sexta-feira, 24 de setembro de 2010

LAR, doce LAR




O Dr. James Dobson é psicólogo e conselheiro familiar há mais de 25 anos, além de fundador e presidente da Focus on the Family, uma organização que se dedica ao apoio e preservação de lares e famílias em todo o mundo. Os seus programas são transmitidos mundialmente por mais de 4 000 emissoras de rádio, e as revistas publicadas pela Focus on the Family são lidas mensalmente por mais de 3 milhões de pessoas.
Editora United Press Ltda

Este livro é dedicado à família e aos homens, mulheres e crianças que vivem e amam dentro desta unidade básica da sociedade – o Lar.
As instituições do casamento e da paternidade são essenciais para o futuro da humanidade. Devemos dar-lhes todas as oportunidades para que sobrevivam e floresçam num ambiente cada vez mais hostil. Se os comentários neste livro contribuírem para este objectivo de alguma forma, então
o meu esforço para escrevê-los terá valido a pena.
Dr. James Dobson


INTRODUÇÃO

Obrigada pelo seu interesse neste pequeno livro – Lar, Doce Lar. Permita-me dizer-lhe como ele veio a ser escrito e qual é o motivo por que foi preparado. Nos últimos anos, tenho tido o privilégio de entrar diariamente nos lares de milhões de pessoas através de 250 das maiores emissoras de rádio e estações de televisão nos Estados Unidos. O programa também está a ser transmitido noutros países, visando alcançar 50 milhões de pessoas em cada semana no próximo ano. Este programa de 90 segundos, chamado «Focus on the Family Commentary» (Comentários – Valor para a Família), trata de uma ampla variedade de assuntos relacionados com o casamento, o papel dos pais e questões importantes para o lar.

A única dificuldade de preparar este programa é o tempo muito curto. É realmente um desafio apresentar um tema, dizer alguma coisa útil e interessante sobre ele, e, então, apressadamente, anunciar o encerramento sem exceder o limite de tempo. Alguns de vós sabeis o quanto é difícil resumir qualquer pensamento ou ideia num minuto e meio. É mais fácil falar durante horas do que falar por alguns poucos instantes.
Finalmente, este formato conciso também impõe uma certa disciplina ao processo comunicativo. Cada palavra deve ser escolhida com cuidado. Cada conceito é fervido em alta temperatura até que se reduza ao essencial. Elimina-se tudo o que for supérfluo. O resultado final é uma série de recomendações e comentários que foram afiados e polidos ao ponto máximo.

O leitor não vai desperdiçar tempo algum para chegar à essência da questão. O livro que tem em mãos é uma selecção desses comentários de que falei, que espero sejam do seu interesse e lhe sirvam de ajuda. Eles tratam de Adolescência, Dinheiro, Sexo, Velhice, Disciplina dos filhos e dezenas de outros assuntos que dizem respeito à família. Alguns são práticos. Outros, espirituais. Alguns são sérios. Outros, engraçados. E alguns têm simplesmente a intenção de inspirar o que há de melhor dentro de nós. No final, cada comentário é destinado a fazer a sua própria pequena contribuição para as relações mais importantes – aquelas que florescem no lar – para que sejam um LAR, doce LAR.

Um brinde à sua família.
James C. Dobson, Ph.D.



AUTORIDADE PATERNA

Um escritor especializado no assunto de desenvolvimento da criança sugeriu que os pais e os filhos deveriam estar ao mesmo nível – e assim tomarem decisões baseadas em negociação e acordo. Afinal de contas, disse ele, quem sabe o que é melhor para o menino ou menina? Talvez o filho esteja certo, e o pai, errado.
Quando ouvi esse conselho, do qual discordo fortemente, lembrei-me do pequeno hamster que a minha filha tinha quando era criança.
Certo dia, fiquei observando o pequeno e peludo animal a tentar sair da sua gaiola.
Ele tentou incessantemente abrir a porta e enfiar o narizinho peludo entre as barras da gaiola.

Foi então que notei o nosso cachorrinho bassê, Siggie, sentado a apenas três metros de distância, escondido nas sombras. Ele também estava observando o hamster. As suas orelhas estavam em pé, e era bem óbvio o que ele estava pensando: Vamos lá, nené. Abra essa gaiola e você será o meu almoço.
Se o hamster tivesse a infelicidade de escapar da gaiola, algo que ele queria desesperadamente fazer, morreria em questão de segundos. Obviamente, de onde eu estava, vi algo que o hamster não podia saber. Eu tinha uma perspectiva diferente da dele. Eu podia perceber perigos que ele não podia antever. Por isso, neguei-lhe algo que ele desejava muito conseguir.

A mesma coisa acontece com as crianças. Os pais têm a perspectiva de maturidade que falta aos seus filhos. Às vezes, aquilo mesmo que mais desejam seria desastroso se lhes fosse dado. É por isso que sou um defensor ardoroso da autoridade paterna quando os filhos ainda são pequenos.

Mesmo que os pais não sejam perfeitos, a maioria deles faz o que é melhor para os seus filhos – e não podemos minar a sua capacidade de liderar os seus próprios lares. Essa posição é inequivocamente apoiada pelas Escrituras. O apóstolo Paulo escreveu: «Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor». Colossenses 3:20.





A LIGAÇÃO ENTRE COMPORTAMENTO E CONSEQUÊNCIAS

Proteger uma criança das consequências do seu comportamento pode levá-la a tornar-se mais tarde um adulto imaturo.

Um dos objectivos primordiais durante a pré-adolescência é ensinar à criança que o comportamento leva inevitavelmente a consequências. Infelizmente, a conexão é muitas vezes interrompida. Por exemplo, uma criança quer ter um cachorro, mas nunca lhe pedem para alimentá-lo e cuidar dele.

Uma criança de dez anos é apanhada roubando doces numa loja, mas é libertada para ficar sob a custódia dos pais. Nada acontece. Um jovem de quinze anos pega as chaves do carro da família, mas os pais pagam a multa por ele conduzir sem carta de condução.

Assim, durante toda a infância, esses pais amorosos, em seus mal orientados esforços para proteger o filho ou a filha de um desgosto, colocam-se entre o comportamento deles e as consequências naturais e inevitáveis que daí decorrem. Sob tais circunstâncias, uma pessoa jovem pode entrar na idade adulta sem saber realmente que a vida pode feri-lo.

Ele ou ela pode tornar-se um adulto constantemente adolescente precisando sempre que alguém pague a fiança pelas suas confusões e irresponsabilidades.

Como evitar este erro? Ligando o comportamento às consequências.

Se a Jane descuidadamente perde o dinheiro do seu lanche, ela simplesmente fica sem o lanche. Se o Jack perde o autocarro da escola porque se atrasou pela manhã, ele que trate de caminhar até à escola. Obviamente, seria fácil levar este princípio muito longe e tornar-se cruel. Mas um gostinho de fruta amarga que a irresponsabilidade proporciona pode ensinar a um jovem lições valiosas que lhe serão úteis mais tarde.





UMA ESTRELA NA MAÇÃ

Alguns pais referem-se aos seus filhos como a «maçã» dos seus olhos, mas uma mãe que conheço pensa nos seus filhos afectuosamente como a «estrela» na maçã. Essa mãe descobriu um dia que, cortando uma maçã horizontalmente ao meio, em vez de tirar o caroço ou fatiá-la em forma de cunhas de alto a baixo, alguma coisa nova e surpreendente apareceu. Uma perfeita estrela de cinco pontas foi formada pelas pequeninas sementes no centro.

A estrela sempre esteve lá, naturalmente, mas ela simplesmente nunca a tinha visto antes porque olhava a maçã de um ponto de vista diferente. Há aqui uma analogia com as crianças que me intriga. Muitos de nós olhamos para essas pequenas criaturas, que chamamos filhos, de um certo modo, ano após ano.

Nós os vemos talvez como preguiçosos ou irritantes ou exigentes. Mas as crinças são infinitamente complexas, e podemos estar negligenciando qualidades de carácter que nunca vimos antes. Podemos estar perdendo a «estrela» no coração dessas vidas jovens. Se procurarmos vê-las através de novos olhos uma vez ou outra, poderemos vislumbrar toda uma nova e maravilhosa dimensão das suas personalidades que nos passou despercebida antes.

Portanto, dê-lhes uma chance! Comece a olhar os seus filhos de um novo ângulo. Há, prometo, uma estrela engastada nalgum lugar dentro de cada menino e menina.

James Dobson in Lar, doce Lar

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

10 PALAVRAS PARA O NOSSO TEMPO






A Bíblia descreve Deus como um Criador inteligente e amoroso que tudo realiza de acordo com um conjunto de leis. O mundo físico está governado por leis, o que é muito necessário para a marcha ordenada do universo. Algumas dessas leis são conhecidas pelo homem. Algumas levam o nome dos cientistas que as descobriram conquanto sejam as mesmas leis que Deus instituíu há milhares de anos. A Bíblia também nos ensina que todas as criaturas de Deus estão sujeitas à lei, e que esta lei, que reflecte o Seu carácter, baseia-se no amor.

A palavra amor é um termo usado muito liberalmente nestes tempos.
O seu verdadeiro significado tem sido pervertido e o homem explora-
-o para lograr os seus propósitos egoístas. Segundo a Bíblia:

Amor

significa

preocupar-se

com o Bem-estar e Felicidade

do nosso Semelhante.


Um amor assim não pode dividir-se em secções arbitrariamente. Não podeis amar um segmento da sociedade e ao mesmo tempo despreocupar-vos com outros. O amor não se limita a uma só família, comunidade ou nacionalidade. É um sentimento, implantado por Deus nos nossos corações, que implica o preocupar-se com o bem do nosso vizinho; e, segundo Cristo, o nosso vizinho é todo aquele que necessita de ajuda.

Esta lei de Deus inclui o princípio do amor e o respeito mútuos. Cristo definiu isto como a regra de ouro.
«Façam aos outros como desejam que os outros vos façam.» (S. Lucas 6:31).

Deus promulgou essa lei de amor como uma protecção da individualidade e bem-estar da raça humana. Nas Sagradas Escrituras é mencionada como a «lei de Deus» a fim de diferenciá-la de outras leis que aparecem no Antigo Testamento, referidas como «leis de Moisés».

A  lei  de  Deus  é  assim  chamada  porque  não  foi  dada  oralmente,  mas  escrita  em  tábuas  de  pedra  pelo  próprio  Deus.
Os mandamentos da lei de Deus são dez e estão registados na Bíblia, no livro de Êxodo, capítulo 20, versículos 3 a 17.



OS DEZ MANDAMENTOS


1. «Não  tenhas  outros  deuses,  além  de  Mim.»

Deus pede o primeiro lugar nas nossas vidas e afectos.

2. «Não  faças  para  ti  imagens  esculpidas  representando  o  que  há  no  céu,  na  terra,  e  nas  águas  debaixo  da  terra.  Não  te  inclines  diante  de  nenhuma  imagem,  nem  lhes  prestes  culto,  porque  Eu,  o  Senhor,  teu  Deus,  não  tolero  que  tenham  outros  deuses  e  castigo  a  maldade  daqueles  que  Me  ofendem  até  à  terceira  e  quarta  geração  dos  seus  descendentes.  Mas  trato  com  amor,  até  à  milésima  geração,  aqueles  que  Me  amam  e  cumprem  os  Meus  mandamentos.»

Deus proíbe a idolatria em todas as suas formas, seja a adoração de imagens, pessoas, dinheiro, possessões mundanas ou qualquer outro tipo de ídolo.

3. «Não  faças  mau  uso  do  nome  do  Senhor,  teu  Deus,  porque  Ele  não  deixará  sem  castigo  os  que  fizerem  mau  uso  do  Seu  nome.»

Deus espera que sejamos reverentes em todos os assuntos pertinentes a Ele e à Sua adoracão. O Seu nome não deve ser usado para expressar um juramento ocioso e muito menos blasfemo.

4. «Recorda-te  do  dia  de  sábado,  para  o  consagrares  ao  Senhor.  Podes  trabalhar  durante  seis  dias,  para  fazeres  tudo  o  que  precisares.  Mas  o  sétimo  dia  é  dia  de  descanso,  consagrado  ao  Senhor,  teu  Deus.  Nesse  dia,  não  faças  trabalho  nenhum,  nem  tu  nem  os  teus  filhos  nem  os  teus  servos  nem  os  teus  animais  nem  o  estrangeiro  que  viver  na  tua  terra.  Porque,  durante  os  seis  dias,  o  Senhor  fez  o  céu,  a  terra,  o  mar  e  tudo  o  que  há  neles,  mas  descansou  no  sétimo  dia.  Por  isso,  o  Senhor  abençoou  o  dia  de  sábado  e  declarou  que  aquele  dia  era  sagrado.»

Deus designou um dia para o descanso e a adoração. Separou-o na própria criação para o bem-estar espiritual mais elevado do homem.

5. «Respeita  o  teu  pai  e  a  tua  mãe,  para  que  vivas  muitos  anos  na  terra,  que  o  Senhor,  teu  Deus,  te  vai  dar».

Deus espera que respeitemos e amemos os nossos pais, e que honremos os que têm autoridade.

6. «Não  mates».

Deus ensina-nos a respeitar a vida dos outros, e a não abrigar sentimentos de ódio e vingança.

7. «Não  cometas  adultério».

Deus deseja que sejamos puros em palavras, pensamentos e acções, evitando mesmo a aparência do mal.

8. «Não  roubes».

Deus exorta-nos a respeitar a propriedade alheia e a ser honrados nos nossos negócios e assuntos financeiros, como também nas nossas relações mútuas.

9. «Não  faças  uma  acusação  falsa  contra  ninguém.»

Deus quer que sejamos verdadeiros em todos os momentos e sob todas as circunstâncias.

10. «Não  cobices  a  casa  do  teu  semelhante:  não  cobices  a  sua  mulher  nem  os  seus  escravos  nem  o  seu  gado  nem  os  seus  jumentos  nem  coisa  nenhuma  do  que  lhe  pertence.»

Deus quer que estejamos contentes com o que nos deu. Deveríamos sentir-nos gratos pelo que temos e não albergar desejos desordenados.


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Durante as últimas décadas muitos dirigentes religiosos têm diminuído a importância das obrigações do homem para com Deus e os Seus Mandamentos. Esse abandono da lei de Deus trouxe como consequência o horrível estado de violência em que vive a nossa geração. Não se tem na devida estima os mandamentos de Deus. Foram esquecidos por tanto tempo, e por tanta gente!
Não obstante, Deus proveu um meio pelo qual os Seus planos originais para com o homem haveriam de ser cumpridos. Essa provisão consistiu na identificação de Deus com o homem, ao vir Deus à Terra em forma humana para demonstrar que a lei é santa, justa e boa. Essa identificação de Deus com o homem manifestou-se na pessoa do nosso Salvador Jesus Cristo. Satanás não pode acusar Jesus de nada. Ele sempre obedeceu aos mandamentos do Seu Pai ao longo de uma vida de contínua comunhão com Ele e dependência do Seu poder. Cristo, sem pecado, sofreu uma morte vicária para livrar o homem da sentença de morte.

Deus nunca alterou a Sua lei, mas fez provisão para salvar o pecador. Mediante a fé nos méritos do Seu sacrifício, e por Sua graça, o pecador muda totalmente a sua atitude para com Deus e a Sua lei. A vida que antes estava oposta a Deus, agora coopera com Ele para alcançar o objectivo de um carácter transformado. O coração que antes não se sujeitava à lei, agora deleita-se em fazer a Sua vontade. A natureza egoísta e rebelde de antes transforma-se numa natureza que ama e respeita o Criador e o próximo.

O milagre que se produz é assim descrito pelo apóstolo São João: «Nós sabemos que amamos os filhos de Deus se amarmos a Deus e cumprirmos os Seus mandamentos. O amor de Deus consiste em cumprirmos os Seus mandamentos. E os Seus mandamentos não são um peso.» (I S. João 5:2, 3).

O Senhor Jesus resumiu os Dez Mandamentos nestas palavras: «Ama o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a alma, e com todo o entendimento. Este  é  que  é  o  primeiro  e  o  mais  importante  dos  mandamentos.  O  segundo  é  semelhante  a  este: Ama o teu próximo como a ti mesmo» (S. Mateus 22:37-39).

Quando se aceita a Cristo produz-se um «transplante» de coração: «Vou dar-vos um novo coração e um novo espírito. Em vez do vosso empedernido coração de pedra, vou dar-vos um coração humano obediente. Vou pôr o meu Espírito em vós e farei com que obedeçam fielmente às Minhas leis e aos Meus mandamentos que vos dei.» (Ezequiel 36:26, 27).

O sacrifício de Cristo não só nos oferece perdão, esperança e vida eterna, como também nos proporciona o poder necessário para viver uma vida em perfeita harmonia com a Sua vontade, segundo é revelada nos Dez Mandamentos.

Por Que Não Aceitar A Cristo Hoje

A Fim De Participar Dessa Bela Experiência

Agora E Para Sempre?


G. J. Christo in SINAIS dos TEMPOS

Citações Bíblicas extraídas da Tradução Interconfessional A BOA NOVA
Edição da DIFUSORA BÍBLICA (Franciscanos Capuchinhos) - 1999.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

GOTINHA DE ÁGUA







Era uma vez uma menina
chamada Gotinha de Água...

Olha as praias lá em baixo!
E casas! E meninos a brincar!
E estradas e pontes
e automóveis e combóios a passar!

Depois o vento parou.
A gotinha estremeceu quando viu
dum lado a outro do céu
as nuvens escurecerem como breu.
Olhava para baixo e via
a terra seca, os campos secos,
secas as fontes,
as flores e as searas murchas,
e os homens tristes, muito tristes
sem pão para darem aos meninos.

Então, a menina Gotinha de Água,
que tinha nascido no mar e usava
um vestido de esmeralda e luar,
pensou:
E se eu fosse dar de beber
às flores, aos campos,
se eu fosse matar a sede
e a fome aos homens e aos meninos?
E disse muito alto às suas irmãzinhas:
- Vamos.
E deixou-se cair.
Ia à frente de milhões de gotinhas
todas vestidas de esmeralda e luar
e sorriam, cantavam e assobiavam
enquanto caíam.

A menina Gotinha de Água pousou
mesmo na boca duma flor
que sorrindo feliz lhe disse:
- Bendita! Bendita sejas!

E logo uma abelha, que andava por ali
em busca de pólen para fazer mel,
pousou numa pétala da linda flor
e falou-lhe assim:
Bom dia, meu amor.
Queres tu dar-me um pouquinho
do teu pólen para os meus favos?
E a flor de pétalas de ouro
abertas e cobertas de gotinhas de água,
todas vestidas de esmeralda e luar,
só lhe disse:
- Leva o pólen que quiseres para o teu mel!
O Sol brilhava agora cheio de alegria
e sacudia a luz da sua cabeleira
sobre o mundo.
E as searas que estavam a morrer de sede
encheram-se de espigas
e as árvores abriram no ar
os braços carregados de frutos
tão docinhos: ameixas, figos
maçãs, pêras e uvas!
E os homens, as mulheres e os meninos
agradeciam satisfeitos
à chuva que viera livrá-los
da sede e da fome.
- Obrigado!
Obrigado!


Papiniano Carlos
A Menina Gotinha de Água





«PouPem-Me! ...

...   ou vão sentir a minha falta»

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A MINHA PRISÃO DE ÓDIO


"Se ele tivesse feito à sua filha o que fez à minha, provavelmente também o odiaria."


Aconteceu ao anoitecer de um nublado sábado de Janeiro.
Tinha o jantar pronto para Patrícia, que geralmente chegava às cinco da tarde do seu trabalho no centro de Denver.
Às sete eu já estava caminhando a passos largos pela sala, tensa e preocupada. Patrícia não agia dessa maneira: era uma mulher madura, de 35 anos, que sempre me mantinha informada do seu paradeiro. Como de costume, tinha-me telefonado às cinco para me dizer que estava activando o alarme contra ladrões e preparando-se para sair do escritório.
Eu estava agora muito preocupada. Não tinha ninguém neste mundo, a não ser Patrícia. O seu pai tinha morrido quando ela tinha quinze anos, e embora houvesse bastante diferença de idade, éramos muito amigas. Patrícia tinha vivido noutra cidade por algum tempo, mas regressou a Denver para frequentar um colégio religioso, trabalhando num escritório em regime de tempo parcial. Planeava tornar-se missionária para que outras pessoas conhecessem a Cristo, e tudo nela me dava grande satisfação.


Telefonei para o seu escritório. Nenhuma resposta. Depois telefonei para a companhia que tinha instalado o alarme contra ladrões, e inteirei-me que o alarme tinha sido activado às cinco da tarde.
Teria ocorrido um acidente? Não queria telefonar à polícia; era como admitir que podia ter acontecido algo terrível. Mas finalmente telefonei.
"Não - disseram eles depois que a descrevi -, não temos nenhuma informação."
Telefonei freneticamente para os hospitais, e informaram-me que nas últimas horas não tinham internado ninguém que se parecesse com Patrícia.
Olhei para o relógio: nove da noite. Um dos comentários de Patrícia durante a nossa última conversação telefónica soava na minha memória como um sino fúnebre: "Esqueci-me de estacionar o automóvel na frente do edifício, mamã", - tinha ela dito -. Tenho medo de ir àquela zona de estacionamento da parte de trás."

Desesperada agora, telefonei para o seu professor no colégio religioso. Respondeu-me que iria com alguns dos jovens ao escritório de Patrícia. Telefonou-me meia hora mais tarde. Nenhum vestígio de Patrícia ou do seu veículo.
"Obrigada, Eduardo", disse debilmente, sentindo que o meu coração se afundava mais e mais.
"Há algo que eu possa fazer?", perguntou-me.
"Não", suspirei, colocando o telefone no suporte.
Durante toda a noite aguardei na sala, telefonando para a Polícia aproximadamente de hora a hora. De manhã cedo veio um agente da polícia para obter uma descrição detalhada de Patrícia, do seu vestuário e do seu automóvel. Dei-lhe uma foto que tinha tirado em frente da igreja poucos meses atrás.
Pelas 1o horas, telefonaram da central da Polícia para formularem uma pergunta estremecedora: "A sua filha tem alguma cicatriz ou marca que a possa identificar?"
Recordei que quando criança Patrícia estava a brincar com alguns amiguinhos da vizinhança, tentando imitar as façanhas de Tarzã, escorregou, e o ramo ponteagudo de uma árvore causou-lhe um profundo golpe no braço. A única coisa que lhes pude dizer foi comentar sobre tal cicatriz.

Telefonaram mais duas vezes. Na segunda vez queriam ter o nome do Pastor. Já pela tarde decidi que seria bom preparar alguma coisa para comer. Precisamente nesse momento vi que o director do nosso côro, Harvey Schroeder, se aproximava da minha casa cabisbaixo. Dois homens que tinham descido de um veículo da esquadra da Polícia acompanhavam-no.
Recebi-os à porta. "Encontraram Patrícia, não é verdade?"
"Sim, Senhora Hanna. Encontrámo-la.", respondeu um dos homens com olhos denotando dor profunda.
"Ela não virá para casa, não é verdade?"
"Não."

Dois jovens que tinham saído para caçar no domingo de manhã encontraram o corpo dela à margem do caminho, aonde evidentemente tinha sido lançada de um automóvel.
A casa dava voltas e eu parecia suspensa no espaço.
"Senhor Hanna... Senhora Anna!"
Ajudaram-me a sentar. Estive ali por um longo espaço de tempo olhando sem nada ver.
Depois fiquei só, na casa desolada. Quando o vento nocturno agitava os ramos endurecidos pelo gelo contra a janela do quarto, eu estava ainda desperta, pensando nos últimos momentos da minha filha sobre a Terra. Tinha sido violentada e esfaqueada.

Não podia crer que alguém pudesse fazer algo tão perverso, tão cruel contra outro ser humano! Quando pensava no assassino desconhecido, um ódio frio se apoderava de mim, um ódio que ia crescendo cada vez mais.
Dominada por uma paixão de ver apresentada perante a justiça a pessoa que tinha assassinado a minha filha, examinava os diários e mantinha-me em contacto com a Polícia.
Em Março o criminoso assestou novo golpe. Certa manhã foi encontrado o corpo de uma mulher atrás de uma Igreja. Junto a ela alguém tinha escrito na neve: «Odeio as mulheres».
Poucos meses depois outra mulher foi atacada, mas conseguiu escapar. A polícia suspeitou que se tratava do mesmo homem. Finalmente, num sábado de tarde no mês de Outubro, uma mulher foi atacada num centro comercial no momento em que entrava no seu carro. Enquanto lutava desesperadamente contra o homem que já a tinha ferido, um polícia correu para o local, e prendeu-o.

Nunca me esquecerei do momento em que vi o rosto do assassino da minha filha olhando-me de uma página do diário Post, de Denver. O seu nome era Carlton Moore. Pegando numa faca de abrir cartas, lenta e deliberadamente comecei a golpear contra o seu rosto, repetidamente, até que o papel ficou reduzido a tiras.
Agora tinha alguém em quem podia concentrar o meu ódio acumulado. Li que Moore tinha sido criado num lar com problemas, com um pai alcoólico e uma mãe perturbada. Embora ele tivesse um elevado quociente intelectual, tinha sido tão maltratado e descurado que a partir dos nove anos tinha entrado e saído muitas vezes do reformatório. Carlton Moore tinha sido posto em liberdade condicional só dois meses antes da data em que matou a minha filha.
Quando se realizou a audiência pública do julgamento, fui ao tribunal localizado no centro da cidade, e observei tudo do fundo da sala. Se os meus olhos pudessem matar, Moore teria sido morto naquele instante.

Segui o caso de perto. Carlton Moore confessou-se culpado pelo assassinato que tinha cometido em Março, e foi sentenciado a prisão perpétua.
Era tão injusto! Como podia ele continuar a viver, quando a minha filha tinha morrido?
Passaram-se meses e finalmente uma ano. A amargura e o ressentimento apoderavam-se de mim cada vez mais. Isto reflectia-se no meu procedimento, e especialmente na minha linguagem cáustica. Dei-me conta de que os meus companheiros de trabalho evitavam-me.
Nestas circunstâncias, naturalmente, não me sentia feliz. Convertida quase numa reclusa, recusava convites para jantar ou para assistir a actividades sociais, e ía à Igreja mais por hábito do que por desejo.
Transcorreram quase dois anos, anos de visitas solitárias às sepulturas de Patrícia e do meu esposo. Agora, com 62 anos, não me interessava quanto tempo mais poderia viver. A única coisa que parecia viver em mim era o ódio ardente que estava no meu interior como um fogo subterrâneo numa mina de carvão, fumegando, consumindo em mim tudo o que outrora havia respondido ao amor, ao riso e à beleza.

Foi então que ocorreu algo de decisivo numa fria manhã de Domingo, em Dezembro de 1971, na classe bíblica da minha Igreja.
Don Gentry, dirigente da Sociedade dos Gideões - Sociedade Religiosa Internacional que se dedica a distribuir Bíblias em grande escala -, veio para nos falar de um plano através do qual podíamos enviar Bíblias a qualquer parte, como uma homenagem a seres queridos.
Enquanto falava, as suas palavras pareciam desvanecer-se. Um outro Alguém estava-me falando com uma voz suave, delicada, que me sussurrava junto ao ombro: A Minha vida também teve um fim brutal. No entanto, o Meu Pai não desprezou os Seus filhos perdidos. Sabia que era Jesus. Consegue a liberdade perdoando, parecia dizer-me. Sai da tua prisão de ódio. As palavras que tinham sido ditas num sussuro junto ao meu ombro ressoavam-me aos ouvidos como sinos.

Querido Jesus, orei, como posso perdoá-lo de verdade com toda esta amargura que há no meu coração?
E veio a resposta: Esqueceste-te da Minha promessa? «Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celestial vos perdoará a vós» (Mateus 6:14).
A classe tinha terminado mas eu tinha a sensação de que tinham transcorrido apenas uns minutos. Sentia-me com se estivesse num estreito corredor, nem de um lado nem do outro. Tremente, levantei-me do assento e aproximei-me de Don Gentry. Ouvi que a minha voz lhe pedia que enviasse algumas Bíblias para a penitenciária. E depois, enquanto preenchia o cheque, perguntei: "Podem entregar uma de forma pessoal?»
"Sim", disse ele.
"Então levem uma Bíblia a um presidiário chamado Carlton Moore e digam-lhe: 'Porque Jesus a perdoa, a Sra Hanna o perdoa; e porque Jesus disse que devemos amar-nos uns aos outros, a Sra Hanna o ama.'"

Foi como se outra pessoa estivesse falando. Mas logo que as palavras me saíram da boca, senti como se eu tivesse saído duma cela de ferro, livrando-me de algo que me mantinha enclausurada.
Quando cheguei a casa, caí sobre a cama e comecei a chorar pela primeira vez durante meses, soluçando fortemente até que não me restaram mais lágrimas.
Senti-me livre. Quando tinha feito o gesto de perdoar com o presente da Bíblia, Deus tinha removido o rancor e a amargura que se tinham acumulado no meu coração por tanto tempo. Levantei-me e fui até à janela sentindo-me como uma criatura que enfrenta um novo dia.
Tinha deixado de nevar, e o sol resplandecia num mundo fresco e branco, com montanhas que se elevavam à distância. Sentia-me como se pudesse voar até esses picos e voltar sem barreira alguma. Junto da janela iniciei uma oração que prosseguiria por longo tempo, pedindo que Carlton Moore encontrasse a Jesus e fosse libertado espiritualmente, como me tinha sucedido a mim.

Passaram-se nove meses. Agora estava vivendo uma vida plena e feliz. Embora nada tivesse ouvido acerca do meu presente daquela Bíblia, não me preocupava. Ao regressar certa tarde de uma visita a uns amigos, entrei em casa e ouvi o telefone tocar. Era Don Gentry, da Sociedade dos Gideões.
"Onde tem estado? - disse rindo. - Tenho tentado comunicar-me com a senhora há já bastante tempo." Contou-me então que tinha uma carta para me ler. Era de B. L. Shelton e Harry Palmer, dos «gideões» que tinham levado a Bíblia de presente ao homem que matara a minha filha. "Digam à Sra. Hanna que ela me deu um presente como nunca antes tinha recebido. Creio que, se ela me pode mostrar tanto perdão, tenho esperança e fé que Deus pode fazer o mesmo por mim."

Quando Don Gentry acabou de ler a carta, estávamos a chorar fortemente de tal maneira que mal podíamos falar.
Agora a minha vida mudou mais ainda quando comecei a comunicar-me com Carlton Moore através dos que o visitavam e também mediante o intercâmbio de correspondência que se iniciara entre ambos.
Apercebi-me de que quando ele entrou na prisão tinha uma atitude grosseira e mal-humorada, mas depois de receber a Bíblia tinha mudado de forma notável. - "Ninguém, - disse ele - nunca me tinha dito que era amado, ou que Jesus me amava. Sempre me tinham dito que quando morresse iria para o inferno."

Nos anos que se seguiram à sua conversão, Carlton Moore transformou-se num novo homem, sempre pronto para ajudar os outros presidiários, ensinando-os a estudar a Bíblia de forma sistemática, dando-lhes conselhos e orando por eles, e distribuindo Bíblias e material religioso escrito, em parte do que eu lhe enviava.
Outro dia, recebi uma carta, típica das muitas que me têm chegado ultimamente. "Desejo que saiba, Sra Hanna - escreveu a irmã de um preso - que o meu irmão que está na prisão foi conduzido a Cristo por Carlton Moore. Jamais saberá o que isso significa para nós."
As lágrimas empanaram-me a visão. Sabia quanto significava para eles! Porque Deus me tinha mostrado que Carlton Moore se tinha convertido no missionário para Cristo que a minha filha tinha planeado ser.

O velho Carlton Moore tinha morrido, e o mesmo tinha sucedido com a velha e amargurada Hasula Hanna
quando ela encontrou o miraculoso poder do perdão.

Hasula Hanna
Traduzido e impresso com permissão de Guideposts.
Revista SINAIS DOS TEMPOS