quarta-feira, 1 de junho de 2011

A SOCIEDADE DAS SURPRESAS



- Eu gostava de ser pirata - disse o Beto. Às vezes estou tão aborrecido que gostava de fazer qualquer coisa importante, para chamar a atenção.
- Tens toda a razão - disse Rosita, a irmã mais nova. Eu também gostava muito de ter algo de grande para fazer.
Esta conversa teve lugar durante as férias. Ainda faltava um mês para a escola abrir e os dois irmãos já estavam cansados sempre das mesmas brincadeiras. Queriam qualquer coisa nova, diferente, emocionante.
- Mas, não podemos ser piratas - disse Rosita - pois seríamos presos. E ainda mais, o porto mais próximo está quase a 200 quilómetros de distância. Como chegaríamos até lá?

- Não é bem assim - explicou o Beto - eu estava a falar em ser pirata de brincadeira. Mas então o que sugeres que façamos para nos divertirmos?
- Vamos pensar. Talvez nos ocorra alguma coisa.
Assim, os dois puseram-se a pensar. Durante alguns minutos ficaram em silêncio.
Então, o Beto, pôs-se em pé de um salto.
- Já sei! Vamos formar a  SOCIEDADE  DAS  SURPRESAS.
Eu sou o presidente e tu, Rosita... bem, podes ser a minha secretária.
- És um génio, Beto! - exclamou a menina - Qual é a finalidade da Sociedade das Surpresas e o que vamos fazer?
- Ora, Rosita, vamos fazer surpresas às pessoas.
- Ah, sim! Compreendo. Mas que tipo de surpresas?

- Boas surpresas, claro. Vamos saber entre os nossos vizinhos e conhecidos quais necessitam de auxílio e depois ajudá-los sem eles saberem quem os ajudou.
Assim já não nos vamos aborrecer mais.
- Concordo! - disse a Rosita. - Que tal começarmos já?
- Vou pôr numa lista as coisas que poderemos fazer e depois vamos escolher as pessoas.

O Beto correu ao seu quarto para ir buscar um caderno e um lápis para fazer anotações.
Ao voltar lembrou à irmã:
- Olha, Rosita, é uma sociedade secreta, por isso temos de manter segredo.
- É claro! - concordou - se alguém souber das nossas actividades, a Sociedade das Surpresas vai ter de mudar de nome.
Naquela tarde, quando a mãe voltou da cidade, ficou estupefacta. Que teria acontecido?

Depois do almoço tinha saído à pressa, deixando a louça suja e esta tinha desaparecido! O lava-louça estava limpo, as coisas nos seus devidos lugares e a mesa posta para o jantar. Até os vidros da janela tinham sido lavados!
A casa estava em silêncio. Que boa alma teria feito aquilo?
Quando os meninos entraram em casa a mãe perguntou-lhes se a tia tinha estado lá naquela tarde. O Beto respondeu que não.
- Não percebo e continuo admirada - disse a mãe. Quem teria feito tudo isto? Hoje até posso sentar-me a descansar depois do jantar!

Mas em cima da mesa a D. Laura encontrou uma carta. Abrindo-a leu: "A Sociedade das Surpresas veio visitá-la esta tarde".
- Gostava de saber quem são - disse a mãe.
- Eu também - acrescentou o Beto.
- Olhem, o papá já chegou. Vamos jantar? - perguntou a Rosita.
E assim fizeram.



Na manhã seguinte os dois meninos dirigiram-se a casa da D. Eugénia, uma senhora doente com a qual ninguém se importava. O Beto transportava cuidadosamente um embrulho. Olhou pela janela e viu que a D. Eugénia estava a dormir. Abriu a porta devagarinho e entrou com a irmã. Atravessaram a sala na ponta dos pés e ele colocou o pacote que trazia sobre a mesa da cozinha. Ao saírem a Rosita estava tão nervosa que tropeçou ao fechar a porta.

- Cuidado - cochichou o Alberto.
O ruído despertou a D. Eugénia.
- Quem está aí? - perguntou?
Mas eles já se tinham afastado tão rápido quanto o permitiam as suas pernas. A senhora abriu o pacote e encontrou três ovos.
- Que bom! - murmurou - quem os terá trazido? Era mesmo o que eu precisava para o almoço.
Ao examinar o papel em que os ovos estavam embrulhados, leu: "Com um carinhoso bom dia da Sociedade das Surpresas".

Tito, um colega do Beto, estava doente, com sarampo. Claro que tinha de ficar o tempo todo no quarto e isso causava-lhe imenso tédio e tristeza. Da cama só podia ver um pedacinho de jardim, rodeado por uma cerca alta de madeira.
Uma tarde, quando olhava pela janela, viu, de repente, qualquer coisa passar por cima da cerca e cair sobre a relva. Era uma caixa de papelão presa a um cordão.

- Mãe, depressa! - chamou o Tito.
- Por favor, vá ver o que está no jardim.

A mãe, surpreendida, foi ver o que era e trouxe o pacote que o Tito abriu com muita curiosidade. Era uma caixa quadrada contendo quatro pacotinhos. Num deles estava escrito: "Abre na 2ª feira"; no segundo: "Abre na 4ª feira"; no terceiro: "Abre na 6ª feira" e no último: "Abre no domingo".
Apeteceu-lhe abrir os pacotes todos logo, mas depois, reflectindo melhor, resolveu concordar com a brincadeira.
Assim, aguardou com ansiedade a chegada da 2ª feira. Abriu o pacote.
- Uma caixa de tintas! - exclamou - há tanto tempo que eu desejava uma caixa destas! Quem será que me deu este presente?
Dentro da caixa havia um bilhetinho: "Com os votos de rápidas melhoras da Sociedade das Surpresas".
Ele ficou intrigadíssimoo, mas por mais esforço que fizesse para descobrir quem era o responsável pela tal Sociedade, não conseguiu descobrir nada. Foi uma semana bem passada!


E assim, o Beto e a Rosita continuaram a pôr em prática o seu plano, entre os vizinhos.
Como se mantinham ocupados nem se aperceberam que as férias estavam a acabar. A mãe também andava intrigada com o comportamento estranho dos filhos. "O que será que se passa com aqueles dois?" pensava ela. "Antes estavam sempre a brigar, agora até parecem dois 'anjinhos'!"
- Rosita - disse um dia o Beto - creio que está na hora de voltarmos a casa da D. Eugénia para lhe fazermos uma nova surpresa. Que achas?
- Boa ideia. Vamos levar ovos e algumas flores do nosso jardim.


Era a segunda vez que a Sociedade das Surpresas visitava a velhinha. O Beto e a irmã agiram como da primeira vez: entraram pela porta sem fazer barulho para que a dona da casa não os pressentisse. Colocaram os presentes em cima da mesa e saíram devagar. Como estavam muito preocupados em não fazer barulho, não notaram a presença de um senhor sentado - era o médico, que observou tudo. A princípio pensou que se tratava dos netos da D. Eugénia, mas depois lembrou-se que ela não tinha qualquer família. Ficou bastante intrigado com o facto. Foi até à mesa e viu o cartão - já conhecido da vizinhança - com os dizeres: "Com todo o carinho da Sociedade das Surpresas".

Estava desvendado o mistério da Sociedade das Surpresas!
- Agora já percebo o que a senhora me contou na última visita que lhe fiz - disse o Dr. Almeida à sua doente - e também explica o caso que me relatou ontem o Tito Costa.
Alguns dias depois, o Beto e a Rosita receberam em casa uma carta, dirigida à Sociedade das Surpresas, contendo um convite para passarem uma tarde em casa do Dr. Almeida.


- Como será que nos descobriram? - perguntou a Rosita curiosa e acrescentando: - cumpri a minha palavra. Não contei a ninguém o nosso segredo.
Agora era a vez deles de estarem intrigados.
No dia marcado, foram a casa do médico. Que tarde formidável ali passaram! Piscina, lanche, jogos, tudo à sua disposição! No fim do dia uma última surpresa: dois pacotes muito bem embrulhados, com o nome de cada um dos sócios da Sociedade das Surpresas, Beto e Rosita.
- Aceitem estes presentes - disse o Dr Almeida - como recompensa pelos muitos presentes - surpresa que deram aos outros.
Claro, eles não sabiam como é que o médico os tinha descoberto e ele mesmo não quis revelar o segredo, mas o Beto e a Rosita estavam muito felizes.

Chegaram à conclusão que o que fizeram naqueles dias os divertiu muito mais
do que brincar aos piratas!



Nosso Amiguinho

(Publicadora SerVir)