domingo, 1 de maio de 2011

A FÉ DE UMA MÃE



(Esta história verdadeira contada por A. A. Allen já emocionou e inspirou dezenas de milhares de pessoas)


Logo nos princípios do meu ministério fui Pastor de uma pequena igreja na zona montanhosa do norte do Estado de Idaho. Eu e a minha esposa obedecemos ao chamado porque Deus disse: «Ide!»

Nós sabiamos que as pessoas dali eram muito pobres, mas elas davam fielmente o seu dízimo. Semana após semana o montante das ofertas era de menos de ½ dólar. Tínhamos um quintal onde cultivávamos vegetais, frutos e grãos, dos quais depois fazíamos conservas. Isto ajudava às nossas provisões. Deus abençoou o nosso trabalho e deu-nos muitas almas dentre o povo das montanhas. A nossa encantadora igrejinha incluía quatro quartos nas traseiras para moradia do Pastor. Fomos nós que a construímos com as nossas próprias mãos com madeira dos pinheiros e abetos da floresta local que nos circundava.

Deus supria as nossas necessidades dia a dia, mas depressa surgiu uma nova necessidade que não podia ser satisfeita com ofertas de produtos alimentares. Em breve iria nascer outro bebé. Não tínhamos nenhumas roupinhas usadas disponíveis porque, à medida que as necessidades iam surgindo, dávamos tudo o que pertencera aos nossos outros filhos. Não tínhamos dinheiro sequer para comprar um frasco de desinfectante ou um metro de flanela para costurar algumas camisinhas e fraldas. Nem sequer planeámos chamar um médico por causa do custo que representaria.

Démos início à nossa primeira campanha de reavivamento na nova igreja. Trabalhámos e orámos intensamente para a tornar um sucesso. Orámos especialmente por um homem, um ébrio e conhecido céptico da comunidade.
Finalmente o domingo amanheceu. Nevara durante a noite e soprava pelo vale um vento de inverno. Bem cedinho acendi o fogo na lareira da igreja para que, à hora da reunião, o ambiente estivesse quente e acolhedor. Cheguei à igreja quinze minutos mais cedo e encontrei lá um rapazinho esfarrapado.


Levantava, junto ao fogo, primeiro um pezinho, depois o outro. Os seus pés estavam apenas cobertos por uns sapatos de lona completamente gastos nos dedos. Os seus pequeninos dedos vermelhos tinham apanhado neve e frio durante toda a caminhada que fizera até à igreja. Reconheci que era o filho mais novo do ébrio. Chamei a minha esposa e disse-lhe:
- Leva esta criança a nossa casa, aquece-lhe os pés e seca os seus sapatos.
Dentro de alguns minutos ele voltou para a igreja sem sapatos mas usando um par de meias quentes e secas do meu filho mais velho e sentou-se à frente.
Eu sabia que ele teria que voltar a calçar os sapatos de lona para regressar a casa através da neve.

Naquela manhã havia duas pessoas sentadas entre a congregação que podiam facilmente providenciar uns sapatos para aquela criança. Uma, era o proprietário de uma serração, a outra, era uma senhora muito rica que possuía, pelo vale fora, muitos hectares de árvores para madeira bem como pequenas quintas de árvores de fruto. Eu pensava que certamente Deus falaria a um ou a outro acerca do par de sapatos.

Por fim, a reunião terminou. O dono da serração cumprimentou alegremente os amigos, reuniu a sua família e partiu para casa. Olhei em redor em busca da senhora rica. Ela partiu no seu bonito carro novo sem oferecer uma boleia à criança, embora esta morasse entre a sua casa e a igreja.

Olhei de novo para a criança. A minha esposa trouxera os sapatos de lona rasgados, agora já quentinhos e secos e preparava-se para lhos calçar nos pés. De repente, olhou para os pés do nosso filho mais velho. Os seus bons sapatos de couro servir-lhe-iam perfeitamente. Nesse momento compreendi o que ela poderia fazer. No mesmo instante o meu coração gritou: Nós não podemos fazer isso! Nós nem sequer temos dinheiro para comprar roupinhas para o futuro bebé! Não podemos comprar um novo par de sapatos para o Jimmie!
Mas também sabia que não podíamos permitir que aquele rapazinho regressasse a casa caminhando através da neve sem sapatos!
A minha esposa conversou com o Jimmie:
- Os teus sapatos servir-lhe-iam mesmo bem! Tira-os, querido!
- E o que é que eu vou calçar, mamã? – perguntou ele.
- Tu não precisas tanto deles como o menino - disse ela. - Além disso, Jesus disse: «Dai e ser-vos-á dado». Jesus dar-te-á outros.
- Então está bem. – disse Jimmie enquanto se sentava e desapertava os seus pequenos sapatos brancos.

Eu saí apressadamente da igreja! No meu íntimo gritava: Porque é que Deus não pediu ao dono da serração para fazer isto?

Porque é que Ele não pediu à proprietária das terras? De certeza que, em toda a congregação, não havia ninguém em piores condições do que eu para ajudar!
Contudo, eu sabia que Deus o tinha pedido e senti-me feliz por a minha esposa e o meu filho não se terem recusado a obedecer.

Na manhã seguinte, quando fui à caixa do correio, encontrei lá dentro uma carta da mãe da minha esposa. Quando abrimos a carta, encontrámos lá uma nota de 20 dólares. «Para aqueles pequenos extras que não podeis comprar nesta altura» dizia ela. Isto foi para nós uma completa surpresa pois quando lhe escrevíamos nunca fazíamos a menor referência ao nosso salário nem às coisas que nos faziam falta.

Quando começámos a servir ao Senhor tínhamos decidido levar a Ele as nossas necessidades e não a amigos e familiares. Aquele dinheiro era mais do que suficiente para comprar tudo o que precisávamos! Como nos alegrámos em conjunto!

- Será que vai chegar para uns sapatos novos? - perguntou o Jimmie.
- Claro que sim! – respondeu a minha esposa.
Repentinamente a sua expressão mudou. Eu sabia que ela estava a ouvir a mesma voz da consciência que já me falara.
- Vamos dar metade deste dinheiro ao irmão Smith. - disse eu.

Eu sabia que a oferta para o nosso evangelista fora muito pequena e que ele tinha que sustentar a esposa e precisava de dinheiro para comprar gasolina a fim de se dirigir para a reunião seguinte.
- Vamos dar-lhe tudo! – respondeu a minha esposa. – Ele vai precisar do dinheiro. Eu sabia que Deus queria que eu o fizesse, por isso, apressei-me para o quarto do evangelista e ofereci-lhe metade do dinheiro. Como ele conhecia as nossas necessidades recusou aceitá-lo.

Por um instante quase me senti feliz, mas depois concluí que Deus me dissera para lhe dar todo o dinheiro, portanto, não servia meia obediência.
Eu exclamei:
- Oh, irmão! Fique com todo o dinheiro! Por favor! Deus disse-me para lho dar todo!
- Bom, então – respondeu ele – se Deus lhe disse para o dar eu aceito-o.
Depois começou a louvar a Deus por ter satisfeito mais uma necessidade na sua vida.

Embora a satisfação da nossa necessidade parecesse mais afastada do que nunca, os nossos corações sentiam a paz que vem da obediência.
Na manhã seguinte chegou outra carta à nossa caixa do correio com uma caligrafia desconhecida vinda de uma cidade que também não conhecíamos.
Dentro dela encontrei um cheque, o maior cheque que já alguma vez vira, tendo nele o meu nome escrito. 50 dólares! Um bilhete dizia: «Esta noite não consegui dormir. Deus falou-me ao coração dizendo-me que o senhor precisaria deste dinheiro, que me levantasse imediatamente e o enviasse para si de maneira a recebê-lo no correio da manhã. Eu achei que podia esperar até de manhã, mas Deus disse: - Não!»

Como nós louvámos a Deus! Ele transformara os pequenos sapatos numa nota de 20 dólares. Depois transformara os 20 dólares em 50!

Mas a história ainda não acabou:

No domingo seguinte à noite, o ébrio (o pai do rapazinho que ficara com os sapatos do Jimmie) veio à igreja juntamente com um seu 'companheiro' e vários membros de ambas as famílias. Depois de termos acabado de orar o homem segurou firmemente a minha mão e disse:
- Irmão Allen, nunca achei que os pregadores servissem para grande coisa nem nunca tive muito tempo para a religião. Inclusivamente, já menti a seu respeito e tentei prejudicá-lo de todas as maneiras possíveis. Mas, quando vi que o amor de Deus conseguiu levá-lo a tirar os sapatos dos pés do seu próprio filho e a calçá-los nos pés do meu, não consegui aguentar mais tempo e tive que vir.

Deus usou a oferta de sacrifício e a fé obediente da minha esposa para suprir a nossa necessidade, a necessidade do evangelista e para trazer muitas almas à salvação.

Publicado em «Shepherdess Newsletter», Maio 1989,
Associação de N. York Via Shepherdess Internacional