PRÓLOGO
O soldado cubano
Do meu lugar, eu conseguia ver uma parte da pista de aterragem. Porquê esta espera? Depois de ter passado cinco dias no Huambo, eu só tinha um desejo: chegar a Luanda, a capital de Angola. O Huambo era uma cidade cercada pelos soldados da UNITA. Todas as noites o barulho das metralhadoras nos lembrava que a guerra estava a alguns passos das casas. Quanto aos dias, eles eram ritmados pelo barulho incessante dos aviões e dos helicópteros soviéticos. Os soldados cubanos marchavam despreocupadamente nas ruas ou patrulhavam nos quarteirões da periferia. À excepção dos pilotos russos e de um representante da Cruz Vermelha, não vi Europeus. As lojas, ou o que restava delas, apresentavam estantes desoladoramente vazias. A cidade, outrora bela e acolhedora, degradava-se dia a dia. Eu não tinha vindo para fazer uma reportagem, mas para me encontrar com crentes. As igrejas estavam completamente cheias. Muitos jovens participavam nos serviços religiosos. Todos estavam ávidos de ouvir falar de Deus.
O avião esperava sem se mexer. Um jeep atravessou a pista e veio parar por baixo da escada. Quatro soldados cubanos desceram rapidamente. Um quinto estava estendido sobre uma maca. Os outros puxaram-no pelos braços, subiram-no para o avião e dirigiram-se para o fundo da cabine. Tive tempo de ver a sua face: Como ele era jovem! Devia ter 18-19 anos como o meu filho mais velho. A ligadura que o envolvia estava manchada de sangue. Ele sofria! A ferida parecia grave. Iria ele sobreviver?
Imaginei os seus pais a receberem a notícia. A sua infância, a sua juventude em Cuba. Morrer tão longe, por quem, porquê? Será que ele foi forçado a alistar-se? Ou era voluntário? Que pensava ele agora? Não sei bem porquê, mas fiquei a meditar sobre o sucesso. Como todos os jovens da sua idade, o soldado cubano tinha, sem dúvida, projectos e sonhos. Ele tinha talvez imaginado uma vida bem planeada, com alegrias, trabalho, vitórias, a felicidade de uma família, numa palavra, uma vida de sucesso. De repente, tudo desabava. Se ele morrer à chegada a Luanda as pessoas dizem que não teve sorte; sim, ele falhou na sua vida. Este pensamento entristeceu-me. Eu tinha dificuldade em aceitar isto.
Será que o sucesso estaria reservado àqueles que vivem muitos anos e ganham muito dinheiro? E os outros? Uma reflexão leva a outra e comecei a perguntar a mim mesmo o que é o sucesso. Será acessível a todos? Quais são os seus segredos? Como conseguir ser bem sucedido na vida?
Fiz a mim mesmo estas perguntas durante alguns anos. Falei delas em encontros de jovens. Por toda a parte pude constatar o mesmo interesse e por vezes a mesma confusão. Há muito mais rapazes e raparigas a duvidar das suas possibilidades do que nós imaginamos. O futuro faz-lhes medo. Têm tendência para fugir dele.
Ela tinha as condições para o sucesso
Aquela jovem que começou a chorar quando lhe falei de Deus tinha tudo para ser bem sucedida na vida. "Há pensamentos negativos que atravessam a minha cabeça. Eu não consigo acreditar que Deus me ama. Quanto ao meu futuro, disse-me ela, parece-me completamente sem interesse." Ouvi-la reagir assim foi para mim um grande choque. Ela tinha todas as condições para o sucesso. Porque se recusava a admiti-lo? A resposta foi-me dada quando ela me contou a sua infância. O pai batia-lhe todos os dias e a sua madrasta aproveitava todas as ocasiões para a humilhar.
Ela lutava para construir a sua personalidade. Duvidava muito. Pedi-lhe para pegar numa folha de papel e num lápis: "Faz duas colunas. No cimo da primeira põe o sinal menos e na segunda põe o sinal mais". Seguindo o meu conselho ela fez duas listas. Primeiro a das suas dificuldades. Eu li: Falta de confiança, de conhecimento, infância difícil, solidão... Depois do quarto ponto eu disse-lhe: "Faz uma lista dos teus pontos fortes, dos teus triunfos". Ela corou. Era a primeira vez que lhe pediam isso. "Eu vou ajudar-te. És bonita ou feia?" Ela não era feia. "És doente ou saudável?" A lista tomou forma: cinco, seis, sete... A sua face iluminou-se. Ela não podia esconder a sua alegria. Face à vida ela descobria as suas armas, as suas possibilidades. A possibilidade de êxito também existia para ela.
Neste livro, enumerei dez princípios para o sucesso aos quais juntei 'O princípio dos princípios' sem o qual todos os nossos esforços seriam em vão. Passa algum tempo a meditar em cada um deles. Encara as suas possibilidades de aplicação e imagina-te a praticá-los. Mas, não fiques por aí. Parte à descoberta de outros. Observa as pessoas que, à tua volta, têm sucesso, fala com elas, avalia as razões do seu êxito. Está-se sempre pronto para ajudar quem quer aprender.
Não te deixes impressionar pelas derrotas, pelas amarguras daqueles para quem o sucesso foi reservado a uma 'elite' de berço ou a pessoas pouco honestas. Isso é apenas uma visão muito parcial e injusta do assunto. O sucesso espera-te. Ele estende-te os braços. É a ti que compete responder ao seu convite.
Gostaria que pudesses acreditar nas tuas possibilidades. Deus deu-te talentos. Descobre-os. Tu não estás neste mundo por acaso. Diante de ti está um caminho. Segue-o! Não estás só. O Senhor acompanhar-te-á. Com Ele tu terás êxito na vida. Não te desvies dele e nada te poderá impedir de conseguires.
PODEROSO, RICO E CÉLEBRE
"Aqui na terra o nome de um grande homem é semelhante a letras escritas na areia, mas um carácter sem mancha subsistirá durante a eternidade." E. W.
"Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?" Mateus 16:26
Algumas palavras têm sentidos mágicos. Analisemos, por exemplo: SUCESSO. É uma palavra bem actual. Evoca lutas, derrotas, vitórias, heróis. Ressoa nos ouvidos dos ambiciosos como uma ordem, uma necessidade. Ela fascina, fica-se obcecado. São raros aqueles que lhe ficam indiferentes.
Quando se é jovem pensa-se no seu próprio sucesso. Quando se chega a velho deseja-se o sucesso para os filhos ou netos.
Ser bem sucedido tem, na origem, o sentido de 'sair-se bem' (do latim 'exire'). Ter sucesso é, para muitos, sair do anonimato, da multidão dos desconhecidos e criar um nome. Um nome na primeira página dos jornais, em letras luminosas sobre os arranha-céus de Manhattan. Quanto mais ele for visto e lido, maior será o seu sucessso.
O SUCESSO É ISTO?
Ter sucesso será assemelhar-se a esta publicidade de revista: Um homem com cerca de quarenta anos vestido por Pierre Cardin, saindo de um luxuoso restaurante com o cartão de crédito ainda na mão, acompanhado de uma mulher jovem, fato Chanel, jóias Cartier, dirigindo-se para um magnífico BMW? Ao longe espera-os um avião privado.
Ter sucesso na vida, será isso? Sim! De certo modo. É verdade que, hoje, na nossa sociedade, os indicadores de sucesso são a riqueza, o poder e a celebridade.
GANHAR MUITO DINHEIRO
Interrogaram-se 290 000 adolescentes americanos (American Council on Education, 1989) sobre o seu futuro. 76% responderam que queriam ganhar muito dinheiro. Quando foi feita uma segunda pergunta, 56% disseram que queriam ajudar os mais pobres. Em 1966 no mesmo país os adolescentes tinham colocado como prioridade a qualidade de vida - 83%; e a ajuda dos mais desfavorecidos - 69%.
Isso poderia significar que a juventude ocidental actual é mais sensível aos valores 'materialistas' do que a dos anos sessenta. Pelo meu lado, desconfiando das sondagens, eu diria que ela é menos sensível aos discursos idealistas. Haverá sempre entre os jovens um desejo enorme de ser útil, de fazer o bem. Quando eu era estudante, a riqueza parecia ser, para mim, um insulto à justiça. Os que a possuíam encarnavam o mal e os pobres o bem no estado puro.
Eu partilhava a visão do filósofo Roger Garaudy quando dizia: "O mundo está dividido em duas categorias, os pobres e os ricos, os opressores e os oprimidos". Mas a vida ensinou-me que as coisas não são assim tão simples. Tenho ainda presente na minha memória os olhos de um mendigo implorando caridade. Isso ocorreu na Índia. Que podia eu fazer por ele? Eu não tinha nada, tirando o meu bilhete de avião, a minha máquina fotográfica, uma mala com roupa, um saco de viagem com trinta quilos de recordações, uma família que me esperava na Europa, estudos acabados há pouco, mais nada. Então nos seus olhos eu li como que uma reprovação: "Como tens a ousadia de dizer que não possuis nada?"
Para o pobre, a riqueza é, ao mesmo tempo, um insulto e um sonho. Mas tentem dizer-lhe que isso não é uma forma de sucesso! Consciente ou inconscientemente todos nós temos por vezes o sonho de sermos ricos. Acontece mesmo que há crentes que consideram a riqueza como a prova por excelência de bênção divina.
DEUS, O GRANDE FORNECEDOR DE BENS
Durante uma das minhas estadas em Nova Yorque, ouvi pela rádio um pastor que afirmava com convicção: "Se deseja ter riqueza, amor, saúde, aproxime-se de Deus. Ele vai satisfazê-lo." É a mensagem de uma religião popular que faz de Deus o grande fornecedor de bens materiais.
Se isso fosse assim tão simples, Jesus não teria nascido num estábulo. Teria vivido em palácios e enchido os seus discípulos de presentes: para Mateus, a chave de um banco na mão e uma fábrica de presentes piedosos para Judas, algo que lhes assegurasse um futuro confortável.
A ideia parece-te ridícula. Não imaginamos homens da têmpera de Paulo a viverem no luxo, deslocando-se em limusines, protegidos por guarda-costas armados e musculosos, dispondo de uma fortuna colossal. No entanto, recordem que na época de Jesus a riqueza era considerada como uma prova de bênção. Quanto mais um homem era rico, mais ele estava convencido de entrar no reino de Deus. Os discípulos acreditavam nisso. Jesus vai chocá-los, quando afirma: "Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas" (Marcos 10:23)! A palavra grega traduzida por riqueza é chrémata. Ela significa, segundo Aristóteles: "Todas as coisas cujo valor é medido pelo dinheiro. Tudo o que é convertido em moeda."
As riquezas não são uma prova de bênçãos, diz Jesus. Ele vai ainda mais longe quando acrescenta:
"É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus." Reacção dos discípulos: "E eles se admiravam ainda mais dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se?" (Marcos 10:25, 26) Eu compreendo bem esta pergunta, porque, enfim, se aqueles que são abençoados se arriscam a não ser salvos, quem o será? Seguindo Jesus, os apóstolos esperavam, sem dúvida, ganhar nos dois aspectos: serem ricos e salvos! Ter a vida eterna e gozar aqui em baixo todas as vantagens possíveis. Quem dá mais? É uma religião que tem um sentido prático.
Porque é que as coisas não se poderiam passar assim? Não temos razão quando dizemos que é melhor ser-se rico, belo, gozando de boa saúde, do que feio e doente? A pobreza não é um ideal, é um acidente. Ela é a prova de que algo vai mal, que há uma injustiça em qualquer parte. Onde está pois o problema com a riqueza? Sejamos claros, não é a riqueza em si que Jesus denuncia, mas a importância que se lhe dá e a maneira como é utilizada. Por outro lado, a riqueza não é necessariamente uma bênção como muitos crêem, mas ela comporta grandes riscos. Porquê?
UMA GRANDE RESPONSABILIDADE
O amor ao dinheiro pode mobilizar todas as nossas energias, apoderar-se do nosso coração e dos nossos pensamentos. Aqui está o perigo. "Ninguém pode servir a Deus e a Mammon" diz Jesus. A riqueza pode convencer-nos de que compra tudo. É verdade que com o dinheiro se compra muita coisa. A corrupção não é a chaga por excelência das nossas sociedades em que o dinheiro reina como Senhor? O filósofo grego Chilon tinha razão ao dizer: "É na pedra de toque que se experimenta a pureza do ouro, mas é com o ouro que se experimenta a bondade ou a malícia dos homens." Os valores verdadeiros, como a amizade, o amor, a justiça, a paz, a esperança e a vida simplesmente não se compram. Isto faz-me pensar no célebre milionário grego que pouco antes de morrer teria dito: "Fui bem sucedido em tudo o que empreendi, excepto na minha vida." O apóstolo Paulo está consciente disso quando escreve: "Manda aos ricos deste mundo que ponham a sua esperança em Deus" (I Timóteo 6:17). O sucesso é muito mais do que a riqueza. Ele não só dá um sentido à vida, mas contribui igualmente para o desabrochar de uma personalidade na sua totalidade. Enfim, a riqueza é, de facto, uma grande responsabilidade. Quanto mais a pessoa possui, mais ela será julgada pelo modo como utilizou as suas posses. Um dia Deus pedirá contas aos que enriqueceram à custa do sofrimento e da morte de outros. Do traficante de drogas ao traficante de armas. Chegará um dia em que eles terão de dar explicações.
Atenção, não me interpretem mal: um rico pode ser um bem para a sociedade, para os pobres, para a sua cidade e o seu país. Por vezes ponho-me a pensar: "Ah! Se eu pudesse ser milionário. Faria 'montes' de coisas úteis." Na minha cabeça, tenho uma longa lista de projectos. Que prazer eu teria em financiar escolas e hospitais!
Mas eu não sou milionário. Talvez seja melhor assim para a minha saúde. Porquê? Porque a vida, a verdadeira vida, é muito mais do que possuir os bens materiais. Sem contar com o facto de que a riqueza fará talvez de mim um ser agressivo. Dominador, sem coração. Eu perderia a paz e, sem dúvida, a amizade dos que me são próximos.
À PROCURA DO PODER
Nietzsche escreveu: "Onde encontrei um ser vivo, descobri a força de vontade". Não é totalmente falso. Cada indivíduo sonha possuir uma parcela de autoridade, de poder.
Vendo o seu filho de dezassete anos domesticar o seu cavalo selvagem, Filipe da Macedónia disse-lhe: "Meu filho, a Grécia é demasiado pequena para ti. Terás o mundo para conquistar". Alexandre partiu à conquista do mundo. As portas da Índia e da China abriram-se diante dele. Em dez anos percorreu 20 000 quilómetros. O sonho tornou-se realidade. Tinha apenas trinta anos.
Três anos mais tarde, morreu: aquele que se considerava divino e que nenhum exército conseguiu deter, perdeu o seu combate contra a morte. A verdade manifestava-se claramente. Ele não era Deus.
Quaisquer que sejam os títulos com que se vista, o homem acabará sempre por encontrar a morte no fim do seu caminho. Antes de Alexandre o Grande dar o seu último suspiro, os generais, preocupados com a sucessão, perguntaram-lhe quem seria o seu herdeiro? O futuro do seu imenso império estava em jogo.
Ele poderia ter respondido: "O meu filho, a minha mulher, o meu melhor amigo." Com um estranho sorriso conquistador pronunciou, sem se lamentar, estas três palavras: "O mais forte!" Os seus generais mataram a sua mulher e os seus filhos. O império foi dividido.
Jesus disse: "Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?" (Mateus 16:26).
NOS PRÓXIMOS TRÊS ANOS DOMINAREI O MUNDO!
Durante as minhas viagens pela Europa, passei frequentemente por locais que relembram a época napoleónica. Em Portugal, em Espanha, na Alemanha, na Checoslováquia. Os meus amigos checos fizeram-me visitar o célebre campo de batalha de Austerlitz. Depois desta vitória legendária Napoleão escreveu: "Dentro de três anos eu dominarei o mundo!" Dez anos mais tarde, foi a batalha de Waterloo.
Alexandre, César, Napoleão, tiveram a sensação de ter chegado ao topo do sucesso. Quer isso dizer que o alcançaram? Aos seus discípulos, tentados pela corrida ao poder, Jesus apresenta propósitos talvez bastante subversivos. Ele desmistifica o poder como objectivo e substitui-o pelo serviço. Ele diz: "Sabeis que os que julgam ser príncipes das gentes delas se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas. Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal" (Marcos 10:42, 43).
Corajoso. Chamar aos dirigentes tiranos, a eles que o eram efectivamente, é um acto de muita coragem. Aqui está o que situa definitivamente o cristianismo em oposição às ideologias que preconizam a força como meio de governo. O apóstolo Paulo refere-se ao exemplo do Senhor quando escreve aos cristãos de Filipos: "Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo" (Filipenses 2:3).
AH! O PRESTÍGIO
"Se quiseres fazer uma maldade a um amigo, deseja-lhe a celebridade" respondeu o abade Pierre a um jornalista que o interrogava acerca da sua popularidade. Palavras de um homem que soube conciliar celebridade e simplicidade. São raros os casos. Nós podemos negligenciar o dinheiro, desprezar a busca do poder, mas procurar com paixão o prestígio, a popularidade.
Os crentes mais convictos, até mesmo os eclesiásticos, podem ser mais sensíveis ao prestígio que ao dinheiro. Quando eu decidi seguir a Cristo, os meus amigos pensaram que eu tinha perdido a cabeça. Quando lhes disse que queria ser pastor, foi o golpe de misericórdia. Uma decisão que para eles era idêntica a um suicídio social, o fim de toda a ambição. Perguntei-me por vezes o que era preciso fazer para reencontrar um pouco de crédito aos seus olhos.
Reparem, mesmo que o poder e o dinheiro nos deixem indiferentes, podemos, no entanto, ser sensíveis ao prestígio e consagrar-lhe a vida. É uma cilada!
Na época de Jesus, os fariseus, um grupo de pessoas muito religiosas, caíram numa cilada. Eles gostavam dos títulos: "Pai, Doutor, Mestre..." e dos primeiros lugares. Porquê? Para serem notados! "Eu estou lá com as personalidades, no meio delas, milhões de pessoas vêem-me na televisão. O que é importante é que me reconheçam. Posso não ser rico nem poderoso, mas estou com os grandes".
Se um dia tivermos este género de reacção, que as palavras de Jesus nos venham à memória. Ele dizia: "Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas" (Mateus 23:6). Porque é que eles agiam desta forma? O Senhor responde: "Eles fazem todas estas coisas para os homens verem." Ai! Isto faz mal, mesmo mal, mas ao mesmo tempo pode ajudar-nos a ver mais claro. Muitas pessoas entregam-se a este género de jogo e estão prontas a perder toda a dignidade por um pequeno momento, por vezes nada mais do que um pequeno momento de 'glória'. Aqueles que recorrem ao Rei dos reis deveriam estar muito longe de tais manobras.
Jesus não procurava o prestígio. Ele recusou o poder, a riqueza, a popularidade. Ele não fazia campanhas publicitárias, não distribuía cartões de visita, não tinha nenhum título universitário. Nascido num estábulo como o mais pobre dos homens, foi crucificado como um bandido, e enterrado na semi-clandestinidade. Por isso o apóstolo Paulo diz que Deus "estabeleceu-O herdeiro de todas as coisas" e que Ele foi "feito mais excelente do que os anjos e herdou um nome melhor que o deles" (Hebreus 1:4).
ESCOLHE O ESSENCIAL
Pela procura do prestígio, da popularidade, arriscamo-nos a perder o essencial, ou seja, a verdadeira vida. Aquela de que nos fala a Bíblia. Aquela que nos dá a paz interior, a esperança, e que a morte não conseguirá destruir. Esta vida, não a podemos comprar nem conquistar. Não a temos em nós mesmos. Ela encontra-se em Deus, em Jesus Cristo. "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" diz Jesus. E acrescenta: "Aquele que crê em Mim viverá." A vida, aquela que nunca acabará, o Senhor no-la oferece como presente. É preciso apropriarmo-nos dela com todas as nossas forças. "Toma posse da vida eterna" escreveu Paulo ao seu discípulo Timóteo (I Timóteo 6:12).
Ter sucesso na vida não é só viver melhor do que os outros, ter mais dinheiro, mais poder, ser célebre. É muito mais. É viver para sempre com o Senhor.
AS VERDADEIRAS RIQUEZAS
Segundo os nossos contemporâneos, a riqueza, o poder, a celebridade são indicadores por excelência do sucesso. Mas Deus pode dar-nos mais. "E se somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo" (Romanos 8:17). Temos dificuldade em avaliar o significado deste título: "Herdeiros de Deus". É fantástico! De fazer empalidecer de inveja príncipes e princesas. Não é um abuso de linguagem, ou um enfeite lírico. O mesmo apóstolo escreve aos crentes de Corinto:
"Portanto, ninguém se deve orgulhar de ser seguidor de qualquer homem. Pois tudo está ao vosso serviço; ( ... ) seja o mundo, a vida ou a morte; seja o presente ou o futuro. Tudo é vosso..." Mas atenção, existe, apesar de tudo, um 'mas': "Mas vocês são de Cristo e Cristo é de Deus" (I Coríntios 3:21-23). É a pertença a Cristo que faz de cada um de nós seres com um destino excepcional.
Milhões de pessoas correm atrás de toda a espécie de gurus ávidos de dinheiro, procuram métodos revolucionários para conseguirem dominar-se a si mesmos, à natureza e aos outros. Eles pensam que a Bíblia é um livro do passado e Cristo, um Deus morto. Falso! Jesus está vivo. Ele partilhará o Seu reino com os Seus discípulos. Incrível, não é verdade? No entanto, esta é a verdade. "E nos ressuscitou juntamente com Ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus" (Efésios 2:6). Os poderes terrestres parecem ser apenas sombras quando comparados com aquilo que nos espera. O apóstolo não inventa nada. Ele retoma simplesmente as promessas de Jesus aos seus discípulos: "Vós que me seguistes (...) também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel" (Mateus 19:28). Eu não peço tanto. Viver num mundo onde o mal, o sofrimento, a injustiça, a morte não existirão mais, e sobretudo rever aqueles que eu amei, encontrar Aquele que eu servi e em quem eu cri satisfaz-me plenamente. Por estas palavras o Senhor diz-nos que não seremos turistas neste mundo novo, mas cidadãos por inteiro.
Não avaliemos o sucesso a partir dos critérios que a nossa sociedade material estabeleceu. Eles são inoperantes e limitados. Aprendamos a olhar mais alto, porque, no fim de contas, o sucesso, o nosso sucesso, não se manifestará a não ser na eternidade.
O HOMEM MAIS FELIZ
No princípio do seu reino, Creso, o riquíssimo rei de Lídia, convidou Sólon, o célebre legislador ateniense. A fortuna do monarca era imensa. Ele quis que o seu hóspede admirasse todos os seus tesouros. Creso colocou-lhe então a seguinte questão: "Qual é o homem mais feliz que encontraste em toda a tua vida?" Sólon citou-lhe alguns nomes. Um, porque tinha morrido pela sua pátria. Outro porque amava ternamente os seus pais e tinha tomado conta deles na sua velhice. Surpreendido, até irritado, por não ouvir citar o seu próprio nome, Creso interrompeu-o e disse-lhe: "E então eu? Não acreditas que sou eu o homem mais feliz do mundo?" Sólon, o sábio, reflectiu, e depois replicou que era impossível dizer que um homem tinha sido feliz antes dele ter morrido. O orgulhoso monarca fez um grande esforço para se conter e não mandar embora o sábio imediatamente.
Sucesso é um dos componentes da felicidade, por isso... não se contentem com sucesso efémero, espectacular talvez, até exaltante, mas que amanhã vos deixará na maior confusão. Procurem o êxito da vossa vida de uma forma completa e não a sacrifiquem por um instante de sucesso.
Três anos depois da visita de Sólon, os Persas apoderaram-se de Sardes. As riquezas de Creso foram pilhadas. Condenado à morte pela fogueira, ele lembra-se das palavras do seu célebre hóspede. Com soluços na voz, grita: "Sólon, Sólon, Sólon!" O rei Persa, Ciro, ouve-o. Intrigado, mandou suspender o suplício e fê-lo contar a história. Divertido por causa do medo de Creso e pelas palavras do ateniense sobre a felicidade, perdoou-lhe e fez dele seu conselheiro.
A TELA DO PINTOR
Há alguns anos, em Londres, foi leiloado um quadro cujo preço bateu todos os recordes. A tela tinha por título "As Íris". Estava assinada por Van Gogh. Enquanto vivo, o célebre pintor só vendeu um único quadro. Não era aquele. Ele conheceu a pobreza, afundou-se no alcoolismo e na loucura. Até foi encontrado um quadro seu no galinheiro de um dos seus credores. O quadro tapava o buraco de uma rede. O verdadeiro valor das suas obras só foi reconhecido depois da sua morte.
A nossa vida é como a tela de um pintor. É preciso tempo, perseverança e sofrimento para fazer uma obra de arte que só a eternidade revelará verdadeiramente.
Com a eternidade como perspectiva, podemos fazer da nossa vida uma verdadeira obra de arte. Talvez nunca nos tornemos ricos, nem poderosos, nem célebres aqui na terra. Os nossos nomes talvez não venham a estar inscritos na coluna social ou na enciclopédia. Será isto uma catástrofe? Claro que não! O importante, é que os nossos nomes sejam inscritos nos livros do céu. Desta forma a vida terá valido a pena. A verdadeira vida em Jesus Cristo, aquela que não terá mais fim.
1º Princípio: Para ter êxito nunca confundas sucesso com o poder, a riqueza ou a celebridade. Se por vezes eles caminham juntos, isso não quer dizer que sejam amigos.
John Graz in Conseguir - Nada nem ninguém te poderá impedir... - Edição Jovem
O avião esperava sem se mexer. Um jeep atravessou a pista e veio parar por baixo da escada. Quatro soldados cubanos desceram rapidamente. Um quinto estava estendido sobre uma maca. Os outros puxaram-no pelos braços, subiram-no para o avião e dirigiram-se para o fundo da cabine. Tive tempo de ver a sua face: Como ele era jovem! Devia ter 18-19 anos como o meu filho mais velho. A ligadura que o envolvia estava manchada de sangue. Ele sofria! A ferida parecia grave. Iria ele sobreviver?
Imaginei os seus pais a receberem a notícia. A sua infância, a sua juventude em Cuba. Morrer tão longe, por quem, porquê? Será que ele foi forçado a alistar-se? Ou era voluntário? Que pensava ele agora? Não sei bem porquê, mas fiquei a meditar sobre o sucesso. Como todos os jovens da sua idade, o soldado cubano tinha, sem dúvida, projectos e sonhos. Ele tinha talvez imaginado uma vida bem planeada, com alegrias, trabalho, vitórias, a felicidade de uma família, numa palavra, uma vida de sucesso. De repente, tudo desabava. Se ele morrer à chegada a Luanda as pessoas dizem que não teve sorte; sim, ele falhou na sua vida. Este pensamento entristeceu-me. Eu tinha dificuldade em aceitar isto.
Será que o sucesso estaria reservado àqueles que vivem muitos anos e ganham muito dinheiro? E os outros? Uma reflexão leva a outra e comecei a perguntar a mim mesmo o que é o sucesso. Será acessível a todos? Quais são os seus segredos? Como conseguir ser bem sucedido na vida?
Fiz a mim mesmo estas perguntas durante alguns anos. Falei delas em encontros de jovens. Por toda a parte pude constatar o mesmo interesse e por vezes a mesma confusão. Há muito mais rapazes e raparigas a duvidar das suas possibilidades do que nós imaginamos. O futuro faz-lhes medo. Têm tendência para fugir dele.
Aquela jovem que começou a chorar quando lhe falei de Deus tinha tudo para ser bem sucedida na vida. "Há pensamentos negativos que atravessam a minha cabeça. Eu não consigo acreditar que Deus me ama. Quanto ao meu futuro, disse-me ela, parece-me completamente sem interesse." Ouvi-la reagir assim foi para mim um grande choque. Ela tinha todas as condições para o sucesso. Porque se recusava a admiti-lo? A resposta foi-me dada quando ela me contou a sua infância. O pai batia-lhe todos os dias e a sua madrasta aproveitava todas as ocasiões para a humilhar.
Ela lutava para construir a sua personalidade. Duvidava muito. Pedi-lhe para pegar numa folha de papel e num lápis: "Faz duas colunas. No cimo da primeira põe o sinal menos e na segunda põe o sinal mais". Seguindo o meu conselho ela fez duas listas. Primeiro a das suas dificuldades. Eu li: Falta de confiança, de conhecimento, infância difícil, solidão... Depois do quarto ponto eu disse-lhe: "Faz uma lista dos teus pontos fortes, dos teus triunfos". Ela corou. Era a primeira vez que lhe pediam isso. "Eu vou ajudar-te. És bonita ou feia?" Ela não era feia. "És doente ou saudável?" A lista tomou forma: cinco, seis, sete... A sua face iluminou-se. Ela não podia esconder a sua alegria. Face à vida ela descobria as suas armas, as suas possibilidades. A possibilidade de êxito também existia para ela.
Neste livro, enumerei dez princípios para o sucesso aos quais juntei 'O princípio dos princípios' sem o qual todos os nossos esforços seriam em vão. Passa algum tempo a meditar em cada um deles. Encara as suas possibilidades de aplicação e imagina-te a praticá-los. Mas, não fiques por aí. Parte à descoberta de outros. Observa as pessoas que, à tua volta, têm sucesso, fala com elas, avalia as razões do seu êxito. Está-se sempre pronto para ajudar quem quer aprender.
Não te deixes impressionar pelas derrotas, pelas amarguras daqueles para quem o sucesso foi reservado a uma 'elite' de berço ou a pessoas pouco honestas. Isso é apenas uma visão muito parcial e injusta do assunto. O sucesso espera-te. Ele estende-te os braços. É a ti que compete responder ao seu convite.
Gostaria que pudesses acreditar nas tuas possibilidades. Deus deu-te talentos. Descobre-os. Tu não estás neste mundo por acaso. Diante de ti está um caminho. Segue-o! Não estás só. O Senhor acompanhar-te-á. Com Ele tu terás êxito na vida. Não te desvies dele e nada te poderá impedir de conseguires.
"Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?" Mateus 16:26
Algumas palavras têm sentidos mágicos. Analisemos, por exemplo: SUCESSO. É uma palavra bem actual. Evoca lutas, derrotas, vitórias, heróis. Ressoa nos ouvidos dos ambiciosos como uma ordem, uma necessidade. Ela fascina, fica-se obcecado. São raros aqueles que lhe ficam indiferentes.
Quando se é jovem pensa-se no seu próprio sucesso. Quando se chega a velho deseja-se o sucesso para os filhos ou netos.
Ser bem sucedido tem, na origem, o sentido de 'sair-se bem' (do latim 'exire'). Ter sucesso é, para muitos, sair do anonimato, da multidão dos desconhecidos e criar um nome. Um nome na primeira página dos jornais, em letras luminosas sobre os arranha-céus de Manhattan. Quanto mais ele for visto e lido, maior será o seu sucessso.
Ter sucesso será assemelhar-se a esta publicidade de revista: Um homem com cerca de quarenta anos vestido por Pierre Cardin, saindo de um luxuoso restaurante com o cartão de crédito ainda na mão, acompanhado de uma mulher jovem, fato Chanel, jóias Cartier, dirigindo-se para um magnífico BMW? Ao longe espera-os um avião privado.
Ter sucesso na vida, será isso? Sim! De certo modo. É verdade que, hoje, na nossa sociedade, os indicadores de sucesso são a riqueza, o poder e a celebridade.
Interrogaram-se 290 000 adolescentes americanos (American Council on Education, 1989) sobre o seu futuro. 76% responderam que queriam ganhar muito dinheiro. Quando foi feita uma segunda pergunta, 56% disseram que queriam ajudar os mais pobres. Em 1966 no mesmo país os adolescentes tinham colocado como prioridade a qualidade de vida - 83%; e a ajuda dos mais desfavorecidos - 69%.
Isso poderia significar que a juventude ocidental actual é mais sensível aos valores 'materialistas' do que a dos anos sessenta. Pelo meu lado, desconfiando das sondagens, eu diria que ela é menos sensível aos discursos idealistas. Haverá sempre entre os jovens um desejo enorme de ser útil, de fazer o bem. Quando eu era estudante, a riqueza parecia ser, para mim, um insulto à justiça. Os que a possuíam encarnavam o mal e os pobres o bem no estado puro.
Eu partilhava a visão do filósofo Roger Garaudy quando dizia: "O mundo está dividido em duas categorias, os pobres e os ricos, os opressores e os oprimidos". Mas a vida ensinou-me que as coisas não são assim tão simples. Tenho ainda presente na minha memória os olhos de um mendigo implorando caridade. Isso ocorreu na Índia. Que podia eu fazer por ele? Eu não tinha nada, tirando o meu bilhete de avião, a minha máquina fotográfica, uma mala com roupa, um saco de viagem com trinta quilos de recordações, uma família que me esperava na Europa, estudos acabados há pouco, mais nada. Então nos seus olhos eu li como que uma reprovação: "Como tens a ousadia de dizer que não possuis nada?"
Para o pobre, a riqueza é, ao mesmo tempo, um insulto e um sonho. Mas tentem dizer-lhe que isso não é uma forma de sucesso! Consciente ou inconscientemente todos nós temos por vezes o sonho de sermos ricos. Acontece mesmo que há crentes que consideram a riqueza como a prova por excelência de bênção divina.
Durante uma das minhas estadas em Nova Yorque, ouvi pela rádio um pastor que afirmava com convicção: "Se deseja ter riqueza, amor, saúde, aproxime-se de Deus. Ele vai satisfazê-lo." É a mensagem de uma religião popular que faz de Deus o grande fornecedor de bens materiais.
Se isso fosse assim tão simples, Jesus não teria nascido num estábulo. Teria vivido em palácios e enchido os seus discípulos de presentes: para Mateus, a chave de um banco na mão e uma fábrica de presentes piedosos para Judas, algo que lhes assegurasse um futuro confortável.
A ideia parece-te ridícula. Não imaginamos homens da têmpera de Paulo a viverem no luxo, deslocando-se em limusines, protegidos por guarda-costas armados e musculosos, dispondo de uma fortuna colossal. No entanto, recordem que na época de Jesus a riqueza era considerada como uma prova de bênção. Quanto mais um homem era rico, mais ele estava convencido de entrar no reino de Deus. Os discípulos acreditavam nisso. Jesus vai chocá-los, quando afirma: "Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas" (Marcos 10:23)! A palavra grega traduzida por riqueza é chrémata. Ela significa, segundo Aristóteles: "Todas as coisas cujo valor é medido pelo dinheiro. Tudo o que é convertido em moeda."
As riquezas não são uma prova de bênçãos, diz Jesus. Ele vai ainda mais longe quando acrescenta:
"É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus." Reacção dos discípulos: "E eles se admiravam ainda mais dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se?" (Marcos 10:25, 26) Eu compreendo bem esta pergunta, porque, enfim, se aqueles que são abençoados se arriscam a não ser salvos, quem o será? Seguindo Jesus, os apóstolos esperavam, sem dúvida, ganhar nos dois aspectos: serem ricos e salvos! Ter a vida eterna e gozar aqui em baixo todas as vantagens possíveis. Quem dá mais? É uma religião que tem um sentido prático.
Porque é que as coisas não se poderiam passar assim? Não temos razão quando dizemos que é melhor ser-se rico, belo, gozando de boa saúde, do que feio e doente? A pobreza não é um ideal, é um acidente. Ela é a prova de que algo vai mal, que há uma injustiça em qualquer parte. Onde está pois o problema com a riqueza? Sejamos claros, não é a riqueza em si que Jesus denuncia, mas a importância que se lhe dá e a maneira como é utilizada. Por outro lado, a riqueza não é necessariamente uma bênção como muitos crêem, mas ela comporta grandes riscos. Porquê?
O amor ao dinheiro pode mobilizar todas as nossas energias, apoderar-se do nosso coração e dos nossos pensamentos. Aqui está o perigo. "Ninguém pode servir a Deus e a Mammon" diz Jesus. A riqueza pode convencer-nos de que compra tudo. É verdade que com o dinheiro se compra muita coisa. A corrupção não é a chaga por excelência das nossas sociedades em que o dinheiro reina como Senhor? O filósofo grego Chilon tinha razão ao dizer: "É na pedra de toque que se experimenta a pureza do ouro, mas é com o ouro que se experimenta a bondade ou a malícia dos homens." Os valores verdadeiros, como a amizade, o amor, a justiça, a paz, a esperança e a vida simplesmente não se compram. Isto faz-me pensar no célebre milionário grego que pouco antes de morrer teria dito: "Fui bem sucedido em tudo o que empreendi, excepto na minha vida." O apóstolo Paulo está consciente disso quando escreve: "Manda aos ricos deste mundo que ponham a sua esperança em Deus" (I Timóteo 6:17). O sucesso é muito mais do que a riqueza. Ele não só dá um sentido à vida, mas contribui igualmente para o desabrochar de uma personalidade na sua totalidade. Enfim, a riqueza é, de facto, uma grande responsabilidade. Quanto mais a pessoa possui, mais ela será julgada pelo modo como utilizou as suas posses. Um dia Deus pedirá contas aos que enriqueceram à custa do sofrimento e da morte de outros. Do traficante de drogas ao traficante de armas. Chegará um dia em que eles terão de dar explicações.
Atenção, não me interpretem mal: um rico pode ser um bem para a sociedade, para os pobres, para a sua cidade e o seu país. Por vezes ponho-me a pensar: "Ah! Se eu pudesse ser milionário. Faria 'montes' de coisas úteis." Na minha cabeça, tenho uma longa lista de projectos. Que prazer eu teria em financiar escolas e hospitais!
Mas eu não sou milionário. Talvez seja melhor assim para a minha saúde. Porquê? Porque a vida, a verdadeira vida, é muito mais do que possuir os bens materiais. Sem contar com o facto de que a riqueza fará talvez de mim um ser agressivo. Dominador, sem coração. Eu perderia a paz e, sem dúvida, a amizade dos que me são próximos.
Nietzsche escreveu: "Onde encontrei um ser vivo, descobri a força de vontade". Não é totalmente falso. Cada indivíduo sonha possuir uma parcela de autoridade, de poder.
Vendo o seu filho de dezassete anos domesticar o seu cavalo selvagem, Filipe da Macedónia disse-lhe: "Meu filho, a Grécia é demasiado pequena para ti. Terás o mundo para conquistar". Alexandre partiu à conquista do mundo. As portas da Índia e da China abriram-se diante dele. Em dez anos percorreu 20 000 quilómetros. O sonho tornou-se realidade. Tinha apenas trinta anos.
Três anos mais tarde, morreu: aquele que se considerava divino e que nenhum exército conseguiu deter, perdeu o seu combate contra a morte. A verdade manifestava-se claramente. Ele não era Deus.
Quaisquer que sejam os títulos com que se vista, o homem acabará sempre por encontrar a morte no fim do seu caminho. Antes de Alexandre o Grande dar o seu último suspiro, os generais, preocupados com a sucessão, perguntaram-lhe quem seria o seu herdeiro? O futuro do seu imenso império estava em jogo.
Ele poderia ter respondido: "O meu filho, a minha mulher, o meu melhor amigo." Com um estranho sorriso conquistador pronunciou, sem se lamentar, estas três palavras: "O mais forte!" Os seus generais mataram a sua mulher e os seus filhos. O império foi dividido.
Jesus disse: "Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?" (Mateus 16:26).
Durante as minhas viagens pela Europa, passei frequentemente por locais que relembram a época napoleónica. Em Portugal, em Espanha, na Alemanha, na Checoslováquia. Os meus amigos checos fizeram-me visitar o célebre campo de batalha de Austerlitz. Depois desta vitória legendária Napoleão escreveu: "Dentro de três anos eu dominarei o mundo!" Dez anos mais tarde, foi a batalha de Waterloo.
Alexandre, César, Napoleão, tiveram a sensação de ter chegado ao topo do sucesso. Quer isso dizer que o alcançaram? Aos seus discípulos, tentados pela corrida ao poder, Jesus apresenta propósitos talvez bastante subversivos. Ele desmistifica o poder como objectivo e substitui-o pelo serviço. Ele diz: "Sabeis que os que julgam ser príncipes das gentes delas se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas. Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal" (Marcos 10:42, 43).
Corajoso. Chamar aos dirigentes tiranos, a eles que o eram efectivamente, é um acto de muita coragem. Aqui está o que situa definitivamente o cristianismo em oposição às ideologias que preconizam a força como meio de governo. O apóstolo Paulo refere-se ao exemplo do Senhor quando escreve aos cristãos de Filipos: "Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo" (Filipenses 2:3).
"Se quiseres fazer uma maldade a um amigo, deseja-lhe a celebridade" respondeu o abade Pierre a um jornalista que o interrogava acerca da sua popularidade. Palavras de um homem que soube conciliar celebridade e simplicidade. São raros os casos. Nós podemos negligenciar o dinheiro, desprezar a busca do poder, mas procurar com paixão o prestígio, a popularidade.
Os crentes mais convictos, até mesmo os eclesiásticos, podem ser mais sensíveis ao prestígio que ao dinheiro. Quando eu decidi seguir a Cristo, os meus amigos pensaram que eu tinha perdido a cabeça. Quando lhes disse que queria ser pastor, foi o golpe de misericórdia. Uma decisão que para eles era idêntica a um suicídio social, o fim de toda a ambição. Perguntei-me por vezes o que era preciso fazer para reencontrar um pouco de crédito aos seus olhos.
Reparem, mesmo que o poder e o dinheiro nos deixem indiferentes, podemos, no entanto, ser sensíveis ao prestígio e consagrar-lhe a vida. É uma cilada!
Na época de Jesus, os fariseus, um grupo de pessoas muito religiosas, caíram numa cilada. Eles gostavam dos títulos: "Pai, Doutor, Mestre..." e dos primeiros lugares. Porquê? Para serem notados! "Eu estou lá com as personalidades, no meio delas, milhões de pessoas vêem-me na televisão. O que é importante é que me reconheçam. Posso não ser rico nem poderoso, mas estou com os grandes".
Se um dia tivermos este género de reacção, que as palavras de Jesus nos venham à memória. Ele dizia: "Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas" (Mateus 23:6). Porque é que eles agiam desta forma? O Senhor responde: "Eles fazem todas estas coisas para os homens verem." Ai! Isto faz mal, mesmo mal, mas ao mesmo tempo pode ajudar-nos a ver mais claro. Muitas pessoas entregam-se a este género de jogo e estão prontas a perder toda a dignidade por um pequeno momento, por vezes nada mais do que um pequeno momento de 'glória'. Aqueles que recorrem ao Rei dos reis deveriam estar muito longe de tais manobras.
Jesus não procurava o prestígio. Ele recusou o poder, a riqueza, a popularidade. Ele não fazia campanhas publicitárias, não distribuía cartões de visita, não tinha nenhum título universitário. Nascido num estábulo como o mais pobre dos homens, foi crucificado como um bandido, e enterrado na semi-clandestinidade. Por isso o apóstolo Paulo diz que Deus "estabeleceu-O herdeiro de todas as coisas" e que Ele foi "feito mais excelente do que os anjos e herdou um nome melhor que o deles" (Hebreus 1:4).
Pela procura do prestígio, da popularidade, arriscamo-nos a perder o essencial, ou seja, a verdadeira vida. Aquela de que nos fala a Bíblia. Aquela que nos dá a paz interior, a esperança, e que a morte não conseguirá destruir. Esta vida, não a podemos comprar nem conquistar. Não a temos em nós mesmos. Ela encontra-se em Deus, em Jesus Cristo. "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" diz Jesus. E acrescenta: "Aquele que crê em Mim viverá." A vida, aquela que nunca acabará, o Senhor no-la oferece como presente. É preciso apropriarmo-nos dela com todas as nossas forças. "Toma posse da vida eterna" escreveu Paulo ao seu discípulo Timóteo (I Timóteo 6:12).
Ter sucesso na vida não é só viver melhor do que os outros, ter mais dinheiro, mais poder, ser célebre. É muito mais. É viver para sempre com o Senhor.
Segundo os nossos contemporâneos, a riqueza, o poder, a celebridade são indicadores por excelência do sucesso. Mas Deus pode dar-nos mais. "E se somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo" (Romanos 8:17). Temos dificuldade em avaliar o significado deste título: "Herdeiros de Deus". É fantástico! De fazer empalidecer de inveja príncipes e princesas. Não é um abuso de linguagem, ou um enfeite lírico. O mesmo apóstolo escreve aos crentes de Corinto:
"Portanto, ninguém se deve orgulhar de ser seguidor de qualquer homem. Pois tudo está ao vosso serviço; ( ... ) seja o mundo, a vida ou a morte; seja o presente ou o futuro. Tudo é vosso..." Mas atenção, existe, apesar de tudo, um 'mas': "Mas vocês são de Cristo e Cristo é de Deus" (I Coríntios 3:21-23). É a pertença a Cristo que faz de cada um de nós seres com um destino excepcional.
Milhões de pessoas correm atrás de toda a espécie de gurus ávidos de dinheiro, procuram métodos revolucionários para conseguirem dominar-se a si mesmos, à natureza e aos outros. Eles pensam que a Bíblia é um livro do passado e Cristo, um Deus morto. Falso! Jesus está vivo. Ele partilhará o Seu reino com os Seus discípulos. Incrível, não é verdade? No entanto, esta é a verdade. "E nos ressuscitou juntamente com Ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus" (Efésios 2:6). Os poderes terrestres parecem ser apenas sombras quando comparados com aquilo que nos espera. O apóstolo não inventa nada. Ele retoma simplesmente as promessas de Jesus aos seus discípulos: "Vós que me seguistes (...) também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel" (Mateus 19:28). Eu não peço tanto. Viver num mundo onde o mal, o sofrimento, a injustiça, a morte não existirão mais, e sobretudo rever aqueles que eu amei, encontrar Aquele que eu servi e em quem eu cri satisfaz-me plenamente. Por estas palavras o Senhor diz-nos que não seremos turistas neste mundo novo, mas cidadãos por inteiro.
Não avaliemos o sucesso a partir dos critérios que a nossa sociedade material estabeleceu. Eles são inoperantes e limitados. Aprendamos a olhar mais alto, porque, no fim de contas, o sucesso, o nosso sucesso, não se manifestará a não ser na eternidade.
No princípio do seu reino, Creso, o riquíssimo rei de Lídia, convidou Sólon, o célebre legislador ateniense. A fortuna do monarca era imensa. Ele quis que o seu hóspede admirasse todos os seus tesouros. Creso colocou-lhe então a seguinte questão: "Qual é o homem mais feliz que encontraste em toda a tua vida?" Sólon citou-lhe alguns nomes. Um, porque tinha morrido pela sua pátria. Outro porque amava ternamente os seus pais e tinha tomado conta deles na sua velhice. Surpreendido, até irritado, por não ouvir citar o seu próprio nome, Creso interrompeu-o e disse-lhe: "E então eu? Não acreditas que sou eu o homem mais feliz do mundo?" Sólon, o sábio, reflectiu, e depois replicou que era impossível dizer que um homem tinha sido feliz antes dele ter morrido. O orgulhoso monarca fez um grande esforço para se conter e não mandar embora o sábio imediatamente.
Sucesso é um dos componentes da felicidade, por isso... não se contentem com sucesso efémero, espectacular talvez, até exaltante, mas que amanhã vos deixará na maior confusão. Procurem o êxito da vossa vida de uma forma completa e não a sacrifiquem por um instante de sucesso.
Três anos depois da visita de Sólon, os Persas apoderaram-se de Sardes. As riquezas de Creso foram pilhadas. Condenado à morte pela fogueira, ele lembra-se das palavras do seu célebre hóspede. Com soluços na voz, grita: "Sólon, Sólon, Sólon!" O rei Persa, Ciro, ouve-o. Intrigado, mandou suspender o suplício e fê-lo contar a história. Divertido por causa do medo de Creso e pelas palavras do ateniense sobre a felicidade, perdoou-lhe e fez dele seu conselheiro.
Há alguns anos, em Londres, foi leiloado um quadro cujo preço bateu todos os recordes. A tela tinha por título "As Íris". Estava assinada por Van Gogh. Enquanto vivo, o célebre pintor só vendeu um único quadro. Não era aquele. Ele conheceu a pobreza, afundou-se no alcoolismo e na loucura. Até foi encontrado um quadro seu no galinheiro de um dos seus credores. O quadro tapava o buraco de uma rede. O verdadeiro valor das suas obras só foi reconhecido depois da sua morte.
A nossa vida é como a tela de um pintor. É preciso tempo, perseverança e sofrimento para fazer uma obra de arte que só a eternidade revelará verdadeiramente.
Com a eternidade como perspectiva, podemos fazer da nossa vida uma verdadeira obra de arte. Talvez nunca nos tornemos ricos, nem poderosos, nem célebres aqui na terra. Os nossos nomes talvez não venham a estar inscritos na coluna social ou na enciclopédia. Será isto uma catástrofe? Claro que não! O importante, é que os nossos nomes sejam inscritos nos livros do céu. Desta forma a vida terá valido a pena. A verdadeira vida em Jesus Cristo, aquela que não terá mais fim.
John Graz in Conseguir - Nada nem ninguém te poderá impedir... - Edição Jovem