quarta-feira, 7 de agosto de 2013

DIA INTERNACIONAL DA EDUCAÇÃO

COMO Podem as ESCOLAS FORTALECER a Vida FAMILIAR



O olhar de Carmen López passava de aluno a aluno. Um a um os rostos tomavam o seu devido ênfase:
Ali estava o Pedro, de cabelo ruivo e enormes olhos castanhos, a quem dava vontade de abraçar. A mãe tinha-o abandonado há quase 6 meses. Tinha ido embora porque, segundo ela, "queria pensar, pelo menos uma vez na vida, em si mesma". Carmen perguntava-se se poderia esquecer alguma vez a imagem da dor, daquela manhã, quando o Pedro lhe contava o que tinha acontecido. "A mamã abandonou-nos e foi-se embora para viver na capital", disse, enquanto olhava através da janela. "Já não nos quer mais!"
E a Marta, pobre Marta! Felizmente, dizia Carmen, tinha-a conhecido quando ainda era uma menina a quem se podia dar amor, porque ultimamente isto tornava-se muito difícil. Os efeitos da puberdade faziam-se sentir numa idade muito precoce e Marta demonstrava os efeitos dessa fase. De vez em quando assomava a doçura da infância, mas a maior parte das vezes expressava confusão, e essa rebeldia estranha da adolescência que se manifesta na maquilhagem e na roupa a chamarem a atenção, na linguagem grosseira e num desinteresse desrespeitoso pelos direitos dos outros.
De repente, chamou a atenção de Carmen um pedaço de papel que passou com algum descuido entre os alunos. Cansada, pegou nele e leu-o: "Quando a professora sair", dizia o papel, "eu começarei. Em seguida vocês todos se unirão a mim e juntos exclamaremos: 'O Ricardo é o menino mimado da professora!'; 'O Ricardo é o menino mimado da professora!' Avisem o resto da turma." Assinado: "Tomás". Carmen fixou o seu olhar de criança em criança. Tinha imaginado que a situação mudaria para melhor se ela falasse com as crianças acerca do perdão, mas Tomás tinha informado os que o rodeavam que o seu pai lhe tinha dito que o perdão é só da 1ª vez, depois há que actuar. "Avisa-se a pessoa do que lhe sucederá da próxima vez que incomodar e actua-se logo", disse o Tomás.
A cadeira mais distante do corredor estava vazia. O que fazer com a Anita? O seu pai tinha abandonado a casa há mais tempo do que Anita se podia recordar. Agora a sua mãe tinha outro marido, que também tinha os seus próprios filhos. Se pelo menos... As emoções de Carmen eram tão intensas que, tão sobrecarregada, estava a ponto de exclamar em voz alta: "Se ao menos pudesse pôr de lado as minhas suspeitas de abuso paterno..., ou mesmo ganhar a confiança de sua mãe e ultrapassar essa barreira impenetrável para descobrir a realidade e ajudar a Anita!

Alguém levantou as mãos, interrompendo as suas meditações. Ao princípio parecia muito fácil ser professora. Mas a realidade exige de uma pessoa mais do que métodos atractivos para servir de aliciante aos alunos na leitura e na explicação da matemática.
Como poderia ela ajudá-los a suportar as cargas emocionais que transportavam? Como poderia servir-lhes de alívio, restituir-lhes o que fazia parte dessa idade juvenil, livre de preocupações? De que maneira, por meio do ensino, poderia influenciar positivamente a vida familiar dos seus alunos? Era apenas um sonho ingénuo supor que essas mesas não seriam mais ocupadas por crianças sofredoras?


É um facto que quando as crianças vêm para a Escola trazem consigo, de certo modo, as suas famílias. Quer dizer, as experiências do Lar deixam-lhes cicatrizes que durante toda a vida os seguirão afectando profundamente.
O número crescente de crianças sem supervisão nos seus lares, somado à grande pressão económica que sofrem os pais, faz com que estas prioridades deixem pouco tempo e energia para fomentar boas relações familiares.

O divórcio e a separação dos cônjuges têm criado uma das maiores crises que as crianças e os jovens têm de enfrentar nos dias de hoje. Para a maioria, se não a totalidade, esta experiência resulta num desvio emocional e psicológico de si próprios. Inclusivamente, o que aparenta ser o melhor arranjo para o cuidado das crianças acaba por ser um jugo pesado que esses mesmos filhos carregam. Quando ocorre um novo casamento e se introduzem padrastos, aumenta-se as tensões, pois agora são duas famílias distintas, que possivelmente terão experimentado dor e perda, que têm de fazer um novo arranjo.

Como um espelho que distorce as imagens, os meios de comunicação têm deformado, nas crianças e jovens, o conceito do que significa a Família, limitando as suas próprias experiências, eliminando as barreiras que os protegiam da dura realidade da vida adulta e inculcando-lhes uma mensagem superficial de que todos os problemas se resolvem facilmente com um produto ou um comprimido. O aumento de sentimentos de frustração, ira, ressentimento e pena, trouxe como resultado uma violência familiar de proporções gigantescas.
Os adolescentes respondem com indiferença perante os valores paternais e voltam-se para os seus companheiros da mesma idade. Sentindo-se incapazes de enfrentar os seus problemas, muitos deles simplesmente se tornam passivos, fugindo de casa, abandonando os estudos, voltando-se para as drogas, para a delinquência e até o suicídio.

UM CÍRCULO VICIOSO

É sabido que as famílias disfuncionais continuam a produzir mais famílias disfuncionais. Que podemos fazer para minorar esta descida vertiginosa? Não há dúvida de que as crises que os alunos enfrentam nas suas casas hoje em dia são de tal magnitude que requerem a ajuda por parte da Escola, como de outra entidade possível, para capacitá-los a funcionar melhor.
No passado considerava-se que a base académica - ler, escrever e fazer contas - era da total responsabilidade da Escola e esperava-se que o resto da preparação estivesse a cargo do Lar, da Igreja e de toda a Sociedade. Mas, na realidade, a vida se tornou mais complexa. Enquanto o conhecimento vai aumentando - e na verdade temos uma ampla informação disponível que nos ajuda a compreender as nossas relações interpessoais e familiares - a influência, tanto do Lar como da Igreja parecem estar diminuindo. Como consequência, é inevitável que se espere mais da Escola, que tem de oferecer a sua ajuda tanto aos alunos como aos seus pais a viver melhor.

OS PROBLEMAS DE RELAÇÃO IMPEDEM UMA DOCÊNCIA EFICAZ

Ao observar-se que o comportamento conflituoso, juntamente com os problemas relacionais, dificultam o ensino eficaz, concluiu-se que a Escola deve intervir de algum modo. Os docentes e directores deram-se conta de que se não pusessem um plano de acção não poderiam ensinar nem o básico. Mas, embora a necessidade de pôr em prática, por meio da Escola algum programa de Relações Familiares Positivas, seja um fato que vai aumentando, todavia existem interrogações na mente dos educadores e dos pais.
Como devem as escolas tratar as situações que vivem os alunos nas suas casas? Deverão considerar estes assuntos do lar como um tema de educação? Se é assim, de que modo se devem ensinar?

Ellen White elevou a visão dos Educadores Adventistas dando ênfase de que a Verdadeira Educação "abrange todo o ser".1 Talvez mais do que nunca, precisamos de compreender a importância que tem a Família na formação integral dos jovens. Uma ampla gama de necessidades humanas, psicológicas, emocionais e sociais, mentais e espirituais, se nutrem e satisfazem, ou se negam e ignoram, no seio da Família. O destaque compreensivo da Educação ajuda os alunos a entender as diferentes maneiras de viver com mais satisfação no seio da Família e a prepará-los para se relacionarem harmoniosamente com as suas futuras famílias.

UM MINISTÉRIO ESPIRITUAL

A Educação Adventista é uma extensão vital do ministério espiritual da Igreja. A família está baseada como tal, num ambiente espiritual que é descrito amplamente nas Sagradas Escrituras. Por ele, a Escola tem não só o privilégio, mas também a responsabilidade de revelar ao aluno a dinâmica espiritual que se obtém no ambiente familiar, incluindo para além disso, todo o tipo de relações interpessoais. A Educação significa mais do que uma preparação para a vida atual,2 escreveu a educadora Ellen White, com a intenção de que compreendamos os factores envolvidos. Sim, muito mais, na verdade! Mas, pelo menos, busca já uma preparação para esta vida, na qual a Família assume uma grande e importante porção.


AS ESCOLAS PODEM TER UM EFEITO POSITIVO SOBRE AS FAMÍLIAS DE HOJE E DO FUTURO

Claro está que a Escola não pode tomar sobre si todas as responsabilidades do Lar que são próprias da Família, nem é sua responsabilidade básica resolver problemas de relacionamentos que algum estudante está experimentando na sua casa. Mas as Escolas podem ter um efeito positivo sobre as famílias de hoje e do futuro.

UMA INFLUÊNCIA ESTABILIZADORA

Os lares podem desequilibrar-se periodicamente quando as crianças e os adultos atravessam momentos de tensão nas suas vidas. Em troca, a Escola, no geral, mantém-se mais equilibrada e não se rege pelas emoções quando se envolve nos problemas familiares. Portanto, provê uma atmosfera mais estável, que serve como um ponto de referência para a criança, na qual deverá encontrar consideração, amor, afirmação e respeito por parte do Professor cristão, e mais ainda quando estes elementos não se manifestam no seu Lar.

UMA INFLUÊNCIA MODELADORA

O pessoal docente e outros colaboradores podem servir como modelo das maneiras certas de relacionamento de uns para com os outros. O seu amor, seu carinho, a sua disposição a escutar, ser francos com os seus alunos, a sua maneira de responder e de tomar decisões, todos estes factores têm influência poderosa, e por longo tempo, nos jovens. Os mestres cristãos que amam os seus alunos têm o privilégio de modelar papéis exemplares de conduta, e desse modo ajudar os jovens a tomar decisões positivas em relação à forma como eles agirão quando adultos. Às vezes o Professor chega a ser uma influência maior do que mesmo os pais.

O PROGRAMA DE VIDA FAMILIAR

A Educação Familiar tem que estar incluída no programa escolar. Pela sua influência sobre a juventude, a Escola tem de ser uma parte dinâmica na interpretação das mudanças sociais que estão afectando a Família, compartilhando o que se conhece acerca do desenvolvimento e comportamentos na família, educando-a quanto às relações interpessoais, apresentando aos seus membros experiências práticas para ajudá-los a funcionar melhor no ambiente familiar e que sirva para o resto das suas vidas.
Um programa bem projectado deve oferecer cursos desde o Jardim de Infância até finalizar o Ensino Secundário. O que se apresenta actualmente como orientação sexual é um princípio; porém, embora a anatomia e a fisiologia da sexualidade tenham muita importância, elas deverão ser apenas uma parte de um todo mais abrangente. A sexualidade, para ser compreendida a fundo, tem de ser considerada também do ponto de vista do plano e propósitos divinos, dos valores morais, da sua função na personalidade e do seu lugar nas relações interpessoais. O uso da frase ‘vida familiar’ não deverá ser um eufemismo para encobrir a sexualidade no programa que se oferece na Escola. A Sexualidade abrange muito mais do que a Reprodução.

Uma Apresentação Total Da Educação Para A Vida Familiar Inclui Temas Como Os Seguintes:

- Como desenvolver uma Auto-Estima Positiva de nós mesmos e dos Outros
- Domínio das Emoções
- O Processo das Crises e Tensões
- A Comunicação
- A Solução dos Conflitos
- Tomar Decisões
- Valores e Metas da Família
- As Finanças Pessoais e da Família
- O Propósito do Lar
- Abuso e Violência no Lar
- Aspectos Físicos da Maturidade Sexual
- Papéis Sexuais
- O Aborto
- A Agressão Sexual
- Suicídio entre os Adolescentes
- Preparação para o Papel de Adulto
- Namoro
- Como Escolher o Companheiro para a Vida
- Preparação para o Casamento
- Decisões acerca da Formação de uma Família
- O Amor no Casamento e na Família
- O Desenvolvimento Pessoal durante a Vida


Cada uma destas áreas abrange temas morais e emocionais de grande importância e podem ser divididos em tópicos mais detalhados. Embora alguns dos temas tenham maior importância em épocas definidas da vida, a maioria são de interesse para todos os graus do ensino básico e secundário. Alguns destes pontos já têm sido apresentados nas nossas instituições educativas, mas deve prestar-se uma maior atenção ao desenvolvimento e à implementação de um Curso Familiar específico, mais abrangente.
Ao pensar-se acerca de um tal programa, seria útil seleccionar-se vários temas mais amplos, como por exemplo: a auto-estima, as relações interpessoais, a sexualidade e as preocupações sociais que têm impacto sobre a família.
Estes temas podem repetir-se cada ano em todos os graus, tendo em conta obviamente a idade e maturidade dos estudantes, para facilitar assim uma compreensão mais profunda dos conceitos apresentados.

(...)
Na implementação deste tipo de cursos, os educadores adventistas não devem ter que lutar pela inclusão de valores morais, o que em tantas outras escolas gera controvérsias. Assim como esperamos que os nossos docentes mantenham bem alto os princípios cristãos no seu ensino de Religião, Ciência, Saúde ou Literatura, também esperamos que o façam com o Programa sobre Família.

NECESSITA-SE DE UMA CONTRIBUIÇÃO COORDENADA

O desenvolvimento de um curso de Vida Familiar requer a colaboração da Escola, do Lar e da Igreja. Com este esforço, teremos a oportunidade perfeita para unir as três Instituições mais importantes que afectam a vida dos jovens. Uma vez estabelecido, o programa terá de ser comunicado periodicamente, para que os pais possam estar informados do que as crianças estão a aprender nesse curso.
Também a Associação de Pais e Professores ou a Escola e a Igreja poderiam patrocinar seminários de desenvolvimento para os Pais, a fim de lhes ensinar os conceitos e as técnicas que os seus filhos estão a aprender.
O ideal seria também a realização de um Seminário ou uma actividade de enriquecimento onde Pais e Filhos pudessem experimentar o desenvolvimento juntos.

Sabemos que o programa básico das Escolas Adventistas é considerado como Bom, e o que lhe deu esta nota distintiva foi o factor das relacionamentos, tanto com Deus como com aqueles com quem compartilhamos a vida.


O Pedro, a Marta, o Tomás e a Anita vêm à Escola a fim de aprender as matérias básicas: ler, escrever e fazer contas. Contudo, a Verdadeira Educação tem que lhes oferecer mais do que a compreensão de dados e números. Se nos esforçarmos para ajudá-los a ter uma boa relação com as suas famílias no presente, poderemos assegurar-lhes também a promessa de ser possível formarem-se famílias mais estáveis no futuro.
Notas:
1. Ellen White, La Educación, pág 11.
2. Idem.

Ron e Karen Flowers, directores associados dos Ministérios do Lar e da Família, Departamento dos Ministérios da Família da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, Silver Spring, Maryland, EUA, in La Revista de Educacion Adventista, Número Especial, 1992.

"A verdadeira educação significa mais do que avançar num certo curso de estudos. É muito mais do que a preparação para a vida presente. Visa o ser todo, e todo o período da existência possível ao homem. É o desenvolvimento harmónico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais. Prepara o estudante para a satisfação do serviço neste mundo, e para aquela alegria mais elevada por um mais dilatado serviço no mundo vindouro." Educação, pág. 13.

"Ensina ao menino o caminho que deve seguir, e assim, mesmo quando for velho, não se afastará dele." "A insensatez faz parte da mentalidade infantil; mas uma Educação rigorosa fá-la desaparecer." Provérbios 22:6, 15 (Tradução Interconfessional em Português Corrente).

O SENHOR É A MINHA LUZ
Salmo 27

O Senhor é a minha luz e a minha salvação, O Senhor é a fortaleza da minha vida,
Quem eu temerei? Quem eu temerei?

Quando homens avançam contra mim, E todos os meus inimigos me rodeiam,
Eles vão tropeçar e cair, Tropeçar e cair.
Apesar de todo o mundo me cercar, E a guerra cair contra mim,
Estou seguro no Senhor, Seguro no Senhor.

E no dia da aflição, Estou seguro dentro da Sua morada,
Ele vai me esconder, sim, Ele vai me esconder.
Minha cabeça será exaltada, Acima dos meus inimigos,
Eu vou cantar ao Senhor, Cantar ao Senhor.

Há uma coisa que peço ao Senhor, Para os dias da minha vida:
Que eu possa morar na casa do Senhor, Todos os dias da minha vida,
Para contemplar a Sua beleza, Buscá-l'O no Seu templo.