quinta-feira, 19 de março de 2015

O HOMEM E SEUS FILHOS


"Pode  Ser  Difícil  Para  Alguns  Pais  Não  Terem  um  Filho,
Porém  Muito  Mais  Difícil  é  Para  um  Menino  Não  Ter  um  Pai."
– Sara Gilbert


          

Eu caminhava para meu carro no estacionamento de um shopping center algumas semanas atrás, quando ouvi um uivo alto e veemente.
- Uiiihh! - gemeu uma voz masculina.
Vi, cerca de quinze metros de distância, um homem em grande aflição (e por um motivo muito bom). Seus dedos estavam presos no batente da porta do carro que obviamente fora fechada inesperadamente. Então o resto da história se desenrolou. Agachado no banco da frente encontrava-se um buliçoso garotinho de 3 anos que aparentemente havia resolvido "fechar a porta no papá".
O pai apontava freneticamente os dedos com a mão livre, e dizia: - Oh! Oh! Abra a porta, Chuckie! Eles estão presos... depressa... Chuckie... por favor... abra ... ABRA!
Chuckie finalmente entendeu o recado e destrancou a porta, soltando os dedos azulados do papá. O pai então ficou dando pulinhos pelas alas do estacionamento, alternadamente beijando e afagando a mão contundida. Chuckie permaneceu impassível, sentado no banco da frente do carro, esperando que o "velho" se acalmasse.


Sei que este incidente foi doloroso para o homem que passou por ele, mas tenho de admitir que achei graça. Suponho que a dificuldade dele simbolize o enorme custo de criar filhos. Sim, meu caro, custa muito criar meninos e meninas hoje! Os pais dão o melhor que têm aos filhos, que em geral reagem dando com a porta nos "dedos" deles - especialmente durante os anos ingratos da adolescência. Talvez seja por isso que alguém tenha brincado: "Insanidade é uma doença hereditária. A gente pega dos filhos."

Mas há outra coisa que pegamos dos nossos filhos, para além de amor e significado e propósito e uma oportunidade de dar.
Eles também nos ajudam a manter nosso senso de humor, que é essencial à estabilidade emocional nestes dias tão tensos. Isso me faz lembrar do filho de 11 anos de Anne Ortlund que ela descreveu em seu livro Disciplines of a Beautiful Woman1. Ela havia levado aquele garoto desordeiro ao pediatra para um exame médico de rotina. Antes de o médico atender, entretanto, a enfermeira pesou e mediu o garoto e pesquisou seus antecedentes de saúde.
- Diga-me, D. Anne - perguntou a enfermeira, - como ele está dormindo?
Nels respondeu por si próprio.
- Eu durmo muito bem. - A enfermeira anotou aquilo.
- Como está o apetite dele, D. Anne?
- Eu como tudo - disse Nels. Ela anotou.
- D. Anne, como estão os intestinos dele?
O garoto respondeu:
- A, E, I, O e U.
2

Essas lembranças são inestimáveis para o pai ou mãe que esteja cansado demais para notar. Deixe-me compartilhar mais uma história verdadeira. Um pai me contou recentemente sobre um garoto de 5 anos que estava sentado no vaso sanitário no exato momento em que um terramoto sacudiu o município de Los Angeles em 9 de fevereiro de 1971. O choque foi tão severo que derrubou aquele garoto do vaso. Mas nunca tendo passado por um terramoto antes, ele achou que o estrondo do terramoto havia sido causado por sua própria atividade no banheiro. "O que foi que fiz, mamã?" perguntou ele com espanto inocente.

A família é literalmente um "museu de lembranças" para aqueles que foram abençoados com a presença de crianças. Embora meus filhos já estejam crescidos agora, posso me lembrar de dez mil episódios que estão cuidadosamente preservados em minha mente. As "fitas de vídeo" dos seus primeiros anos estão entre os meus tesouros mais valorizados: mesmo agora, vejo uma garota de 6 anos chegando da escola. Seu cabelo está desgrenhado e uma meia está caída ao redor do tornozelo. É óbvio que ela esteve a rodar de cabeça para baixo no parquinho da escola. Ela pede um copo de leite e senta-se à mesa da cozinha, inconsciente da ternura e do amor que sinto por ela naquele momento. Depois ela sai correndo para brincar.

Outra "fita" começa a rodar. Vejo um garotinho de 4 anos com um curativo no joelho e migalhas de pão no rosto. Ele aproxima-se da minha cadeira e pede para se sentar no meu colo.
- Desculpe - respondo. - Só há um menino no mundo que pode subir no meu colo quando quiser.
- Quem é? - replica ele.
- Oh, você não o conhece. É um garoto chamado Ryan.
- Mas meu nome é Ryan!
- Sim, mas o garoto de quem estou falando tem cabelos loiros e olhos azuis.
- Você não está vendo meus cabelos loiros? E meus olhos são azuis.
- Sim, mas muitos meninos têm tudo isso. O único garoto que pode subir no meu colo é o meu filho... meu único filho... que eu amo.
- Ei, sou eu! Eu sou seu filho. Meu nome é Ryan. E estou subindo!
Essa brincadeira foi feita durante sete anos, e ainda tem significado.


Mas posso ouvir meus leitores dizendo:
- Você é apenas um sentimental!
- Pode apostar que sou mesmo! - respondo. Não tenho vergonha de admitir que me importo com as pessoas, e que sou mais vulnerável às da minha própria família. Desfrutei cada fase da vida dos nossos dois filhos e gostaria que eles (e nós) pudessem permanecer jovens para sempre.
Não fomos apenas Shirley e eu que apreciámos os anos de desenvolvimento. Danae e Ryan aparentemente compartilharam essa apreciação. Nossa filha, especialmente, amou cada aspecto da infância e tem tido muita relutância em deixá-la. Seus discos e animais de peluche e seu quarto têm sido muito valiosos para ela desde que era pequena. Da mesma forma ela sentou-se no colo do Papai Noel por mais quatro anos mesmo depois de ficar sabendo que ele era uma farsa. Mas, que pena, ela fez 13 anos e começou a ouvir a batida de outros tambores.
Mais ou menos um ano depois, ela recordou os brinquedos e discos, fazendo uma pilha bem arrumada e deixando-os na frente da porta do quarto de Ryan. Em cima estava um bilhete que Shirley me levou com lágrimas nos olhos. Dizia:
Querido Ryan: Estes agora são seus. Cuide bem deles como tenho feito.
Com amor,
Danae

          

Aquela breve mensagem indicava o fechar da porta chamada "Infância". E uma vez fechada, não há força na terra que a possa abrir de novo. É por isso que os anos da primeira infância e da idade escolar devem ser vistos como oportunidades fugazes. Contudo, esse período incalculável de influência em geral ocorre numa época em que os pais estão menos acessíveis aos filhos. Eles estão tentando se estabelecer em suas ocupações, competindo e correndo e ofegando e bufando, arrastando para casa uma pasta cheia até o topo de trabalho a fazer à noite, disparando para o aeroporto a fim de apanhar o último avião para outro lugar, pegando um segundo emprego para pagar aquelas contas das férias, e finalmente desabando sobre a cama num estado de exaustão total. Outro dia se passou, sem nenhum diálogo entre papá e seu garotinho ou garotinha pronto para aprender.
Certa mãe me contou que ouviu seu filhinho pré-escolar conversando com outro garoto de 4 anos nos degraus da frente.
- Onde está o seu pai? - perguntou. - Eu nunca o vi.
- Oh, ele não mora aqui - veio a resposta. - Apenas dorme aqui.

Sem querer amontoar culpa sobre as cabeças de meus leitores masculinos, preciso dizer que há pais demais que apenas dormem em suas casas. Como resultado, abdicaram totalmente de suas responsabilidades de liderança e influência na vida dos filhos. Citei um estudo em meu livro anterior O Que as Esposas Desejam Que Seus Maridos Saibam a Respeito das Mulheres, que documentou o problema de pais inacessíveis.
Deixe-me citar o que tirei daquela fonte:
Um artigo na revista Scientific American intitulado "As Origens da Alienação", por Urie Bronfenbrenner descreve bem os problemas que confrontam as famílias hoje. O Dr. Bronfenbrenner é, na minha opinião, a mais proeminente autoridade em desenvolvimento infantil nos Estados Unidos hoje, e suas opiniões devem ser consideradas cuidadosamente. Nesse artigo, o Dr. Bronfenbrenner discutiu a deterioração da posição da família americana e as forças que estão enfraquecendo sua coesão. Mais especificamente, ele está preocupado com as circunstâncias que estão solapando o amor dos pais e privando os filhos da liderança e amor que precisam ter para sobreviver.
Uma dessas circunstâncias é muito conhecida como a "dança da vida". O Dr. Bronfenbrenner descreveu o problema desta forma: "As exigências de um emprego que exige o horário das refeições, noites e fins-de-semana além dos dias; as viagens e mudanças necessárias para progredir ou simplesmente conservar o que já se conseguiu; o tempo cada vez maior gasto indo e vindo do trabalho, entretendo, saindo, cumprindo obrigações sociais e comunitárias... tudo isto produz uma situação na qual a criança frequentemente passa mais tempo com uma babá passiva do que com um pai ou mãe participante."
Segundo o Dr. Bronfenbrenner, essa dança da vida é particularmente incompatível com as responsabilidades paternas, como ilustra uma recente investigação que produziu resultados chocantes. Uma equipe de pesquisadores queria saber quanto tempo os pais da classe média passavam brincando e interagindo com os filhos pequenos. Primeiro, pediram a um grupo de pais que avaliasse o tempo gasto com seus filhinhos de 1 ano, cada dia, e receberam uma resposta média de 15 a 20 minutos. Para averiguar essas alegações, os investigadores prenderam microfones nas camisas das crianças pequenas com o intuito de gravar a verbalização real dos pais. Os resultados desse estudo são chocantes: A quantidade média de tempo gasto por esses pais de classe média com os filhos pequenos era de 37 segundos por dia! Sua interação direta estava limitada a 2,7 contactos diários, que duravam de 10 a 15 segundos cada! Essa, pelo que parece, representa a contribuição dos pais a milhões de crianças americanas!
Comparemos as interações de 37 segundos entre pais e filhos pequenos com outra estatística. O pré-escolar médio assiste de 30 a 50 horas de televisão por semana (os números variam de um estudo para outro.) Que quadro incrível é pintado por essas duas estatísticas! Durante os anos de formação da vida, quando as crianças são tão vulneráveis às suas experiências, estão recebendo 37 segundos por dia dos pais, e 30 ou mais horas por semana da televisão comercial! Será preciso perguntar de onde nossas crianças estão tirando seus valores?
Observou alguém: "Os valores não são transmitidos aos nossos filhos: são contraídos por eles," É verdade. Raramente conseguimos fazer com que o Zezinho ou a Mariazinha se sentem pacientemente numa cadeira enquanto lhes pregamos/falamos sobre Deus e outras questões importantes da vida. Pelo contrário, eles estão equipados com "motores" internos que são incapazes de funcionar em marcha lenta. Sua transmissão consiste de apenas seis marchas: correr, saltar, subir, rastejar, escorregar e mergulhar. Meninos e meninas simplesmente não têm a fiação certa para conversas calmas sobre tópicos pesados.
Como, então, pais conscienciosos transmitem suas atitudes e valores e fé aos filhos? Isso é feito subtilmente, através das interações rotineiras da vida cotidiana. Vimos esse fato ilustrado em nossa própria casa quando Danae estava com 10 anos de idade, e Ryan 5.

Dávamos uma volta de carro quando passámos na frente de um cinema de filmes pornográficos. Creio que o nome daquele filme particular era bem sugestivo e sensual. Danae, que estava sentada na frente, apontou o cinema e falou:
- Aquele é um filme sujo, não é, papá?
Acenei afirmativamente com a cabeça.
- É isso que eles chamam de filme proibido para menores? - perguntou ela.
De novo, indiquei que ela estava certa.
Danae pensou durante um ou dois instantes e depois disse:
- Filmes sujos são realmente ruins, não são?
- Sim, Danae - respondi. - Filmes sujos são muito ruins.
A conversa toda durou menos de um minuto, consistindo de três breves perguntas e três respostas. Ryan, que estava no banco de trás, não participou de nossa discussão. De fato, conjeturei o que ele pensou sobre o diálogo, e concluí que provavelmente não estava ouvindo.
Mas eu estava enganado. Ryan ouviu a conversa e aparentemente continuou pensando sobre ela por diversos dias. Mas o engraçado é que Ryan não sabia o que era um "filme sujo". Como podia um garoto de 5 anos saber o que acontece nesses lugares se ninguém jamais conversara com ele sobre pornografia? Não obstante, ele tinha ideias próprias sobre o assunto. Esse conceito me foi revelado quatro noites depois, no fim do dia.
Ryan e eu nos colocámos de joelhos para fazer a sua oração antes de dormir, e o pré-escolar espontaneamente voltou àquela conversa do começo da semana.
"Querido Senhor", começou ele muito sério, "me ajude a não ir ver nenhum filme sujo... onde todo o mundo fica cuspindo no outro."
Para Ryan, a coisa mais suja que ele podia imaginar seria uma farra salivar. Isso seria sujo, tive de admitir.


Mas também tive de reconhecer com que casualidade as crianças assimilam nossos valores e atitudes. Sabe, eu não tinha como antecipar aquela breve conversa no carro. Não foi minha intenção deliberada passar meus conceitos sobre pornografia a meus filhos. Como foi que eles aprenderam mais uma dimensão do meu sistema de valores naquela manhã? Isso ocorreu porque por acaso estávamos juntos... para estarmos conversando uns com os outros. Esses tipos de interações subtis, não planejadas, são responsáveis por muito da instrução que passa de uma geração para a outra. Ela é uma força poderosa para moldar vidas jovens, se! Se pais e mães estiverem de vez em quando com os filhos; se tiverem a energia para conversar com eles; se tiverem algo de valor para transmitir; se se importarem.

          

O que estou querendo mostrar é que o estilo de vida esbaforido que temos em nosso país é particularmente oneroso para as crianças. Contudo, 1,8 milhões de jovens chega em uma casa vazia depois que voltam da escola. Eles são chamados de garotos "da chave" porque usam as chaves da porta da frente penduradas ao pescoço. Não apenas seus pais estão sobrecarregados de compromissos e trabalho, mas agora, suas mães estão energicamente buscando realização no mundo do trabalho. Então, quem fica em casa com as crianças? É muito comum a resposta ser: ninguém.
Uma música popular retrata com muita beleza o custo do excesso de compromissos na vida da família. Ela foi escrita por Sandy e Harry Chapin, que lhe deram o título de: "O Gato Está no Berço", tirado de rimas infantis.

O Gato Está no Berço

Meu filho chegou pouco tempo atrás, veio ao mundo como todo mundo faz.
Mas havia aviões para tomar e contas para pagar.
Enquanto eu estava fora, ele aprendeu a andar e estava falando
antes de eu saber o que acontecia, e ao crescer dizia:
- Vou ser como você, pai, você sabe que vou ser como você.

E o gato está no berço e a colher de prata, o garoto de azul e o homem na lua.
- Quando você virá para casa, papá?
Não sei quando, não, mas ficaremos juntos então, você sabe que nos divertiremos muito.

Meu filho fez 10 anos pouco tempo atrás e disse: Obrigado pela bola, pai, vamos jogar,
você me ensina a chutar? - Hoje não, disse eu, tenho muito o que fazer.
Tudo bem, ele falou, e se foi, mas o sorriso continuou, dizendo:
Vou ser como ele é, sim, você sabe que vou ser assim.

E o gato está no berço e a colher de prata, o garoto de azul e o homem na lua.
- Quando você virá para casa, papá?
- Não sei quando, não, mas ficaremos juntos, então, você sabe que nos divertiremos muito.

Bem, ele voltou da faculdade pouco tempo atrás parecendo tanto um homem que eu tive de falar:
- Filho, me orgulho de você, venha conversar.
Ele meneou a cabeça, sorriu e falou: - O que realmente quero, pai,
se puder me emprestar, é a chave do carro, vejo você depois.

- Quando você vem para casa, filho?
- Não sei quando, não, mas ficaremos juntos, então, você sabe, que nos divertiremos muito.

Já faz tempo que me aposentei, meu filho se mudou. Liguei para ele outro dia mesmo.
Disse que gostaria de ver você, se não se importa.
Gostaria muito, pai - ele falou - se arranjar tempo.

Sabe, meu novo emprego está difícil e a criançada doente, mas foi muito bom
falar com você, pai, foi bom mesmo falar com você.
Ao desligar o telefone refleti - ele havia crescido igualzinho a mim; meu filho é como eu.

E o gato está no berço e a colher de prata, o garoto de azul e o homem na lua.
- Quando você virá para casa, filho?
- Não sei quando, não, mas ficaremos juntos então, pai, você sabe que nos divertiremos muito.


Será que essas palavras enfiam a carapuça em alguém mais, além de mim? Você tem sentido os anos passando rápido com número excessivo de promessas não cumpridas feitas a seus filhos? Você já se pegou dizendo:
Filho, temos falado daquele carrinho que vamos construir um destes sábados, e quero que você saiba que não me esqueci. Mas não podemos este fim-de-semana porque tenho de fazer uma viagem inesperada. Entretanto, nós vamos construí-lo um dia destes. Não tenho certeza de que pode ser no próximo fim-de-semana, mas continue a me relembrar e um dia vamos acabar trabalhando juntos. E vou levar você para pescar também. Eu amo pescar e sei de um riozinho que está pululando de tilápia na primavera. Mas este está sendo um mês muito ocupado para sua mãe e para mim, por isso vamos continuar fazendo planos e antes que você perceba, vai chegar a hora.

Então os dias logo se transformam em semanas, e as semanas viram meses e anos e décadas... e nossos filhos crescem e saem de casa. Então nos sentamos no silêncio de nossas salas, tentando relembrar as preciosas experiências que nos escaparam ali. Ressoando em nossos ouvidos está aquela frase inquietante: "Nós nos divertiremos... muito..."
Oh, sei que estou acrescentando um bocado de culpa ao seu prato com estas palavras. Mas talvez precisemos ser confrontados com as questões importantes da vida, mesmo que elas nos façam sentir certo desconforto. Ademais, sinto-me na obrigação de falar em favor de milhões de crianças em todo o mundo que estão buscando pais que não estão presentes. Os nomes de meninos e meninas específicos me vêm à mente enquanto escrevo estas palavras, simbolizando as multidões de crianças solitárias que experimentam a agonia de necessidades não satisfeitas. Deixe-me apresentar-lhe duas ou três dessas crianças cujos caminhos cruzei.
Penso primeiro na mãe que me abordou após eu ter dado uma palestra há alguns anos. Ela havia sustentado o marido enquanto ele cursava a faculdade e a escola de medicina, só para vê-lo divorciar-se dela em favor de uma jovenzinha frívola. Ela ficou ali, com lágrimas nos olhos ao descrever o impacto que a partida do marido teve sobre seus dois filhos.
- Eles têm saudades do pai todos os dias - falou ela. - Não entendem porque ele não vem vê-los. O mais velho, especialmente, quer tanto o pai que se apega a todo homem que entra em nossas vidas. O que posso dizer a ele? Como posso satisfazer as necessidades que o menino tem de um pai? Que cace e pesque e jogue bola e patine com ele e o irmão? Está partindo meu coração vê-los sofrer tanto.
Dei algumas sugestões àquela mãe e ofereci minha compreensão e apoio. Na manhã seguinte falei pela última vez em sua igreja. Após o culto, fiquei na plataforma enquanto uma fila de pessoas esperavam para se despedir de mim e me cumprimentar. Ali na fila estava a mãe com os dois filhos.
Eles me cumprimentaram sorrindo e troquei um aperto de mão com o menino mais velho. Então aconteceu algo de que não me lembrei até estar de volta a Los Angeles. O menino não largou a minha mão! Ele a agarrou com força, impedindo-me de saudar outras pessoas que me cercavam. Para tristeza minha, percebi depois que eu havia inconscientemente segurado seu braço com minha outra mão, puxando e soltando a que ele prendia. Sentado no avião, percebi toda a implicação daquele incidente. Sabe, aquele rapazinho precisava de mim. Ele precisava de um homem que pudesse tomar o lugar do pai renegado. E eu falhara para com ele, exatamente como todos os outros. Agora tudo o que me resta é a lembrança daquela criança que disse com os olhos: "Será que você pode ser um pai para mim?"!

Outra criança encontrou lugar permanente em minha lembrança, embora eu nem mesmo saiba seu nome. Eu esperava para tomar um avião no Aeroporto Internacional de Los Angeles, divertindo-me com minha atividade favorita de "observar pessoas". Mas estava despreparado para o drama que se desenrolaria. Perto de mim encontrava-se um senhor idoso obviamente esperando alguém que deveria ter estado no avião que chegara minutos antes. Ele examinava cada rosto atentamente à medida que os passageiros passavam por ali. Achei que ele parecia inusitadamente perturbado enquanto esperava.
Então vi a garotinha que estava ao seu lado. Ela devia ter 7 anos de idade e também procurava desesperadamente certo rosto na multidão. Raramente vi uma criança mais ansiosa do que aquela belezinha de menina. Ela se agarrava ao braço do velho, que presumi ser seu avô. Então, quando os últimos passageiros saíram, um a um, a garota começou a chorar silenciosamente. Ela não estava apenas desapontada naquele momento: seu coraçãozinho estava partido. O avô também parecia estar lutando contra as lágrimas. Na verdade, ele estava aborrecido demais para consolar a criança, que então enterrou o rosto na manga do casaco surrado do avô.
Oh, Deus!" orei silenciosamente. "Que agonia especial eles estão passando nesta hora? Foi a mãe da criança que a abandonou nesse dia doloroso? Será que seu pai prometeu vir e depois mudou de ideia?"
Meu grande impulso foi o de atirar os braços ao redor da garotinha e protegê-la do horror daquela hora. Eu queria que ela derramasse a sua dor na proteção do meu abraço, mas temi que minha intrusão pudesse ser mal compreendida. Por isso fiquei observando impotente. Então o velho e a criança ficaram ali em silêncio enquanto os passageiros de dois outros aviões desembarcavam, mas a ansiedade em seus rostos se havia transformado em desespero. Finalmente, eles caminharam lentamente pelo terminal na direção da porta. O único som que faziam era o arrastar de pés da garotinha que lutava para controlar as lágrimas.
Onde está essa criança agora? Só Deus sabe.

Se o leitor tiver mais um pouco de paciência comigo, preciso apresentar-lhe mais uma criança cuja experiência familiar se tornou tão comum no mundo ocidental. Eu esperava num hospital por notícias sobre a condição do coração de meu pai, após ele ter sofrido um enfarte em setembro. Ali, na sala de espera, havia uma revista, Garota Americana, que chamou minha atenção. (Eu devia estar muito desesperado por algo para ler para ter recorrido a uma revista dessas.)
Abri na página da frente e imediatamente vi uma composição escrita por uma garota de 14 anos chamada Vicki Kraushaar. Ela havia submetido sua história para publicação na seção da revista intitulada "Por Você". Deixarei que Vicki se apresente e descreva sua experiência.

           

É Assim Que A Vida É Às Vezes

Quando eu tinha 10 anos, meus pais se divorciaram. Naturalmente meu pai me contou a respeito, porque ele era o meu favorito. (Observe que Vicki não disse: "eu era a favorita dele".)
- Benzinho, sei que tem sido meio ruim para você estes últimos dias, e não quero piorar as coisas. Mas há algo que preciso de lhe contar. Meu bem, sua mãe e eu nos divorciámos.
- Mas, papá...
- Sei que você não quer isto, mas tem de ser feito. Sua mãe e eu simplesmente não nos entendemos como antes. Já fiz as malas e o avião sai em meia hora.
- Mas, papá, por que você tem de ir embora?
- Bem, querida, sua mãe e eu não podemos mais viver juntos.
- Eu sei, mas quero dizer por que você tem de sair da cidade?
- Oh! Bem, tenho alguém esperando por mim em outro estado.
- Mas, papá, verei você de novo?
- Claro que sim, meu bem. Arranjaremos algumas oportunidades.
- Mas o quê? Quero dizer, você vai estar morando lá longe e eu estarei morando aqui?
- Talvez sua mãe concorde que você passe comigo duas semanas no verão e duas no inverno.
- Por que não mais vezes?
- Não acho que ela vá concordar com duas semanas no verão e duas no inverno, quanto mais outras ocasiões.
- Bem, não custa tentar.
- Eu sei, querida, mas temos de arranjar isso mais tarde. Meu avião sai em vinte minutos e tenho de chegar ao aeroporto. Agora vou apanhar minha bagagem e quero que você vá para o seu quarto para não ter de me ver. E nada de longas despedidas também.
- Está bem, papá. Até logo. Não se esqueça de escrever.
- Não esqueço. Até logo. Agora, vá para o seu quarto.
- 'Tá bem. Papá, não quero que você vá!
- Eu sei, benzinho. Mas tenho de ir.
- Porquê?
- Você não entenderia.
- Entenderia, sim.
- Não, não entenderia.
- Ora, então até logo.
- Até logo. Agora vá para o seu quarto. Depressa.
- Está bem. Ora, acho que é assim que a vida é às vezes.
- Sim, meu bem. É assim que a vida é às vezes.
Depois que meu pai saiu por aquela porta, nunca mais tive notícias dele.


Vicki fala eloquentemente por um milhão de crianças americanas que ouviram essas palavras devastadoras: "Meu bem, sua mãe e eu vamos nos divorciar." Por todo o mundo, maridos e esposas estão correspondendo ao ataque da mídia que insiste com eles e os encoraja a fazerem o que quiserem, perseguir desejos impulsivos sem consideração pelo bem-estar de suas famílias.
"As crianças se acostumarão", é a desculpa.
Toda a forma de comunicação em massa parecia mobilizada para difundir a filosofia do "eu primeiro" durante a década de 70 e o início da de 80. Frank Sinatra disse-o musicalmente com a canção: "Fiz as coisas a meu modo." Sammy Davis, Jr., ecoou o sentimento em "Tenho de Ser Eu". Robert J. Ringer forneceu a versão literária em Cuidando do Número Um, que se transformaria em um dos livros mais vendidos nos Estados Unidos por quarenta e seis semanas. Ele foi ladeado por Casamento Aberto, Divórcio Criativo, e Dando um Jeito Sozinho, entre centenas de outros best sellers perigosos.

Tudo parecia muito nobre na época. Era chamado de "descoberta do ser pessoal", e oferecia uma intoxicante atração aos nossos desejos impuros e egoístas. Mas quando essa filosofia insidiosa tinha penetrado sorrateiramente, nosso sistema de valores começou a nos apodrecer de dentro para fora. Primeiro, ela encorajou um flerte insignificante com o pecado (talvez com um homem ou mulher de outro estado), seguido pela paixão e encontros sexuais ilícitos, seguido por mentiras e engano para camuflar a realidade, seguido por palavras iradas e noites sem dormir, seguido por lágrimas e angústia, seguido por desmoronamento da auto-estima, seguido por advogados e tribunais de divórcio e acordos sobre propriedades, seguidos por audiências devastadoras pela guarda dos filhos. E do fundo desse turbilhão, podemos ouvir o clamor de três crianças feridas - duas meninas e um menino - que jamais se recuperarão plenamente.

"Então a Cobiça, Depois de Haver Concebido, Dá à Luz o Pecado; e o Pecado, Uma Vez Consumado, Gera a Morte" (Tiago 1:15).

Para não dar a impressão de me achar o bom e de estar "pregando", deixe-me focalizar o holofote penetrante em minhas próprias inadequações. Conquanto nunca tenha tido um caso amoroso, nem jamais vá ter, certamente já houve vezes em que permiti que o excesso de compromissos roubassem de meus filhos o meu envolvimento. Revelarei os detalhes no capítulo seguinte para aqueles que se dispuserem a continuar.
Meu pai sempre citava o poema infantil "O Menino de Azul" para mim quando eu era pequeno. Esse poema sempre foi um dos meus prediletos, mas assumiu novo significado desde o nascimento de meus filhos.

O Menino de Azul

O cachorrinho de brinquedo está coberto de pó, mas forte e firme se posta;
e o soldadinho de brinquedo está vermelho de ferrugem, e a espingarda embolora em suas mãos.
Houve um tempo quando o cachorrinho de brinquedo era novo, e o soldado bem bonito;
E era quando nosso Menino de Azul os beijava e colocava ali.

"Olhe, não vá embora enquanto eu não chegar", disse ele, "e não faça barulho nenhum!"
Assim, caminhando até sua bicama ele sonhou com os lindos brinquedos;
E, enquanto sonhava, o canto de um anjo acordou o nosso menino de Azul -
Oh! Os anos são tantos, os anos são longos, mas os amiguinhos de brinquedo, fiéis.

Sim, fiéis ao Menino de Azul eles estão, cada um no mesmo antigo lugar
esperando o toque de uma mãozinha, o sorriso de um rostinho;
E cismam, enquanto esperam por longos anos no pó daquela cadeirinha.
O que aconteceu com nosso Menino de Azul desde que os beijou e colocou ali?

Eugene Field (1850-1895).

Nota da tradutora (Wanda de Assumpção):
1 - Traduzido para o português como Formosura Feminina, mas já esgotado.
2 - Em inglês, a palavra "intestinos" é parecida com a palavra "vogais".

Dr. James Dobson, Psicólogo e fundador em 1977 de Focus on the Family; em 1967 recebeu o seu doutoramento em Psicologia pela University of Southern California e serviu no corpo docente da Universidade Keck School of Medicine por 14 anos. É autor de vários livros. Texto retirado de Conversa Franca - "Um bate-papo imperdível sobre o papel do homem no relacionamento familiar", Editora Mundo Cristão. Pode ver também em http://en.wikipedia.org/wiki/James_Dobson

(Gosto e costumo sublinhar para realçar algumas partes dos textos, que venho apresentando nos blogs, que considero mais importantes. Neste caso, como sublinharia TUDO... optei por não sublinhar nada. Não consigo escolher algumas partes... Esse trabalho fica com cada um de vós, para vós. Sou fã deste excelente senhor, Grande Pai e Marido, que para além de escrever muito bem, escreve sobre valores, princípios, aquilo que o mundo mais precisa e está cada vez com mais falta! E quanto mais jovem se é, mais perdido e confuso se fica, e mais angustiado e revoltado também. Depois vêm os grandes problemas que entristecem a todos, em todo o mundo. E o pior, ou melhor..., é que a situação já não tem volta a dar. As profecias da Bíblia estão a cumprir-se a olhos vistos... Como dizia há dias numa postagem do seu blog Criacionismo, Links 1R, Michelson Borges: "Precisamos reconhecer que Deus e Seu plano de redenção são a única solução para este mundo que agoniza. O resto são apenas paliativos." Pensemos seriamente na nossa preparação para esse extraordinário evento divino, o maior alguma vez visto, que não falhará, acontecerá mesmo, quer queiramos quer não! E. E.)





Duas Lindas Mensagens que o Roberto Carlos Agradeceria ao Senhor se Conhecesse. E Poderiam Fazê-lo Mais Feliz.
Fazem Grande Diferença na Nossa Vida... Trazem Mais Paz e Alegria!



     

                                         Orar é como conversar com um amigo               São João mudou de 'filho do trovão' para 'discípulo do amor'

http://www.ministeriobullon.com/pt/ - Também em Links 1R