UM CÉPTICO VISITA BELÉM
... e Descobre a Eterna Mensagem de Natal
Há alguns anos atrás, fui a Belém fazer um documentário para três programas de televisão sobre o Novo Testamento. Encontrava-me sentado na cripta da Basílica da Natividade à espera que o público saísse para podermos começar a filmar.
Vi um assento no bordo de uma pedra, na penumbra iluminada pelas velas acesas. Como eram ridículos estes sítios a que chamavam santuários! E que miserável o espírito comercial que os explorava! Só um louco crédulo poderia supor que o sítio assinalado na cripta por uma estrela de prata era de facto o local exacto onde Jesus tinha nascido! A Terra Santa, ao que parecia, fora transformada numa espécie de Jesuslândia.
Na cripta, desde os vistosos pendentes que cobriam as paredes de pedra aos crucifixos, quadros baratos e candeeiros, tudo conduzia a esse estado de espírito. Mas que desapropriado decorar uma simples manjedoura de forma a parecer uma loja de quinquilharia a abarrotar de bricabraque eclesiástico! Afinal, o importante no nascimento de Jesus era a sua obscuridade. O santuário devia fazer sobressair a humildade da ocasião que venerava, para que o mais pobre visitante ficasse a saber que Cristo tinha vindo ao Mundo em circunstâncias ainda mais humildes que ele próprio.
À medida que estes pensamentos me perpassavam pelo espírito, comecei a aperceber-me do comportamento dos visitantes. Alguns rezavam, outros ajoelhavam-se, mas para a maioria a Basílica da Natividade era só um local de visita turística - como o podem ser o Taj Mahal ou o Museu de Cera de Madame Tussaud.
Todavia, cada rosto que me surgia estava transfigurado pela experiência de ter estado no local onde supostamente tinha ocorrido o nascimento de Jesus. O tédio, a curiosidade fútil, desapareciam. Aqui, todos pareciam dizer: foi onde tudo aconteceu, foi aqui que Ele veio ao Mundo e aqui O encontraremos!
A Terra Santa está cheia de história, escrita nas pedras. No entanto, não foi história aquilo que eu, o céptico, encontrei na Basílica da Natividade. Foi algo de mais profundo e mais estimulante: a verdade da história de Jesus deve ser procurada no coração dos crentes e não no pó da arqueologia ou nos ossos da antropologia. Pois onde estiverem reunidos, em Meu nome, dois ou três, Eu estarei no meio deles, prometeu Jesus.
José e Maria vieram de Nazaré porque, conforme nos dizem, a sua presença era exigida devido a um recenseamento da população ordenado por César Augusto, ainda no auge da sua fama. De todos os milhões de indivíduos contados no censo do imperador, o que nasceu nessa noite em Belém deve ter sido, em termos temporais, talvez o mais insignificante. Tratava-se de uma confrontação de estirpes entre um soberano da Terra, então aclamado como um deus, e o mais humilde dos seus súbditos. No entanto, com o correr do tempo, houve uma inversão de papéis: durante séculos, Jesus haveria de reinar sobre o espírito e o coração dos homens, enquanto o reino de Augusto existiria apenas nos livros de história e nas ruínas.
Foi também para suprir a abalada fé do Mundo que teve lugar o nascimento de Belém. A fé é a chave que nos permite decifrar a palavra de Deus, de outro modo impenetrável. À luz da fé, os rebanhos rejubilam, os Reis Magos prosternam-se e entregam as suas oferendas, as próprias estrelas tomam novo rumo. E Maria segura nos braços a nova luz que veio ao Mundo para iluminar toda a Humanidade.
A história de como Jesus veio à Terra, daquilo que disse e fez e de como deixou o Mundo, permanecendo sempre nele, foi mais contada, fantasiada, analisada e ilustrada que qualquer outra na história da Humanidade. Tantas interpretações! Temos o Jesus histórico, o Jesus que luta pela liberdade, ... o Jesus proletário. As reconstituições humanizadas feitas actualmente da mensagem de Jesus pretendem que o Seu reino é deste Mundo, que o homem pode viver só de pão e que tem de acumular tesouros na Terra, num produto nacional bruto sempre crescente. Os futuros historiadores concluirão provavelmente que, quanto mais sabíamos sobre Jesus, menos O conhecíamos ou atendíamos às Suas palavras.
Porém, ao longo da História, as palavras do Evangelho têm inspirado muitos dos mais nobres feitos da nossa civilização. É, em nome dessas palavras que se têm construído monumentos majestosos, como a Catedral de Chartres e que grandes homens, como S. Francisco de Assis, têm dedicado tão prontamente as suas vidas a Deus e aos homens. Para maior glória dessas palavras, Bach compôs, El Greco pintou, ... e Pascal escreveu os seus Pensamentos. Não tem verdadeiramente fim aquilo a que essas palavras nos levam. Se sobreviveram aos seus comentadores - especialmente aos dos últimos tempos -, então devem seguramente ser consideradas 'imortais'. E assim, ou Jesus nunca existiu, ou então ainda existe.
Como um produto típico destes tempos conturbados, com uma mente céptica e um espírito sensual, acanhado, e indignamente, mas com a mesma certeza, afirmo que Ele ainda existe!
Para aqueles que, como eu, temem que a 'civilização ocidental' se extinga e que uma nova Idade das Trevas nos submerja, o provável colapso da fé é desolador. Contudo, de repente, no meio da mais improvável cena, um Soljenitsine ergue a sua voz, enquanto nos bairros de lata de Calcutá uma Madre Teresa, juntamente com as suas Missionárias da Caridade, prossegue a obra de amor iniciada por Jesus. Porque tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e recolhestes-Me; estava nu e destes-Me de vestir; adoeci e visitastes-Me - as palavras ganham vida no cumprimento das ordens de Jesus para ver na face sofredora da Humanidade a Sua própria face sofredora. A religião que Jesus deu ao Mundo é uma experiência, não um conjunto de ideias ou princípios. É vivendo-a que ela se torna viva.
Jesus exigiu mais dos seus seguidores do que qualquer outro mestre dos seus alunos - que façamos o bem àqueles que nos magoam e que oremos por aqueles que nos perseguem; que, se nos derem uma bofetada na face direita, viremos também a outra face e que, quando alguém nos roubar o nosso casaco, lhe demos também a capa; e ainda que quando alguém nos forçar a caminhar com ele um quilómetro, o acompanhemos durante dois. Que nos afastemos não só do adultério, mas também do mau desejo, e não apenas de matar o próximo, mas também de nos irritarmos e chamarmos tolo a alguém.
Jesus não foi, no sentido contemporâneo, um idealista, nem sugeriu que acreditemos que o Mundo podia ser melhor segundo as condições por Ele ditadas. Não vejo que Jesus tenha alguma vez defendido uma reforma, qualquer que ela fosse, ou apoiado alguma causa humana, por muito inspirada que fosse. A Sua doutrina incarna o mais sublime espiritualismo e o realismo mais cru, deixando de parte os meios-termos, as pastagens viçosas do liberalismo e das boas-vontades. Ele deu-nos, não um plano de acção ou um código moral, nem certamente um programa de reformas, mas as Suas contradições maravilhosamente inspiradoras - os últimos serão os primeiros, os desventurados os mais bem-aventurados, os fracos os mais fortes, os obscuros os mais celebrados.
Muitos grandes mestres, líderes religiosos, mártires e santos disseram palavras cheias de graça e de verdade. No entanto, só no caso de Jesus persistiu a crença de que quando Ele veio ao Mundo, Deus dignou-Se conceder-Lhe a forma humana, para que os homens pudessem na sua mortalidade alcançar a Sua imortalidade. Eu sou a Ressurreição e a Vida, disse-nos Ele, e todo aquele que vive e crê em Mim não morrerá.
Malcolm Muggeridge in Selecções do Reader's Digest, adaptação. O autor "foi correspondente em Moscovo do Guardian de Manchester, editor da revista Punche e argumentista de filmes para televisão. Entre os seus livros, contam-se The Earnest Atheist, Jesus Rediscovered e A Twentieth Century Testimony."
«O Natal Começou no Coração de Deus, Mas Só Estará Completo
Quando Alcançar o Coração do Homem»
HAVERÁ SEMPRE UMA ESTRELA
Se fosse tão fácil acender estrelas pela vida fora como é fácil olhá-las de noite, já acesas, num céu muito escuro, brilhantes como astros, agrupadas em constelações como jóias de grande preço, não estava tão aflito aquele acendedor de estrelas.
Um acendedor de estrelas? Sim!
Recebera do céu aquele encargo. Há poucas pessoas que mereçam esta honra, mas o pequeno Luciano era uma delas. Não tinha mais de dez anos, mas era alto para a idade, e com uns olhos tão claros, tão puros e brilhantes como... como duas estrelas!
E todas as noites, todas, saía da barraquinha onde morava, para acender as estrelas; de Inverno mais cedo, porque as noites são maiores e, conforme o tempo ia aquecendo, só era preciso acender as estrelas cada vez mais tarde, e Luciano até tinha tempo de dormir a sesta.
Depois de cumprir a sua tarefa, podia recolher a casa, porque de madrugada as estrelas iam-se apagando sozinhas, uma a uma, como candeias a que fosse faltando o azeite e, quando nascia o Sol, alguma que ficasse acesa, nem se dava por isso.
Mas nessa noite de Inverno, Luciano, que saíra com muita antecedência da barraquinha, abafado no sobretudo, com a gola levantada até ao nariz e um gorro na cabeça, estava muito aflito. Tinha acendido as estrelas todas, da primeira à última, sem se esquecer de nenhuma, porque sabia o nome delas todas. Mas sabia também que essa noite era noite de Natal e que precisava acender uma estrela maior e mais importante do que as outras, que iluminasse a Terra inteira como um farol, e indicasse com os raios de diamante que além, lá longe, tinha nascido o Menino-Deus que havia de iluminar as almas com uma luz mais forte, mais viva, e que não se apagasse nunca.
Esta estrela não tinha nome nem estava em constelação nenhuma. Mas, conforme a noite ia envolvendo a Terra, ela havia de descer no céu e aproximar-se dos homens até os aquecer, iluminando o caminho àqueles que quisessem chegar ao Redentor.
Por isso Luciano estava aflito. Em que ponto do céu ficava exactamente aquela estrela sem nome, apagada ainda, para que ele a acendesse? Sobre a cidade? No alto das montanhas mais altas da Terra, ou suspensa sobre o mar sem fim?
Levando na mão uma comprida vara, resplandescente como a varinha das fadas, que bastava tocar com ela no céu escuro para que as estrelas ficassem acesas, lá seguia pela rua de uma grande capital, sozinho, enquanto o mundo se preparava para festejar aquela noite santa, com a família e os amigos, diante de mesas cobertas de coisas boas, ao pé da árvore de Natal, cheia de prendas.
Já estava desnorteado e triste, quando ouviu por cima da sua cabeça alguém chorar baixinho. Olhou, e viu à janela da água-furtada de um velho prédio uma menina tão bonita, com a carinha tão redonda, os olhos tão grandes e as tranças tão loiras, que parecia uma boneca que o Menino Jesus tivesse lançado pela chaminé. Chorava e dizia: "Mamã!... Mamã!...", com voz aflita. Também podia ser uma boneca, porque já há bonecas tão perfeitas que falam e choram. Luciano tinha um coração tão bom que não podia ver chorar ninguém, nem mesmo uma boneca. Por isso perguntou-lhe:
- Porque estás a chorar?
- Porque sou uma menina pobre, que vive por esmolas com os donos desta água-furtada. Mas eles foram ao cinema e não me puderam levar porque eu não tenho idade.
Afinal sempre era uma menina!...
- E tu quem és? És o Menino Jesus, que anda a distribuir os brinquedos?
- Não - respondeu Luciano. - Sou um acendedor de estrelas.
- De estrelas? Que ofício tão bonito!... - continuou a menina.
- E já acendeste todas?
- Não. Ainda me falta acender a estrela mais importante desta noite.
- Então porque não a acendes? - perguntou a menina.
- Porque não sei onde ela está - explicou o acendedor de estrelas.
- Como queres saber, se as estrelas só se veem quando já estão acesas?
- Pois. Mas para as acender é preciso saber onde elas estão!...
- Mas como podes saber, se estiverem apagadas?
- É esse o meu problema - disse Luciano, desanimado.
- Posso ajudar-te? - perguntou a menina.
- Sabes por acaso onde está essa estrela?
- Aqui, na minha água-furtada, como não tenho brinquedos, e estou perto do céu, passo noites inteiras a brincar com as estrelas. Converso com elas. Quase lhes chego com a mão. As estrelas são minhas amigas. Sei o nome delas todas. Como se chama a tua estrela?
- É uma estrela sem nome.
- Gostava de a conhecer.
- Para a conheceres é preciso que eu a acenda primeiro. Por isso tenho que me ir embora à procura dela.
- E deixas-me aqui sozinha?
- Se não cumpro a minha obrigação antes da meia-noite, o céu é capaz de se zangar. Até posso perder o emprego de acendedor de estrelas.
- E era uma pena, um emprego tão bonito!...
- Que horas são?
- Daqui, vejo o relógio da torre da igreja. É quase meia-noite. Que pena, já éramos amigos, não éramos? - perguntou a menina, muito triste.
- Éramos!... Desculpa deixar-te sozinha - disse Luciano, com voz mais triste ainda.
- Eu tenho estado sempre sozinha. Mas quando te fores embora, ainda fico mais sozinha.
E a menina começou a chorar outra vez.
- Sou uma menina muito infeliz! Mamã!... Mamã!...
Luciano, o acendedor de estrelas, tinha um bom coração e não podia ver chorar ninguém, quanto mais uma menina pobre. E, sentando-se no passeio em frente da janela da água-furtada, disse lá para cima:
- Fico aqui a fazer-te companhia.
E durante toda a noite conversou com a menina, contou-lhe a vida dele, todas as histórias que sabia, dançou e fez palhaçadas para a divertir. Passava já muito da meia-noite, e à medida que a noite ia avançando, a pouco e pouco, por detrás da água-furtada, que se desenhava como uma silhueta chinesa no céu estrelado e limpo, ia surgindo uma grande estrela, mais viva, mais brilhante e mais luminosa do que todas as outras, que subia devagar, muito devagarinho, lançando raios de diamante que iluminavam a Terra inteira.
E de madrugada, quando, a pouco e pouco, as estrelas se foram apagando, a grande estrela sem nome ainda luziu um tempo, e acabou por ser ofuscada pelo Sol.
Mas de dia ou de noite, seja Natal ou não, acesa ou apagada, ela lá está no céu, iluminando o caminho àqueles que quiserem chegar junto do Redentor.
E não é verdade que seja uma estrela sem nome. Tem vários. Chama-se: Caridade, Perdão, Justiça, Ternura, Fraternidade, Amor!...
Ricardo Alberty, A Terra Natal e Outros Contos
Vi um assento no bordo de uma pedra, na penumbra iluminada pelas velas acesas. Como eram ridículos estes sítios a que chamavam santuários! E que miserável o espírito comercial que os explorava! Só um louco crédulo poderia supor que o sítio assinalado na cripta por uma estrela de prata era de facto o local exacto onde Jesus tinha nascido! A Terra Santa, ao que parecia, fora transformada numa espécie de Jesuslândia.
Na cripta, desde os vistosos pendentes que cobriam as paredes de pedra aos crucifixos, quadros baratos e candeeiros, tudo conduzia a esse estado de espírito. Mas que desapropriado decorar uma simples manjedoura de forma a parecer uma loja de quinquilharia a abarrotar de bricabraque eclesiástico! Afinal, o importante no nascimento de Jesus era a sua obscuridade. O santuário devia fazer sobressair a humildade da ocasião que venerava, para que o mais pobre visitante ficasse a saber que Cristo tinha vindo ao Mundo em circunstâncias ainda mais humildes que ele próprio.
À medida que estes pensamentos me perpassavam pelo espírito, comecei a aperceber-me do comportamento dos visitantes. Alguns rezavam, outros ajoelhavam-se, mas para a maioria a Basílica da Natividade era só um local de visita turística - como o podem ser o Taj Mahal ou o Museu de Cera de Madame Tussaud.
Todavia, cada rosto que me surgia estava transfigurado pela experiência de ter estado no local onde supostamente tinha ocorrido o nascimento de Jesus. O tédio, a curiosidade fútil, desapareciam. Aqui, todos pareciam dizer: foi onde tudo aconteceu, foi aqui que Ele veio ao Mundo e aqui O encontraremos!
A Terra Santa está cheia de história, escrita nas pedras. No entanto, não foi história aquilo que eu, o céptico, encontrei na Basílica da Natividade. Foi algo de mais profundo e mais estimulante: a verdade da história de Jesus deve ser procurada no coração dos crentes e não no pó da arqueologia ou nos ossos da antropologia. Pois onde estiverem reunidos, em Meu nome, dois ou três, Eu estarei no meio deles, prometeu Jesus.
José e Maria vieram de Nazaré porque, conforme nos dizem, a sua presença era exigida devido a um recenseamento da população ordenado por César Augusto, ainda no auge da sua fama. De todos os milhões de indivíduos contados no censo do imperador, o que nasceu nessa noite em Belém deve ter sido, em termos temporais, talvez o mais insignificante. Tratava-se de uma confrontação de estirpes entre um soberano da Terra, então aclamado como um deus, e o mais humilde dos seus súbditos. No entanto, com o correr do tempo, houve uma inversão de papéis: durante séculos, Jesus haveria de reinar sobre o espírito e o coração dos homens, enquanto o reino de Augusto existiria apenas nos livros de história e nas ruínas.
Foi também para suprir a abalada fé do Mundo que teve lugar o nascimento de Belém. A fé é a chave que nos permite decifrar a palavra de Deus, de outro modo impenetrável. À luz da fé, os rebanhos rejubilam, os Reis Magos prosternam-se e entregam as suas oferendas, as próprias estrelas tomam novo rumo. E Maria segura nos braços a nova luz que veio ao Mundo para iluminar toda a Humanidade.
A história de como Jesus veio à Terra, daquilo que disse e fez e de como deixou o Mundo, permanecendo sempre nele, foi mais contada, fantasiada, analisada e ilustrada que qualquer outra na história da Humanidade. Tantas interpretações! Temos o Jesus histórico, o Jesus que luta pela liberdade, ... o Jesus proletário. As reconstituições humanizadas feitas actualmente da mensagem de Jesus pretendem que o Seu reino é deste Mundo, que o homem pode viver só de pão e que tem de acumular tesouros na Terra, num produto nacional bruto sempre crescente. Os futuros historiadores concluirão provavelmente que, quanto mais sabíamos sobre Jesus, menos O conhecíamos ou atendíamos às Suas palavras.
Porém, ao longo da História, as palavras do Evangelho têm inspirado muitos dos mais nobres feitos da nossa civilização. É, em nome dessas palavras que se têm construído monumentos majestosos, como a Catedral de Chartres e que grandes homens, como S. Francisco de Assis, têm dedicado tão prontamente as suas vidas a Deus e aos homens. Para maior glória dessas palavras, Bach compôs, El Greco pintou, ... e Pascal escreveu os seus Pensamentos. Não tem verdadeiramente fim aquilo a que essas palavras nos levam. Se sobreviveram aos seus comentadores - especialmente aos dos últimos tempos -, então devem seguramente ser consideradas 'imortais'. E assim, ou Jesus nunca existiu, ou então ainda existe.
Como um produto típico destes tempos conturbados, com uma mente céptica e um espírito sensual, acanhado, e indignamente, mas com a mesma certeza, afirmo que Ele ainda existe!
Para aqueles que, como eu, temem que a 'civilização ocidental' se extinga e que uma nova Idade das Trevas nos submerja, o provável colapso da fé é desolador. Contudo, de repente, no meio da mais improvável cena, um Soljenitsine ergue a sua voz, enquanto nos bairros de lata de Calcutá uma Madre Teresa, juntamente com as suas Missionárias da Caridade, prossegue a obra de amor iniciada por Jesus. Porque tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me de beber; era peregrino e recolhestes-Me; estava nu e destes-Me de vestir; adoeci e visitastes-Me - as palavras ganham vida no cumprimento das ordens de Jesus para ver na face sofredora da Humanidade a Sua própria face sofredora. A religião que Jesus deu ao Mundo é uma experiência, não um conjunto de ideias ou princípios. É vivendo-a que ela se torna viva.
Jesus exigiu mais dos seus seguidores do que qualquer outro mestre dos seus alunos - que façamos o bem àqueles que nos magoam e que oremos por aqueles que nos perseguem; que, se nos derem uma bofetada na face direita, viremos também a outra face e que, quando alguém nos roubar o nosso casaco, lhe demos também a capa; e ainda que quando alguém nos forçar a caminhar com ele um quilómetro, o acompanhemos durante dois. Que nos afastemos não só do adultério, mas também do mau desejo, e não apenas de matar o próximo, mas também de nos irritarmos e chamarmos tolo a alguém.
Jesus não foi, no sentido contemporâneo, um idealista, nem sugeriu que acreditemos que o Mundo podia ser melhor segundo as condições por Ele ditadas. Não vejo que Jesus tenha alguma vez defendido uma reforma, qualquer que ela fosse, ou apoiado alguma causa humana, por muito inspirada que fosse. A Sua doutrina incarna o mais sublime espiritualismo e o realismo mais cru, deixando de parte os meios-termos, as pastagens viçosas do liberalismo e das boas-vontades. Ele deu-nos, não um plano de acção ou um código moral, nem certamente um programa de reformas, mas as Suas contradições maravilhosamente inspiradoras - os últimos serão os primeiros, os desventurados os mais bem-aventurados, os fracos os mais fortes, os obscuros os mais celebrados.
Muitos grandes mestres, líderes religiosos, mártires e santos disseram palavras cheias de graça e de verdade. No entanto, só no caso de Jesus persistiu a crença de que quando Ele veio ao Mundo, Deus dignou-Se conceder-Lhe a forma humana, para que os homens pudessem na sua mortalidade alcançar a Sua imortalidade. Eu sou a Ressurreição e a Vida, disse-nos Ele, e todo aquele que vive e crê em Mim não morrerá.
Malcolm Muggeridge in Selecções do Reader's Digest, adaptação. O autor "foi correspondente em Moscovo do Guardian de Manchester, editor da revista Punche e argumentista de filmes para televisão. Entre os seus livros, contam-se The Earnest Atheist, Jesus Rediscovered e A Twentieth Century Testimony."
«O Natal Começou no Coração de Deus, Mas Só Estará Completo
Quando Alcançar o Coração do Homem»
HAVERÁ SEMPRE UMA ESTRELA
Se fosse tão fácil acender estrelas pela vida fora como é fácil olhá-las de noite, já acesas, num céu muito escuro, brilhantes como astros, agrupadas em constelações como jóias de grande preço, não estava tão aflito aquele acendedor de estrelas.
Um acendedor de estrelas? Sim!
Recebera do céu aquele encargo. Há poucas pessoas que mereçam esta honra, mas o pequeno Luciano era uma delas. Não tinha mais de dez anos, mas era alto para a idade, e com uns olhos tão claros, tão puros e brilhantes como... como duas estrelas!
E todas as noites, todas, saía da barraquinha onde morava, para acender as estrelas; de Inverno mais cedo, porque as noites são maiores e, conforme o tempo ia aquecendo, só era preciso acender as estrelas cada vez mais tarde, e Luciano até tinha tempo de dormir a sesta.
Depois de cumprir a sua tarefa, podia recolher a casa, porque de madrugada as estrelas iam-se apagando sozinhas, uma a uma, como candeias a que fosse faltando o azeite e, quando nascia o Sol, alguma que ficasse acesa, nem se dava por isso.
Mas nessa noite de Inverno, Luciano, que saíra com muita antecedência da barraquinha, abafado no sobretudo, com a gola levantada até ao nariz e um gorro na cabeça, estava muito aflito. Tinha acendido as estrelas todas, da primeira à última, sem se esquecer de nenhuma, porque sabia o nome delas todas. Mas sabia também que essa noite era noite de Natal e que precisava acender uma estrela maior e mais importante do que as outras, que iluminasse a Terra inteira como um farol, e indicasse com os raios de diamante que além, lá longe, tinha nascido o Menino-Deus que havia de iluminar as almas com uma luz mais forte, mais viva, e que não se apagasse nunca.
Esta estrela não tinha nome nem estava em constelação nenhuma. Mas, conforme a noite ia envolvendo a Terra, ela havia de descer no céu e aproximar-se dos homens até os aquecer, iluminando o caminho àqueles que quisessem chegar ao Redentor.
Por isso Luciano estava aflito. Em que ponto do céu ficava exactamente aquela estrela sem nome, apagada ainda, para que ele a acendesse? Sobre a cidade? No alto das montanhas mais altas da Terra, ou suspensa sobre o mar sem fim?
Levando na mão uma comprida vara, resplandescente como a varinha das fadas, que bastava tocar com ela no céu escuro para que as estrelas ficassem acesas, lá seguia pela rua de uma grande capital, sozinho, enquanto o mundo se preparava para festejar aquela noite santa, com a família e os amigos, diante de mesas cobertas de coisas boas, ao pé da árvore de Natal, cheia de prendas.
Já estava desnorteado e triste, quando ouviu por cima da sua cabeça alguém chorar baixinho. Olhou, e viu à janela da água-furtada de um velho prédio uma menina tão bonita, com a carinha tão redonda, os olhos tão grandes e as tranças tão loiras, que parecia uma boneca que o Menino Jesus tivesse lançado pela chaminé. Chorava e dizia: "Mamã!... Mamã!...", com voz aflita. Também podia ser uma boneca, porque já há bonecas tão perfeitas que falam e choram. Luciano tinha um coração tão bom que não podia ver chorar ninguém, nem mesmo uma boneca. Por isso perguntou-lhe:
- Porque estás a chorar?
- Porque sou uma menina pobre, que vive por esmolas com os donos desta água-furtada. Mas eles foram ao cinema e não me puderam levar porque eu não tenho idade.
Afinal sempre era uma menina!...
- E tu quem és? És o Menino Jesus, que anda a distribuir os brinquedos?
- Não - respondeu Luciano. - Sou um acendedor de estrelas.
- De estrelas? Que ofício tão bonito!... - continuou a menina.
- E já acendeste todas?
- Não. Ainda me falta acender a estrela mais importante desta noite.
- Então porque não a acendes? - perguntou a menina.
- Porque não sei onde ela está - explicou o acendedor de estrelas.
- Como queres saber, se as estrelas só se veem quando já estão acesas?
- Pois. Mas para as acender é preciso saber onde elas estão!...
- Mas como podes saber, se estiverem apagadas?
- É esse o meu problema - disse Luciano, desanimado.
- Posso ajudar-te? - perguntou a menina.
- Sabes por acaso onde está essa estrela?
- Aqui, na minha água-furtada, como não tenho brinquedos, e estou perto do céu, passo noites inteiras a brincar com as estrelas. Converso com elas. Quase lhes chego com a mão. As estrelas são minhas amigas. Sei o nome delas todas. Como se chama a tua estrela?
- É uma estrela sem nome.
- Gostava de a conhecer.
- Para a conheceres é preciso que eu a acenda primeiro. Por isso tenho que me ir embora à procura dela.
- E deixas-me aqui sozinha?
- Se não cumpro a minha obrigação antes da meia-noite, o céu é capaz de se zangar. Até posso perder o emprego de acendedor de estrelas.
- E era uma pena, um emprego tão bonito!...
- Que horas são?
- Daqui, vejo o relógio da torre da igreja. É quase meia-noite. Que pena, já éramos amigos, não éramos? - perguntou a menina, muito triste.
- Éramos!... Desculpa deixar-te sozinha - disse Luciano, com voz mais triste ainda.
- Eu tenho estado sempre sozinha. Mas quando te fores embora, ainda fico mais sozinha.
E a menina começou a chorar outra vez.
- Sou uma menina muito infeliz! Mamã!... Mamã!...
Luciano, o acendedor de estrelas, tinha um bom coração e não podia ver chorar ninguém, quanto mais uma menina pobre. E, sentando-se no passeio em frente da janela da água-furtada, disse lá para cima:
- Fico aqui a fazer-te companhia.
E durante toda a noite conversou com a menina, contou-lhe a vida dele, todas as histórias que sabia, dançou e fez palhaçadas para a divertir. Passava já muito da meia-noite, e à medida que a noite ia avançando, a pouco e pouco, por detrás da água-furtada, que se desenhava como uma silhueta chinesa no céu estrelado e limpo, ia surgindo uma grande estrela, mais viva, mais brilhante e mais luminosa do que todas as outras, que subia devagar, muito devagarinho, lançando raios de diamante que iluminavam a Terra inteira.
E de madrugada, quando, a pouco e pouco, as estrelas se foram apagando, a grande estrela sem nome ainda luziu um tempo, e acabou por ser ofuscada pelo Sol.
Mas de dia ou de noite, seja Natal ou não, acesa ou apagada, ela lá está no céu, iluminando o caminho àqueles que quiserem chegar junto do Redentor.
E não é verdade que seja uma estrela sem nome. Tem vários. Chama-se: Caridade, Perdão, Justiça, Ternura, Fraternidade, Amor!...
Ricardo Alberty, A Terra Natal e Outros Contos
NA PORTA DO CORAÇÃO
Batem...
Não vais abrir? Talvez algum viajante
exânime, que vem de plaga mui distante
deseje repousar um pouco e conhecer-te...
Talvez algum amigo ausente almeje ver-te
nesta hora em que sozinho estás nos teus sonhares
e te abismas no caos de todos os cismares...
Lá fora, a escuridão, no seu negror profundo
cobre com densos véus os âmbitos do mundo.
E eu sei, que a tua vida é triste e taciturna
como o silêncio atroz da escuridão nocturna.
Tu não tens alegria... embalde a tens buscado.
A paz, a doce paz, de ti tem-se afastado
e a esperança que tens é breve, é fugidia
e logo se dissipa ao despontar do dia.
Não ouves?
Alguém bate à tua porta. Escuta:
é uma voz dulçorosa e amiga...
Eu sei que a luta dentro de ti é grande.
No entanto, vai abri-la! Abre-a de par em par!
A voz que estás a ouvir tem um dulçor celeste,
incompreendido, suave.
É mais doce que a voz terníssima de uma ave,
é mais branda que a voz da fonte em gorgorejos,
é mais pura que a voz dos inocentes beijos.
Parece uma canção que algum arcanjo entoasse
quando as asas ruflando ao teu lado passasse.
Batem...
Quem há-de ser? escuta:
É a voz d'Aquele que dá descanso eterno
a quem confia n'Ele.
Outro não é se não Jesus, o Grande Amigo,
que quer entrar e quer morar, viver contigo!
Se abrires a porta, Ele entrará contente
e habitará contigo. E tu, eternamente,
fruirás o Seu amor acrisolado, forte.
E nunca, nunca mais, conhecerás a morte,
e nunca mais tristeza há-de cingir-te a fronte!
Então, contemplarás na vida o alto horizonte
e dirás: - Sou feliz! Pois é feliz aquele
que aceitando Jesus confia sempre n'Ele
e deixa-O habitar no coração desperto,
fechado para o mundo e para Deus aberto.
Autor desconhecido
"Eis que estou à porta e bato.
Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta,
entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele Comigo."
Jesus
Apocalipse 3:20
e aceitaram JESUS - DEUS, como
o ÚNICO SENHOR E SALVADOR das suas vidas.
Convido-vos assim a navegarem e pesquisarem pelos vários sites que apresento nos links de Reflexões 1R e pessoalmente a visitarem as nossas Igrejas. Lá conhecereis pessoas boas e simpáticas que se alegrarão de estudar convosco a PALAVRA DE DEUS. (Edite Esteves)
Programa de NATAL gravado com os estudantes de uma Academia da Igreja Adventista do 7ª Dia
da Província de British Columbia, Canadá. São todos adolescentes mas muito talentosos.
http://fountainviewacademy.ca