terça-feira, 26 de julho de 2011

UM DIA...




UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, as coisas vão ser bem diferentes.

A garagem não ficará cheia de bicicletas,
de linhas de combóios sobre madeira prensada,
de cavaletes rodeados de tábuas, pregos, martelo e serra,
de “projectos experimentais” inacabados
e da gaiola do coelho.
Poderei estacionar os dois carros nos lugares certos
e nunca mais tropeçarei em pranchas de skate, pilhas de papéis (guardados para colaborar com as obras assistenciais da escola)
ou sacos com comida para coelhos – tudo espalhado pelo chão.

UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, a cozinha ficará incrivelmente arrumada.

O lava-louças não ficará cheio de pratos sujos,
o caixote do lixo não ficará abarrotado de elásticos e de copos de papel,
o frigorífico não ficará atulhado de embalagens de leite,
e nunca mais perderemos as tampas dos frascos de geléia e de ketchup e das embalagens de manteiga de amendoim, de margarina e de mostarda.
A garrafa da água não será recolocada vazia,
as fôrmas de gelo não ficarão fora durante a noite,
o liquidificador não ficará sujo, seis horas a fio, de resíduos de batido preparado à meia-noite,
e o mel ficará dentro do frasco.

UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, a minha querida esposa terá tempo para vestir-se vagarosamente.

Terá tempo para um banho quente demorado (sem receio de ser interrompida por gritos assustados),
tempo para cuidar das unhas das mãos (e dos pés, se desejar!),
sem ter de responder a uma dúzia de perguntas e de rever a grafia correcta,
tempo para cuidar dos cabelos durante a tarde sem ter de marcar um horário espremido entre uma visita ao veterinário para levar um cão doente e uma consulta de ortodôncia para levar uma criança de mau humor por ter perdido o boné.

UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, o aparelho chamado “telefone” ficará desocupado, sem parecer ter nascido grudado ao ouvido de um adolescente.
Ele simplesmente estará lá... Silencioso e, por incrível que pareça, pronto para ser usado! Não ficará melado de baton, saliva, maionese, migalhas de salgadinhos ou com palitos de dentes enfiados nos pequenos orifícios.

UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, eu serei capaz de ver através dos vidros do carro.

Impressões digitais de mãos e pés, lambidelas e sinais de patas de cachorro (ninguém sabe como) não existirão.
O banco traseiro não ficará em completa desordem, não nos sentaremos mais em cima de pedrinhas e lápis de cor,
o tanque de combustível estará sempre cheio
e não terei de limpar mais uma vez (que alívio!) a sujeira do cachorro.


UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, poderemos voltar a conversar normalmente, isto é, conversar como qualquer pessoa normal.

As frases não serão intercaladas de palavras grosseiras. ”Legal!” será uma expressão em desuso.
Não haverá batidas na porta da casa de banho acompanhadas de “Ande depressa, estou aflito!” e “É a minha vez” não necessitará da presença de um árbitro.
E aquele artigo de revista será lido sem interrupções e, depois, discutido longamente, sem que o pai e a mãe tenham de se esconder no sótão para terminar a conversa.

UM DIA, QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, não vamos mais precisar de correr atrás do rolo de papel higiénico.

A minha esposa não vai perder as chaves.
Não esqueceremos a porta do frigorífico aberta.
Eu não vou ter de inventar novas maneiras para desviar a atenção das máquinas que vendem pastilhas elásticas...
nem ter de responder à pergunta “Papá, não é pecado você dirigir a 75 quilómetros por hora quando a placa diz que o limite é de 55?”...
nem de prometer que vou dar um beijo de boa-noite no coelho...
nem ter de ficar acordado até altas horas da noite esperando a chegada deles...
nem ter de pedir licença para falar durante o jantar...
nem ter de suportar socos de brincadeira, mas que são realmente dolorosos.


SIM, UM DIA QUANDO AS CRIANÇAS CRESCEREM, as coisas vão ser bem diferentes.

Elas começarão a partir, uma após a outra, e a casa voltará a ficar em ordem e talvez até com um toque de elegância.
O tinir da porcelana e da prata será ouvido em ocasiões especiais.
O som do fogo crepitando na lareira ecoará por toda a casa.
O telefone estará estranhamente mudo.
A casa estará sossegada... Calma... Sempre limpa...

E vazia...

E passaremos o tempo a aguardar a chegada de UM DIA mas lembrando-nos do ONTEM.
E pensando: “Talvez nós possamos cuidar dos netos para que esta casa volte a ter vida!”


Charles R. Swindoll in Histórias para o Coração