muito perto da sede deste jornal existe uma loja ‘gótica’. Assim, pelas redondezas, circulam constantemente jovens vestidos de negro – que além disso usam em geral piercings e tatuagens, e têm esotéricos cortes de cabelo, a imitar os índios apaches ou os cabeças-rapadas. Os piercings podem ser na língua, nos lábios, nas orelhas, no umbigo ou até no sexo. Os rapazes e raparigas assim ataviados parecem caricaturas saídas de tribos primitivas.

A nossa civilização atingiu uma tal sofisticação que começou a ser difícil avançar mais – e, aí, entrou-se no retrocesso ou no caminho do absurdo. Há quem compre roupa rota nas lojas de roupa nova. Roupa rota que custa mais caro do que a nova. Cansámo-nos do luxo – e o luxo máximo tornou-se a ‘negação do luxo’. Mas uma negação que tem de ser notória: os jovens não compram jeans usados, compram jeans novos a imitar os usados mas percebendo-se que são novos.
O vestuário negro e desengraçado é um dos sinais anunciadores da crise que atinge o Ocidente.
Rejeita-se a cor, que reflecte vitalidade e alegria. As únicas ‘cores’ que se aceitam não são cores: são o preto, o cinzento e o branco. As cores desapareceram. E na decoração sucede a mesma coisa: entra-se numa casa e é tudo branco. Ou é tudo preto e cinzento. O uso das cores vivas passou a ser ‘piroso’. Ao que chegámos!
Falo da cor porque é uma realidade muito visível de uma mudança inexorável que está em curso: a decadência da nossa civilização. Uma civilização que teve uma ascensão, um apogeu e entrou em declínio.

Um declínio que é patente em todas as áreas: a desagregação da família, a deterioração da autoridade, o aumento da indisciplina, os desvios sexuais, o crescimento do consumo de drogas, a proliferação de gangues suburbanos, a perda de valores e referências positivas, o abaixamento cultural, etc.

Comecemos por aqui, pela cultura. Já não falo da ‘cultura’ difundida pelas televisões – e que tem os seus exemplos mais acabados em programas tipo Big Brother ou Casa dos Segredos. São protótipos abjectos, que puxam a sociedade para baixo.
Mas a própria cultura ‘respeitada’ (ou mesmo venerada) pelos críticos atinge mínimos inconcebíveis. Depois da grande pintura clássica renascentista como conceber um quadro todo negro? E se ainda fosse só um… Mas em todos os museus de arte contemporânea se veem exemplares desses.
E, ao lado de uma escultura de Leonardo da Vinci ou mesmo de Rodin, o que dizer da ‘instalação’ de Cabrita Reis à porta dos Jerónimos constituída por pneus velhos pendurados numa armação de ferro?
E como classificar um filme sem imagens, como o de João César Monteiro, ao lado de uma obra de Orson Welles ou Visconti?
E alguém se ocupou a comparar uma sinfonia de Beethoven com os novos batuques que nos massacram os ouvidos na rádio?

Mas, repito: nada disto são casos isolados – são todos sintomas do mesmo mal e todos concorrem no mesmo sentido. Todos fazem parte do mesmo puzzle, que tem um nome: decadência.
O quadro de valores e de referências em que nos movemos mudou radicalmente.
A família, por exemplo, deixou de ser uma instituição a preservar. A percentagem de divórcios já iguala a de casamentos. Só que isto, aplaudido por alguns, é um drama tremendo para a esmagadora maioria.

A família é o primeiro veículo de integração de um indivíduo na sociedade. E o primeiro apoio de que um indivíduo dispõe em situações adversas, quer ao nível material quer no plano afectivo. A família é uma rede – que ampara o indivíduo quando cai, como ampara o trapezista quando falha o trapézio. A destruição da família entrega as pessoas a si próprias, ainda por cima num ambiente muito competitivo como é a selva urbana em que se tornaram as grandes cidades – e daí as depressões, as exclusões, os suicídios, que aumentam regularmente.

A família também é essencial para o crescimento equilibrado das crianças. É a família que lhes oferece um ambiente estável e lhes transmite segurança. Uma sociedade de famílias desestruturadas começa a produzir crianças problemáticas.
A legalização dos casamentos gay, com a aceitação explícita de casais estéreis, foi mais um sinal do esvaziamento da ideia de ‘família’ nos tempos que correm.
E os problemas das famílias prolongam-se nas escolas, sendo responsáveis por fenómenos como a indisciplina nos estabelecimentos de ensino, que se tornou uma praga. Assistimos a alunos a agredirem professores em plena sala de aula – o que não devia sequer poder passar pela cabeça dos alunos, quanto mais poder acontecer.

E a seguir vêm as drogas, o consumo crescente de drogas, com o seu rosário de problemas. Drogas que têm como objectivo explícito a alienação, a fuga à realidade, a marginalização do quotidiano. E depois temos as inscrições nas paredes, os gangues suburbanos, o aumento da criminalidade.
E assistimos ainda ao aumento dos desvios sexuais: multiplicam-se os travestis, os transexuais, as trocas de casais (o swing), para já não falar da pedofilia.
(...)
Todos os sinais aqui apontados, repito, são peças de um mesmo puzzle e são típicos das sociedades em crise. E não adianta fechar os olhos nem vale a pena lutar contra o inelutável.

Os economistas, os financeiros, os políticos esmifram-se a procurar ‘saídas para a crise’. Mas a crise não tem saída porque a questão não é económica e financeira: a crise económica e financeira em que estamos mergulhados é apenas um dos sintomas do descalabro geral.

Já percebemos que temos de nos habituar a viver com menos. Mas o grande problema não é esse. Antes fosse...
O grande drama é que o mundo onde cada um de nós julgava que iria viver sempre, entrou numa decomposição acelerada. O barco onde navegámos durante séculos chegou ao fim do prazo de validade e está a afundar-se.

E isso vê-se em tudo. Basta abrir os olhos. Vê-se no afundamento cultural – com a desqualificação da pintura, da escultura, da literatura e da música. Vê-se na desvalorização do casamento e na desagregação da família. Vê-se na deterioração da autoridade e da disciplina, particularmente nas escolas. Vê-se nos desvios sexuais, na proliferação das drogas, na perda de valores e de referências positivas.
(...)
José António Saraiva, Director do Semanário O SOL, 7 /11/ 2011
http://sol.sapo.pt/inicio/Opiniao/interior.aspx?content_id=33046&opiniao=Pol%EDtica%20a%20S%E9rio

Se Não Quer Afundar-se,
leia o precioso livro
O Grande Conflito
(numa edição maior ou menor)
nos Links 1R:

A GRANDE ESPERANÇA

"ABRIR OS OLHOS"

Fui grandemente abençoada por ter nascido numa família cristã, com pais amorosos que se preocuparam em investir nos três filhos. As prioridades deles a nosso respeito não incluíam roupas extravagantes nem alimento requintado. Em vez disso, eles nos ensinaram fé em Deus, promoveram boa formação do caráter e nos proporcionaram educação formal.
Lembro-me da minha mãe orando a Deus em voz alta em favor dos filhos. No culto diário, ela nos ensinava princípios cristãos. A minha lembrança infantil mais feliz é a de todos nós, sentados sobre a grande cama dos nossos pais, cantando, recitando versículos bíblicos de memória e ouvindo a mamã contar histórias de Jesus.
Quando tive a minha própria família, segui o exemplo dela. Anos mais tarde, fiquei muito satisfeita quando a minha filha me contou que as suas melhores lembranças da infância eram a hora do culto diário e os joguinhos de que participávamos sobre o tapete da sala.

Quando éramos adolescentes, mamã usava uma ilustração particular para nos ensinar a "abrir os olhos", como costumava dizer:
Para enganar os jovens de Deus, dizia ela, o inimigo cobre os pecados com um manto atraente, lustroso. Ele diz aos adolescentes que eles podem experimentar uma vez só, para ver como se sentem. Ele sugere que, afinal de contas, ninguém vai ver, ou mesmo saber a respeito. Quando os jovens se permitem ser iludidos por essa sedução e encantamento, o inimigo puxa e afasta o manto. Ele dá risadas ao ver o amargo desapontamento que eles têm consigo mesmos, e a sua grande aflição por terem caído na armadilha. Pior ainda, eles começam a pensar que Deus não lhes perdoará nem os aceitará de volta.

Para evitar cair na abominável cilada do inimigo, devemos fixar os olhos em Jesus.
Devemos constantemente pedir-Lhe que feche as janelas do nosso coração para o mal e as abra amplamente na direcção do Céu.

As sábias palavras e orações da minha mãe proporcionaram sólida orientação para a minha vida. Dou graças a Deus por ter dado aos meus pais a sabedoria de reconhecer as verdadeiras prioridades na vida e de agir com base nelas. A minha oração é que Deus nos conserve sempre fiéis à Sua Palavra. - Vasti S. Viana

VOLTA  PARA  CASA,  MEU  FILHO

Um certo homem tinha dois filhos. o mais novo pediu ao pai: "Pai, dá-me a parte da herança que me pertence." E o pai repartiu os bens pelos dois filhos. Poucos dias depois, o mais novo vendeu o que era dele e partiu para uma terra muito distante, onde gastou todo o dinheiro numa vida desregrada. Quando já não tinha dinheiro, e como houve muita fome naquela região, começou a ter necessidade. Foi pedir trabalho a um homem da região e ele mandou-o para os seus campos guardar porcos. Desejava encher o estômago mesmo com as bolotas. Foi então que ele caiu em si e pensou: "Tantos trabalhadores do meu pai têm quanta comida querem, e eu estou para aqui a morrer de fome! Vou mas é ter com o meu pai e digo-lhe: "Pai, pequei contra Deus e contra ti. Já nem mereço ser teu filho, mas aceita-me como um dos teus trabalhadores." Levantou-se e voltou para o pai. Mas ainda ele vinha longe de casa e já o pai o tinha visto. Cheio de ternura, correu para ele, apertou-o nos braços e cobriu-o de beijos. Lucas 15:11-20

FILHOS ou ESCRAVOS?

"Um certo homem tinha dois filhos..." Lucas 15:11

Estava muito calor naquele sábado de tarde, enquanto subíamos a encosta do cemitério. Os meus irmãos e eu avançávamos em silêncio para visitar o túmulo do nosso pai. A última vez que o vira, ele estava muito doente, mas não havia lágrimas nos seus olhos como das outras despedidas. O brilho da esperança iluminava o seu velho rosto marcado pela dor e pelos anos. Alguma coisa dentro de mim dizia, naquele dia, que estava a ver o meu pai pela última vez neste mundo; mesmo assim, voltei para casa. Um mês depois, um envelope branco e preto, trouxe-me a notícia fatal: "O pai morreu".
"É ali" - a voz do meu irmão tirou-me dos meus pensamentos. Levantei os olhos e vi o pequeno túmulo branco. Uma estranha mistura de sentimentos tomou conta do meu ser. Tristeza? Saudade? Esperança? Talvez tudo junto. Talvez apenas a saudade alimentando a esperança. Quem sabe se a esperança apagando a tristeza e suavizando a saudade.
Fechei os olhos, como querendo arrancar lembranças da escuridão. Tentei dizer algo, mas achei que seria inútil. Para quê? Ele não me ouviria. Os seus restos estavam ali insensíveis, inertes, aguardando o dia glorioso da ressurreição. Engoli as minhas palavras, lembranças e saudades. Deixei apenas aflorar no olhar a esperança do reencontro com aquele homem simples que se foi gastando como uma vela para ver os seus filhos realizados na vida.

O Senhor Jesus contou um dia uma parábola usando esta figura eloquente do relacionamento pai-filho, para exprimir o tipo de relacionamento que quer ter com o ser humano. "Um homem tinha dois filhos", disse. Aqui está descrito o segredo de uma vida vitoriosa e feliz. Cristianismo não é apenas relacionamento com uma doutrina ou com uma igreja. Cristianismo é, acima de tudo, relacionamento com a pessoa de Jesus.
Sabes qual é a tragédia da religião? Nós, seres humanos, substituímos a vida interior por exterioridades. Estamos mais preocupados com as coisas que se veem, com as formalidades, com a parte externa da religião. Vivemos a vida tentando ser bons. Lutamos uma vez e outra e nunca conseguimos. Então ficamos frustrados e pensamos que o cristianismo não resulta. "Não é para mim" - dizemos, e abandonamos tudo. Porquê? Porque medimos o cristianismo pelas coisas boas que fazemos ou pelas coisas erradas que não fazemos.
Deus, porém, mede o cristianismo pelo tipo de relacionamento que temos com Ele. Para Deus, cristianismo é sinónimo de relacionamento. A boa conduta será sempre uma consequência natural do relacionamento com Cristo.
Na parábola do filho pródigo, o Senhor Jesus está a tentar dizer-nos que Deus nos olha como filhos e não apenas como 'criaturas que têm o dever de obedecer'. Ele não olha para nós apenas como computadores sem alma, sem coração, sem vida, fabricados com o dever de fazer tudo bem. O apóstolo João exclama: "Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, ... de sermos chamados filhos de Deus" (I João 3:1). Deus mesmo diz: "Quando Israel era menino, Eu o amei; e do Egipto chamei o Meu filho" (Oseias 11:1). Encontramos aqui o sentido íntimo do relacionamento que envolve o cristianismo. Nós amamo-l'O porque Ele é nosso Pai. Obedecemos-Lhe porque O amamos, servimo-Lo com prazer devido aos laços íntimos que nos prendem. Isto revitaliza o cristianismo. Ver em Jesus não apenas o meu Salvador, mas também o meu Pai e meu Amigo, ajuda-me a viver uma vida espiritual abundante e feliz, livra-me do legalismo, do farisaísmo e da pseudo-ortodoxia.
Aqueles cuja religião se baseia no amor não sucumbem às asperezas da vida. Só quando o amor diminui é que as regras começam a amontoar-se. Quando se ama alguém, não é preciso servi-lo por meio de regras. Naturalmente necessitamos de leis e normas, para darem expressão pormenorizada aos princípios mas o amor conduz-nos naturalmente àquilo que é correcto. O homem que ama não obedece às normas porque são obrigatórias. A sua obediência é consequência do seu amor.
Nessa relação Pai-filho, o que Deus mais quer é ter-nos perto do Seu coração. O trágico do pecado não é o facto de que quebramos uma norma escrita. É o facto de que nos afastamos de Deus e, em lugar de O amar começamos a ter medo d'Ele; em lugar de O procurar, fugimos d'Ele e escondemo-nos; e Deus, nosso Pai amoroso, não pode suportar isso, porque nos ama e quer ter-nos nos Seus braços de volta.

"Um pai tinha dois filhos" - quantas mensagens em tão poucas palavras! Deus está a dizer que para Ele não existe diferença entre os Seus filhos. Ele pode ser Pai de dois, de dois mil ou de um milhão de filhos e a sua capacidade de amar não tem fronteiras. Durante todo este tempo, em que por algum motivo da vida andaste longe, pensas que o coração d'Ele não sangrou? Ele sabe onde estiveste. Ele sempre soube. Ele conhece as tuas angústias, as tuas tristezas e revoltas. E ama-te dessa maneira. No meio da multidão, tu és único. Não estiveste lá. O teu lugar esteve sempre vazio porque para Deus ninguém te substitui.
Quando o meu pai fez 80 anos, os meus irmãos prepararam-lhe uma linda festa de aniversário. Estava tudo pronto. Luzes, cores, alegria, música e também o bolo que em ocasiões como estas não pode faltar. Lá em casa a mesa é grande, somos nove irmãos e, com as noras, genros e netos a família cresceu. Todos temos o seu lugar designado na mesa, mas, naquela noite eu estava no estrangeiro e o meu lugar na mesa estava vazio. Quinze dias depois, recebi uma carta do meu pai. Ele dizia: "Filho, a festa estava linda, mas faltavas tu. Os teus irmãos tentavam alegrar-me, mas a saudade apertava o coração. Sofria ao ver aquele lugar vazio". Compreendes o que Deus está a querer dizer? A festa lá nos Céus poderá ser muito bonita, mas, sem ti, a alegria não será completa. O teu lugar estará sempre vazio.
Se alguma vez tiveste a ideia de que não és muito importante, tira-a e liberta-te desse pensamento, por favor. Se alguma vez alguém te deu a entender que não fazes falta, esquece e perdoa-lhe. Levanta os olhos e vê o teu Pai com o coração aberto à tua espera. Não vejas n'Ele apenas um juiz severo, pronto a condenar; tenta vê-Lo como o Pai disposto a restaurar. ...

"Um certo homem tinha dois filhos." Filhos! É isto que tu e eu somos para Deus. Nós não merecemos, mas Ele fez de nós Seus filhos. Nós não somos dignos, mas Ele compraz-Se em chamar-nos filhos. Ele não tem vergonha de comunicar ao Universo inteiro que eu sou Seu filho e Ele ama-me, apesar do que eu possa ser. Eu não compreendo isso, mas agradeço-Te, ó Deus!"
(...)

A LOUCA CORRIDA QUE NÃO ACABA NUNCA

"Poucos dias depois, o mais novo vendeu o que era dele e partiu para uma terra muito distante, onde gastou todo o dinheiro numa vida desregrada." Lucas 15:13

Em 1979, cheguei a uma grande cidade e, depois da pregação, um irmão convidou-me para almoçar em sua casa. Durante o almoço, o irmão falou entusiasmado do seu único filho, um rapaz louro de dezasseis anos e olhos azuis. A conversa girou em torno dos planos que tinha para o filho.
"Ele vai estudar medicina" - disse - "e, quando se formar, vou vender a quinta e construir uma clínica para ele." Quanta alegria, quanta esperança e expectativa! Era maravilhoso ver aquele entusiasmo.
Um ano depois, voltei àquela cidade e, uma noite, logo após a pregação, aquele mesmo pai procurou-me desesperado.
- Pastor, o senhor precisa de ir a minha casa e ajudar o meu filho - disse aflito.
Fomos lá e, desta vez, o quadro era completamente diferente. O rapaz parecia um gato selvagem. Tinha o rosto cheio de espinhas e os olhos avermelhados. Um tique nervoso à altura dos olhos tornava o seu aspecto mais deprimente. Ficou apavorado quando me viu. Seria impossível reconhecê-lo se o pai não afirmasse que era o mesmo rapazinho loiro de olhos azuis que eu tinha conhecido há um ano atrás. Onde estava a pureza do olhar? Onde estava aquele rosto sereno de sorriso agradável?
Um ano! Apenas um ano! Em tão pouco tempo, as drogas tinham deformado completamente aquela jovem vida.
"Poucos dias depois". Isto revela a rapidez com que o pecado estraga as coisas em que toca. O ser humano começa a brincar 'inocentemente' com o pecado e, pouco tempo depois, está atado da cabeça aos pés.

Primeiro é um cigarro, só por curiosidade. Depois, mais um para 'experimentar realmente o sabor' e, pouco tempo depois, o vício toma conta por completo do indivíduo.
Primeiro é um simples olhar, depois um aperto prolongado de mãos com uma mulher que não é a esposa e, pouco tempo depois, o homem deita tudo pela janela e até abandona a família, os amigos e a igreja.
Tudo começa com uma 'bebida social', apenas pela circunstância, para agradar aos amigos e, pouco tempo depois, está caído na sargeta tendo perdido até o respeito próprio.
Os namorados começam com uma carícia leve, aparentemente inocente. Que mal há nisso? Pouco tempo depois, estão prisioneiros dos seus instintos e com um complexo de culpa que os atormenta horrivelmente.

Recebo centenas de cartas de jovens que brincaram com o pecado. Apenas por curiosidade, para não dar 'uma de antiquado' e, pouco tempo depois, descobriram-se atados de pés e mãos; sentiram-se como Pedro no alto mar, com a água até ao pescoço, impotentes e submetidos por completo ao poder do inimigo.
"Estou a escrever esta carta para dizer que fui membro da igreja durante 8 anos, mas afastei-me e não consigo voltar. Tenho vontade de voltar, mas tenho vergonha. Estou viciado na bebida e noutras coisas. Porquê, Pastor, por que razão é tão difícil voltar? Tenho vergonha de todos. Vivo fugindo dos irmãos. Estou perdido. Ajude-me, por favor!"
O clamor angustiante desta carta, lembra a atitude do filho que "poucos dias depois" partiu para um país distante. Perto do pai, não teria condições de viver como queria. Mesmo que o pai não dissesse nada, o seu olhar carinhoso seria uma permanente repreensão ao estilo de vida que ele pretendia viver. Aqui está uma grande verdade em relação ao pecado. É impossível pecar na presença do Pai. É difícil errar na presença dos seres que amamos. É preciso fugir, esconder-se, partir para um país distante. O que o pecador mais deseja é ficar longe do pai, longe dos conhecidos, longe da igreja. Essa é a única maneira de viver sem restrições e então, perigosamente, começa a triste corrida que pode não ter fim.

O ser humano tenta esquecer tudo o que tem a ver com Deus. "Não me fale de Deus, nem dos irmãos, nem da igreja. Quero apagar tudo isso da minha vida. Risquei esse capítulo." Mas, Deus continua a falar, a chamar, a suplicar. É difícil não sentir a Sua voz convidativa. Cada pormenor da vida: o canto do passarinho, o desabrochar de uma flor, o despontar do dia, o crepúsculo, um acidente, uma doença, enfim, através de um detalhe qualquer, Deus parece estar a dizer: "Filho, onde estás, Eu amo-te, volta aos Meus braços de amor." (...)

O REGRESSO

"Levantou-se e voltou para o pai. Mas ainda ele vinha longe de casa e já o pai o tinha visto. Cheio de ternura, correu para ele, apertou-o nos braços e cobriu-o de beijos." Lucas 15:20.

"Tenho vergonha"; "fui longe demais"; "já é muito tarde". São expressões que tenho ouvido muitas vezes de pessoas que sentem a voz de Deus a chamar ao coração, mas que por algum motivo ficam paralisadas onde estão. Decidiram voltar, responderam ao apelo, reconheceram a sua triste situação, mas não têm forças para iniciar a caminhada de volta.
Se soubessem a dimensão do amor do Pai, sem dúvida não hesitariam. Eu imagino que desde o momento em que o filho partiu, o pai ficou no terraço da casa, olhando para o caminho e dizendo para si: "Ele voltará, eu sei que ele vai voltar um dia! Não sei quando, nem como, mas sei que um dia ele aparecerá ao fundo do caminho. Vou esperar por ele de braços abertos. Não posso perder a esperança. Continuarei a acreditar nele, embora toda a gente mostre desconfiança, e embora ele próprio pense que já não existe solução para o seu caso."
E a história diz que o filho "levantou-se e voltou". Não ficou parado no 'vou decidir e ir'. Não ficou apenas na decisão. Ele voltou. Como? Tal como estava: sujo, cheio de piolhos, com os cabelos e as unhas grandes, a cheirar a porco e a vestir trapos de imundície. Aqui há algo que precisamos de entender. Muitos ficam no vale da indecisão e do desespero, apenas porque não compreendem o sentido desta parábola.
Se o filho pródigo tivesse tomado banho, cortado o cabelo e as unhas e colocado uma boa água de colónia antes de voltar, então a igreja teria que mudar a sua doutrina da justificação, que é pela fé, e da santificação, que também é pela fé.
Meu amigo, tens que voltar ao Pai tal como estás, com o teu cigarro, com as drogas, com os complexos, traumas e marcas que o pecado possa ter imprimido na tua vida. Não tentes, por favor, resolver os teus problemas sozinho; não penses: "Largarei primeiro o cigarro antes de voltar". Não, por favor, volta com o teu cigarro. Não raciocines: "Abandonarei as três mulheres que tenho ilicitamente para que o Pai possa aceitar-me". Não, não é assim que funcionam as coisas no reino de Deus. Ele diz: "Filho, vem a Mim como estás, seminu, cheirando a porcos, imundo; vem! trazendo-Me os teus farrapos, os teus vícios, os teus traumas." E, oh! Amor maravilhoso que a parábola descreve! O pai não tem nojo do filho malcheiroso! O pai abraça-o e beija-o.

Compreendeste? Como poderia o Pai ter nojo de ti, se tu és para Ele a coisa mais linda neste mundo? Achas que Ele vai rejeitar-te, como às vezes os homens rejeitam? Pensas que, pelo facto de na tua vida serem visíveis as marcas do pecado, o Pai te virará o rosto e te condenará? Não, mil vezes não! Ele, com certeza, te abraçará, te beijará; tira-te as roupas imundas, dá-te banho, corta os teus cabelos e unhas; porque a salvação é d'Ele. É Ele que justifica e é também Ele que santifica. É Ele que perdoa e é também Ele que dá poder para uma vida de vitória e obediência.

Conheço muitas pessoas que ficam perdidas na vida, tentando inutilmente resolver os seus problemas. "Eu voltarei, pastor", dizem, "mas primeiro tenho que resolver os meus problemas." "Eu voltarei, pastor", dizem, "mas primeiro tenho que resolver a minha vida." E eu digo-te em nome de Jesus que, se pensas que para voltar precisas antes de corrigir os teus erros, certamente nunca voltarás. Tudo o que conseguirás é acumular uma colecção de fracassos e promessas não cumpridas. Isto acrescentará cada vez mais ao teu coração o senso de culpabilidade e impotência que irão apagando lentamente a voz de Deus.
Eu sei que neste momento estás a sentir a voz do Pai chamando: "Filho, está na hora de voltares". E pergunto-me: porque chegaste onde chegaste? O que foi que te afastou de Cristo e da Sua igreja? Lembras-te? Foi a discussão com um irmão? Foi o mau testemunho de alguém? E agora, responde: Valeu a pena ter saído? Claro que não! Andaste todo esse tempo solitário e triste. Cada vez que chegava o pôr do sol de sexta-feira, uma estranha sensação de dor tomava conta do teu coração. Às vezes, quando paras em frente de uma igreja, o teu coração bate aceleradamente. Não, nunca foste feliz lá fora. A maior prova disso é que chegaste até este ponto do livro. Podes estar a perguntar: "Como é que este homem me conhece?" E a verdade é que eu não te conheço, embora muitas vezes tenha orado pelo teu regresso, mesmo sem te conhecer.

Um dia, nos minutos da minha vida devocional, senti a voz de Deus falar ao meu coração: "Alejandro, escreve o que estás a pensar, porque tenho centenas de filhos maravilhosos a chorar lá fora. Estão tristes, vazios, procurando algo que, no fundo do ser, sabem perfeitamente que sou Eu. Escreve para eles, porque este livrinho será o instrumento que usarei para os trazer de volta. Nos Meus braços não sentirão mais frio, ao Meu lado não experimentarão mais fome; preciso que eles voltem enquanto não chega a noite, enquanto ainda conseguem ouvir a Minha voz chamando-os."
É por isso, meu amigo, que estou a escrever estas linhas, e é por isso que agora vou pedir que te ajoelhes onde estás, ou simplesmente que feches os olhos, ou então que apenas fales só para ti, dizendo: "Pai, chega!, eu já me magoei demais na vida. Estou ferido, cansado de pecar, cansado de viver, de sofrer, de procurar; por favor, Pai, estou aqui de volta aos Teus braços, sem promessas, porque já prometi tantas vezes e nunca cumpri; simplesmente - estou aqui! Podes limpar-me? Podes restaurar-me? Podes fazer por mim o que sempre fui incapaz de fazer por mim mesmo?

E AGORA?

Uma das últimas armas que o inimigo usa para manter as pessoas cativas no seu território é a montanha de dificuldades que ele coloca no caminho de volta. Vejamos.

A primeira dificuldade podes ser tu mesmo. Sempre contrariaste os teus queridos que esperavam que voltasses. E agora, como fica? Vais dar o braço a torcer? Eles venceram e tu perdeste? E, no primeiro dia que apareceres de volta na igreja, não irá toda a gente olhar para ti com curiosidade? Com certeza que vais encontrar-te com pessoas que de alguma forma um dia te magoaram; como é que vais reagir?
E a vida? Não estão todos à espera que, a partir de então, vivas uma vida exemplar? E se não conseguires? E se a decisão que acabas de tomar der em nada?
Eu sei, meu querido amigo, que todas essas inquietudes estão a passar pela tua cabeça, mas quero dizer-te uma coisa: Se as pessoas que um dia decidiram seguir a Jesus olhassem para o futuro e quisessem ver o caminho limpo de pedras e espinhos, ninguém, mas ninguém mesmo, seguiria Jesus. Esse era o meu grande erro quando jovem. Concentrava toda a minha atenção nas dificuldades da vida espiritual. Vivia ansioso por causa dos meus erros. A minha expectativa concentrava-se toda na minha conduta; e isso só me causava desespero e frustração. Mas um dia, concentrei toda a minha atenção em Jesus, e as coisas mudaram.
Às vezes, à noite, deitado na minha cama, vejo-O sorrindo para mim, como se eu fosse uma criança que está a aprender a andar, e Ele, lá na frente, vai-me animando: "Vai, filho! Vais conseguir! Mais uma vez! Isso!"
Ah! meu amigo, não sei que palavras usar para te convencer de que este é o segredo de uma vida vitoriosa. Nunca olhes para trás, nem para os lados. Olha para a frente! Se olhares para trás, só verás o passado tentando massacrar-te com o martelo da culpa. Se olhares para os lados, ouvirás muitas vozes: condenação, vingança, ventos contrários, escuridão e ondas gigantescas, tentando afundar a tua pequena embarcação. Então, por tudo o que mais queiras, olha para a frente. No meio da noite escura e do vento gelado, está Aquele que é poderoso para salvar e, em nome d'Ele, sai do barco das incertezas e caminha sobre as águas da indiferença deste mundo. Faz o impossível, quebra as leis da Natureza. Vai em frente com os olhos fixos no Autor e Consumador da fé: o teu amigo JESUS.

Um grande abraço. Espero ver-te quando Jesus voltar.
Alejandro Bullón - (Ver Links 1R)

ABRAÇO DE PAI



DEUS CHOROU, DEUS SORRIU


(Pode adquirir o 1º livro da mensagem e os outros 3 - muito bons! - na Publicadora SerVir, Links 3I)