segunda-feira, 26 de março de 2018



DESCUBRA  A  VERDADEIRA  PÁSCOA


COMO  ESPERA  DEUS  QUE  O  SEU  POVO  CELEBRE  A  PÁSCOA  ?

"No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo." João 1:29

       A Páscoa chega na primavera, despoletando na nossa sociedade sentimentos opostos e paradoxais: A euforia do comércio, abastecido com todo o tipo de ovos e coelhos de chocolate, relaciona-se antiteticamente com uma tristeza sombria que a lembrança do sofrimento de Cristo impõe a alguns; a abstinência da sexta-feira da Paixão opõe-se aos festejos do domingo de Páscoa; a degradante queima do Judas contrasta com o sentimento de fraternidade que envolve as pessoas nesta época do ano.

Estas antíteses são ainda maiores quando pensamos nos símbolos que integram o universo pascal na Cristandade de hoje: o ovo e o coelho (muito enfatizados) opõem-se à cruz e ao cordeiro (minimamente recordados). Ao pensarmos nestes paradoxos pascais, surgem algumas perguntas:
- Afinal o que é a Páscoa?
- Qual é a origem da atual ênfase em símbolos como o do coelho ou o do ovo?
- Porque foi instituída a Verdadeira Páscoa, e qual é o significado dela para hoje e para o futuro?


A PÁSCOA PAGÃ

       A configuração da Páscoa que predomina atualmente na Cristandade desvia-se muito do que a Bíblia prescreveu sobre esta festividade. A Páscoa bíblica foi instituída para celebrar a libertação do povo israelita do cativeiro egípcio. Ela teve o seu início a partir da morte dos primogénitos residentes no Egito, em cuja casa não houvesse, nos umbrais da porta, o sangue do cordeiro pascal. O foco central desta festa está na morte do cordeiro, de quem vem o sangue que livra da morte e, portanto, que liberta da escravidão. Assim, a tipologia permite-nos ver na morte de Jesus (e não na Sua ressurreição) o cerne da Páscoa bíblica (I Coríntios 5:7).
       Quando Deus estabeleceu esta festa, Ele quis deixar claro o ensino de que a libertação dos Israelitas do cativeiro egípcio representa a libertação maior de todo aquele que crê no sacrifício substitutivo de Cristo. Por causa do pecado, todos os seres humanos estão condenados à destruição, mas em virtude do sangue que Jesus, o Cordeiro de Deus, derramou no Calvário, serão salvos todos os que aceitarem para si este sacrifício.
       Não é insignificante o facto de o foco da Páscoa ter sido deslocado para a ressurreição de Cristo. É verdade que o facto de Jesus ter ressuscitado, consolida a Sua vitória sobre o pecado. Mas a Bíblia tem outros símbolos para a ressurreição, como o Batismo por imersão, por exemplo (Romanos 6:4; Colossenses 2:12), e nunca relaciona o sentido da Páscoa com a ressurreição do Senhor. Na verdade, esta troca é um erro subtil e grave que foi introduzido no Cristianismo com o propósito de acomodar a religião de Cristo ao paganismo.

       Muitas culturas antigas celebravam uma espécie de Páscoa, que estava sempre relacionada com ofertas aos deuses pagãos, de modo a tornar a terra fértil para o cultivo agrícola. Por exemplo, o termo "Páscoa" em inglês é Easter e em alemão é Ostern. Ambos os termos derivam da expressão anglo-saxónica Eostre, que era o nome de uma deusa nórdica da primavera. Eostre (equivalente a Astaroth, deusa cananeia, e a Ceres, deusa romana) era a divindade anglo-saxónica e teutónica supostamente responsável pelo ressurgimento da vida vegetal na primavera, após os rigores do inverno. O apogeu das festividades em honra desta deusa ocorria em março, no início da primavera, período em que muitas culturas antigas celebram a festa dos deuses da fertilidade primaveril. De acordo com os mitos nórdicos, o coelho, por ser considerado muito fértil, era o animal preferido de Eostre. Os ovos eram os principais objetos usados para adorar a deusa, por serem vistos como símbolo da vida, do nascimento e da ressurreição. Para adorar Eostre e para propiciar as suas bênçãos também eram oferecidos sacrifícios vegetais, animais e humanos.1 Posteriormente, em louvor a Eostre, foi instituído o sabbat pagão, no primeiro dia da primavera, para se celebrar o renascimento da Natureza, chamado Ostara. O Cristianismo apóstata reinterpretou este dia, transferindo o seu significado para o domingo de Páscoa.
       Ao contrário da Páscoa bíblica, a Páscoa "cristã", como se celebra hoje em dia, não tem um dia fixo no calendário. Ela pode ocorrer entre os dias 22 de março e 25 de abril, pois, de acordo com a tradição, deve ser comemorada no primeiro domingo após a Lua cheia do início da primavera. Esta calendarização foi estabelecida no Concílio de Niceia, no ano 325, por forte influência do imperador romano Constantino, que pretendia assim diferenciar os Cristãos dos Judeus. No fundo, o objetivo do imperador era associar cada vez mais o Cristianismo ao paganismo, como no caso da transferência do dia de guarda semanal. Entretanto, a Cristandade só passou a comemorar unanimemente a Páscoa, segundo a resolução de Niceia, depois do decreto do papa Gregório XIII, em 1582. 2
       O que dissemos até aqui permite perceber a áurea pagã que permeia a Páscoa "cristã" na atualidade. A Cristandade reinterpretou a Páscoa, inserindo símbolos pagãos, alterando a sua data e deslocando o significado vicário que estava na base do propósito de Deus ao estabelecer essa festa. Este propósito era o de representar didaticamente o sacrifício substitutivo de Cristo, simbolizado no cordeiro que morreria com o propósito de que o seu sangue assinalasse a salvação do crente que se apega com fé à dádiva gratuita de Deus.


A PÁSCOA BÍBLICA


       A Páscoa bíblica foi estabelecida como marco para se comemorar a libertação do cativeiro egípcio. A prescrição divina estabeleceu que, na noite em que Deus desferiria o derradeiro golpe sobre o Egito, matando os primogénitos, quem estivesse ao abrigo do sangue do cordeiro colocado nos umbrais da porta seria poupado, pois o anjo destruidor passaria por aquela casa sem causar destruição. Naquela noite, todas as casas que não tinham o sangue nos umbrais da porta receberam a terrível visita do anjo destruidor. Mas as casas dos Hebreus foram poupadas, pois nelas havia o sinal de que o anjo deveria passá-las por alto. Assim, é do verbo hebreu que significa "passar sobre" que deriva a origem etimológica do termo Páscoa (em hebreu, Pessach).
       A Páscoa é uma bela representação da Salvação. Como escreve Ángel Manuel Rodríguez: "Enquanto no Egito todos os primogénitos morreram, entre os Hebreus uma vítima sacrificial morreu."3 Isto ensina-nos que a Salvação se encontra nos méritos substitutivos do sangue do Cordeiro. A Páscoa estava associada à décima praga e foi a causa que levou o Faraó a permitir a saída do povo de Israel do Egito. Nesse sentido, a Páscoa simboliza a nossa libertação do cativeiro do pecado.
       É interessante observar que esta festa foi instituída para representar a salvação de todo o povo de Israel, que sairia do Egito em consequência dos acontecimentos decorrentes daquela noite de visitação divina. Mas isso só seria possível, se o processo fosse realizado particularmente, no âmbito das famílias. Ou seja, para que todos fossem salvos e para que cada primogénito fosse poupado, cada família do povo deveria sacrificar um cordeiro. Não se tratava de um sacrifício generalizado, mas sim, de um sacrifício personalizado, familiar. Cada família deveria sentir a necessidade de buscar o Senhor: "Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês, cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família" (Êxodo 12:3; itálico acrescentado).

       A Páscoa bíblica ensina que, embora a Salvação de Deus pretenda alcançar todos, ela deve ser vivida individualmente, e a família é o núcleo central a partir do qual o Senhor deseja projetar a Sua bênção sobre toda a Humanidade. Aquele cordeiro morto era um tipo de Jesus, "o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (João 1:29). Entretanto, apenas aqueles que n'Ele crerem terão a vida eterna (João 3:16), a exemplo dos Hebreus, que só foram libertados do Egito porque creram na Palavra de Deus, sacrificaram o cordeiro e marcaram as suas portas.
       Sempre foi desejo de Deus que cada família fosse um centro de Salvação. Somente a partir de um reavivamento genuíno das famílias do povo de Deus, é que as pessoas, individualmente, poderão ser efetivamente tocadas, alcançadas. Por isso, torna-se evidente o motivo de Satanás trabalhar ardilosamente para destruir as famílias na atualidade. A vontade de Deus é proteger os lares da destruição causada pelo pecado que predomina no mundo de hoje. Cada pai, mãe, filho ou filha podem vencer, se tiverem, no coração, a marca do sangue de Jesus.


       Seguindo o rito realizado no dia da libertação do cativeiro, todos os Israelitas, ao festejarem a Páscoa, deveriam separar um cordeiro no décimo dia do primeiro mês do ano judaico (Nisã) e sacrificá-lo no décimo quarto dia à tarde (Êxodo 12:1-6). Os Evangelhos demonstram que Jesus cumpriu cabalmente todas as especificações tipológicas da Páscoa e, por isso, pôs fim à necessidade de a comemorarmos. Em memória do Seu sacrifício o Senhor estabeleceu a Santa Ceia que deve ser celebrada até que Ele volte (I Coríntios 11:26). "Ao comer a Páscoa com os Seus discípulos, instituiu em seu lugar o serviço que havia de comemorar o Seu grande sacrifício. A festa nacional dos Judeus devia cessar para sempre. O serviço que Cristo estabeleceu devia ser observado pelos Seus seguidores em todas as terras ao longo de todos os séculos."4
       Para o Cristão, a Páscoa é Cristo. Sempre que alguém aceitar o sacrifício vicário do Salvador, encontrará o verdadeiro sentido da Páscoa. E a cerimónia que Jesus instituiu para celebrar isto foi a Santa Ceia. Embora seja muito solene, esta ocasião é também uma ocasião festiva, pois o seu propósito é reavivar na memória do Cristão a certeza da Salvação. Ninguém deve excluir-se, nem deve ser impedido de participar.5  A Santa Ceia é o símbolo do perdão e da reconciliação.
       Mesmo que a Páscoa tenha sido substituída pela Ceia do Senhor, e ainda que esteja corrompida pelas influências do paganismo, a sua comemoração na atualidade é uma importante oportunidade de evangelização, pois as pessoas são levadas a pensar em Jesus nessa data. Assim, a Igreja deve aproveitar para ensinar o verdadeiro sentido desta festa e o seu cumprimento pleno em Cristo. O olhar das pessoas deve ser orientado para a Páscoa definitiva, que ocorrerá na Segunda Vinda de Jesus, quando Deus libertar completamente os Seus filhos do cativeiro do pecado.


      

A PÁSCOA ESCATOLÓGICA

       O evangelista João serviu-se do verdadeiro ícone pascal, o cordeiro, para falar da Salvação eterna. O último livro da Bíblia, Apocalipse, esboça um cenário em que o mundo vive os seus dias finais. O povo de Deus é perseguido, as pragas caem sobre os ímpios e o mundo natural é destruído. O quadro é tão caótico que, em Apocalipse 6:17, surge a pergunta: "Quem poderá subsistir?" A impressão com que ficamos é a de que todos estão condenados e ninguém conseguirá escapar da destruição. No entanto, surge em cena um grupo especial, que passa incólume pelos terríveis eventos finais da história do mundo. Essas pessoas estarão seladas (Apocalipse 7:3), não receberão o sinal da besta (Apocalipse 13:16) e marcarão os "umbrais" do seu coração com a obediência ao Cordeiro (Apocalipse 7:14; 14:4).

       Tal como na Páscoa original, o sangue do Cordeiro é a grande causa da vitória deste povo, a despeito da feroz perseguição que sofrerá. Estas pessoas são vividamente descritas como "os que vêm da grande tribulação, lavaram as suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro" (Apocalipse 7:14; itálico acrescentado). O sangue de Jesus livrará estes fiéis da destruição, mantê-los-á firmes na tribulação e introduzi-los-á na Canaã celestial.


       A Páscoa original marcou a saída do povo de Israel do Egito e o início da sua trajetória de quarenta anos pelo deserto até à Canaã terrestre. A Páscoa antitípica - a morte de Jesus na cruz - marca o início da caminhada dos Cristãos para a Canaã celestial. Na Páscoa original, a orientação foi: "Desta maneira o comereis: lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão; comê-lo-eis à pressa; é a Páscoa do Senhor" (Êxodo 12:11). O mesmo vale para a Páscoa definitiva. Devemos sentir urgência em seguir para Canaã e nos apropriarmos, com avidez, da "carne" e do "sangue" do Cordeiro, que alimentam a nossa vida espiritual, dando-nos força para prosseguir na jornada.


A propósito, esta situação evoca a antiga e poética pergunta: "Ainda é longe Canaã?" Sinceramente, NÃO!

       Canaã está às portas!


Vinícius Mendes
Editor-associado da Casa Publicadora Brasileira. Folheto editado em Portugal pela Publicadora SerVir

1. Mirela Faur, Mistérios Nórdicos, São Paulo: Editora Pensamento, 2007, p.134.
2. J. Lopez Marin, A Celebração na Igreja: Ritos e Tempos da Celebração, São Paulo: Edições Loyola, 2000, p.42.
3. Ángel Manuel Rodríguez, Israelite Festivals and the Christian Church, 2005, p.2, disponível em adventistbiblicalresearch.org/sites/default/files/pdf/release%203.pdf.
4. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p.559, ed. P. SerVir.
5. Idem, p. 563.



- Pode ouvir músicas da Páscoa no último grupo dos links de Meditação para a Saúde e de Uma Palavra Amiga -