sexta-feira, 10 de setembro de 2010

GOTINHA DE ÁGUA







Era uma vez uma menina
chamada Gotinha de Água...

Olha as praias lá em baixo!
E casas! E meninos a brincar!
E estradas e pontes
e automóveis e combóios a passar!

Depois o vento parou.
A gotinha estremeceu quando viu
dum lado a outro do céu
as nuvens escurecerem como breu.
Olhava para baixo e via
a terra seca, os campos secos,
secas as fontes,
as flores e as searas murchas,
e os homens tristes, muito tristes
sem pão para darem aos meninos.

Então, a menina Gotinha de Água,
que tinha nascido no mar e usava
um vestido de esmeralda e luar,
pensou:
E se eu fosse dar de beber
às flores, aos campos,
se eu fosse matar a sede
e a fome aos homens e aos meninos?
E disse muito alto às suas irmãzinhas:
- Vamos.
E deixou-se cair.
Ia à frente de milhões de gotinhas
todas vestidas de esmeralda e luar
e sorriam, cantavam e assobiavam
enquanto caíam.

A menina Gotinha de Água pousou
mesmo na boca duma flor
que sorrindo feliz lhe disse:
- Bendita! Bendita sejas!

E logo uma abelha, que andava por ali
em busca de pólen para fazer mel,
pousou numa pétala da linda flor
e falou-lhe assim:
Bom dia, meu amor.
Queres tu dar-me um pouquinho
do teu pólen para os meus favos?
E a flor de pétalas de ouro
abertas e cobertas de gotinhas de água,
todas vestidas de esmeralda e luar,
só lhe disse:
- Leva o pólen que quiseres para o teu mel!
O Sol brilhava agora cheio de alegria
e sacudia a luz da sua cabeleira
sobre o mundo.
E as searas que estavam a morrer de sede
encheram-se de espigas
e as árvores abriram no ar
os braços carregados de frutos
tão docinhos: ameixas, figos
maçãs, pêras e uvas!
E os homens, as mulheres e os meninos
agradeciam satisfeitos
à chuva que viera livrá-los
da sede e da fome.
- Obrigado!
Obrigado!


Papiniano Carlos
A Menina Gotinha de Água





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