sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

BLAISE PASCAL



Já viu alguém apaixonado citando o pensamento "o coração tem razões que a própria razão desconhece"? Mesmo que esteja um pouco fora do seu sentido filosófico original, este é um ditado conhecido em todo o mundo e o seu autor foi um famoso matemático chamado Blaise Pascal. Quem faz Filosofia, Ciências Exactas ou Análise de Sistemas tem obrigatoriamente de estudar o pensamento desse grande cristão que viveu no século XVII.

Pascal nasceu em Clermont-Ferrand - França, no dia 19 de Junho de 1623. Os seus pais eram Etienne Pascal e Antoinette Bégon, que morreu quando ele tinha apenas 3 anos. 0 Dr. Etienne, agora viúvo, resolveu, depois de alguns anos, deixar o seu emprego como advogado em Clermont e mudar-se para Paris a fim de dar melhores condições aos seus filhos. Nessa ocasião, Blaise Pascal tinha 8 anos de idade e, nas horas vagas, era o seu próprio pai quem lhe ensinava gramática, latim, espanhol e matemática seguindo um método pedagógico que ele mesmo elaborara.

O entusiasmo do seu pai em ser professor do próprio filho aconteceu por notar o brilhantismo excepcional do garoto. Só para se ter uma ideia, com apenas 11 anos, Blaise reconstituiu as provas da geometria euclidiana até à Proposição 32, aos 12 anos compôs sozinho um tratado sobre a comunicação dos sons e, aos 16, um outro sobre as divisões cónicas. Se você ainda não entendeu o que significam essas descobertas, não se preocupe. É matéria para especialista. Basta saber que Blaise Pascal era um génio incontestável.

Mas não pense que a sua inteligência lhe subia à cabeça. Pascal sempre foi apontado como uma pessoa muito humilde e simpática com os demais com quem convivia. Essa era uma virtude que o acompanhava desde a infância. Mesmo as coisas materiais eram para ele um detalhe que deveria ser submetido à vontade de Deus.

Um adolescente "fora de série"

As conclusões matemáticas que Pascal idealizou entre os 11 e 17 anos foram tão originais que ele provocou o interesse de vários matemáticos que queriam conhecer as suas teorias inovadoras. Em 1637, foi convidado a ter encontros semanais de discussão com matemáticos famosos da época como Roberval, Mersenne e Mydorge. Foi a própria Academia Francesa quem promoveu esses diálogos e incentivou as pesquisas daquele garotinho de apenas 14 anos.

Não pense, porém, que tudo eram flores. Sempre houve na História aqueles inseguros que se sentem ameaçados com o sucesso de outra pessoa. Foi o que aconteceu. René Descartes, que era o maior matemático vivo naquela época, recusou-se a acreditar que aquela profundidade de raciocínio pudesse partir de um garoto com espinhas no rosto. Chegou a supor que Pascal tinha plagiado as suas ideias de um outro matemático chamado Gérard Desargues. O facto, porém, é que havia elementos novos no trabalho de Pascal, que nem mesmo os grandes matemáticos tinham percebido.

Assim, a Academia Francesa resolveu publicar as suas obras que se tornaram rapidamente conhecidas em toda a Europa. Os seus avanços na geometria foram considerados os mais profundos desde a época dos gregos. Um deles era o cálculo das probabilidades combinadas que até hoje é usado por matemáticos para saber quais as chances (em 10, 100, 1000, etc.) de que tal coisa prevista venha de facto a acontecer. Seguradoras, Companhias de Planos de Saúde e indústrias em geral pagam verdadeiras fortunas para que matemáticos calculem quais as chances da empresa ter de indemnizar um assegurado ou conseguir lucro na venda de determinado produto. Se os números não forem bons, eles não se arriscam no negócio. E quem elaborou tudo isso? Um jovem chamado Blaise Pascal.

E não pára por aí. Aos 18 anos, ele construiu a primeira máquina aritmética da História, um instrumento no qual trabalhou durante 8 anos até aperfeiçoar o sistema. Pena que não conseguiu patentear o produto, de modo que, a máquina de calcular que Leibnitz projectaria no futuro acabou sendo considerada a ancestral da calculadora, embora Pascal já tivesse inventado um modelo.

Por esse tempo, numa correspondência particular com Fermat, Pascal admite ter sentido um especial interesse pelo estudo da geometria e da física analítica. Como de costume, ele também revolucionou o conhecimento nesse novo campo de pesquisas. Primeiro, repetiu as experiências de um certo Dr. Torricelli e provou, contra as ideias de Père Noel, que o ar possui peso. Depois, desenvolveu o barómetro, que é um instrumento para medir a pressão atmosférica e ainda conseguiu, pela primeira vez na história, produzir vácuo (total ausência de oxigénio) a partir da inversão de um frasco de mercúrio.

Um jovem que se volta para Deus

Foi em meio a essas últimas pesquisas que Pascal se sentiu totalmente atraído pelo chamado religioso. Numa noite de 1664 ele sentiu muito perto a presença de Deus, numa experiência espiritual que durou cerca de duas horas. Segundo ele escreveu nos seus Pensamentos, naquela noite, o Senhor lhe mostrou em que consistia "a grandeza e a miséria do género humano". E Pascal escolheu a grandeza, escolheu ser um servo de Deus.

A certeza que brotara no seu coração era forte demais para nutrir qualquer dúvida quanto à realidade do Céu. Porém, Pascal pensara nas pessoas que por algum motivo não tinham a mesma convicção. Ele conhecia vários intelectuais que desde há uns tempos tinham perdido a fé. Logo, aquele que tanto contribuiu para avanços matemáticos, físicos e químicos, resolveu agora usar a sua genialidade mental para testemunhar acerca do Criador de todo o universo.

Embora alguns o julgassem fanático, não era essa a intenção do seu espírito. Aliás, não havia nada que o aborrecia mais do que a fé destituída de razão. Quando criança, ele ainda se lembrava, uma doença contagiosa tinha-o deixado de cama e uma pobre mulher, que nada tinha a ver com o problema, foi responsabilizada sob a acusação de ser uma bruxa que tinha enfeitiçado o menino. Ele sabia que ela não era culpada, mas por pouco não viu a mulher ser queimada por religiosos insanos que viam demonismo em tudo, até nos acontecimentos puramente naturais. Pascal jamais se tornaria um fanático.

Argumentando sobre a existência de Deus

Pascal entendia que as argumentações racionais tinham um grande valor no discurso acerca de Deus. Mas, apesar disso, elas parecem convencer somente por algum tempo e logo perdem a força. A razão dos homens fracassa porque é uma virtude finita tentando descrever um ser infinito que está acima da compreensão humana.

Portanto, as provas racionais não devem ser abandonadas mas mescladas de fé e graça, que são elementos concedidos directamente por Deus. Elas servem, num primeiro momento, para despertar a fé no coração de alguns que insistem na descrença. Foi dessa atitude que surgiu o famoso argumento da aposta. Você já ouviu falar nele?

Tudo aconteceu quando Pascal e os seus amigos estavam um dia discutindo pensamentos numa praça da cidade de Paris. Aqueles homens eram pensadores livres e não aceitavam a existência de Deus. Pascal estava consciente disso e sabia também que eles apreciavam bastante um jogo de apostas. Então ele afirmou: "Aposto com vocês que, matematicamente falando, crer em Deus é mais lucrativo do que descrer d'Ele." "Como?" perguntou um dos seus colegas.

"É simples", respondeu Pascal.

"Você pode, enquanto ateu, ter tudo o que um crente possui: família, saúde, cultura, princípios, etc. Enquanto ateu, você pode ainda argumentar que, inquestionavelmente, ninguém lhe pode provar, que Deus existe. Logo, se você e um crente morrem, é possivel dizer que a vossa vida terminou num empate. Tudo o que um teve, o outro também possuía."

"Assim, se você estiver certo no seu ateísmo, o empate continua, pois ambos terão o mesmo fim.
Porém, se o crente estiver certo, então haverá um desempate, pois não será possível que ambos desfrutem da mesma sorte diante do juízo de Deus."

"Portanto", concluía Pascal:


"Se eu aposto por Deus e Deus existe - meu ganho é infinito
Se eu aposto por Deus e Deus não existe - não perdi nada
Se eu aposto contra Deus e Deus não existe - não perdi nem ganhei
Mas, se eu aposto contra Deus e Deus existe - então minha perda será infinita."


Infelizmente, Pascal foi um homem de saúde bastante debilitada. Não obstante, mesmo em meio às dores e fraquezas que a doença lhe proporcionava, ele entregou-se mais e mais ao Salvador crucificado. No leito de dor, ele escreveu um sublime memorial intitulado "O Mistério de Jesus", onde testemunha o seu amor pelo Filho de Deus. Com poucas forças ainda se envolveu em trabalhos de caridade e projectou um sofisticado sistema de transporte público para a cidade de Paris. Até linhas de veículos colectivos, evidentemente puxados a cavalo, estavam nesse projecto que foi executado em 1662. Em Agosto daquele mesmo ano, ele veio a falecer com apenas 39 anos de idade. Segundo alguns biógrafos, as suas últimas palavras foram: "Por favor, meu Deus, jamais me deixes sozinho."




Rodrigo Pereira da Silva - Arqueólogo - in Eles Criam em Deus
(Biografias de cientistas e sua fé criacionista)