- Pai, porque devo amar Jesus? - perguntou certo dia um dos meus filhos.
Tentando encontrar uma resposta que satisfizesse a curiosidade do miúdo, olhei bem nos olhos dele e indaguei:
- Gostas do papá?
- Claro que sim, respondeu.
- Mas, já pensaste por que razão é que gostas do papá?
Os seus olhinhos movimentaram-se de um lado para o outro com uma rapidez extraordinária, e com um sorriso iluminando-lhe o rosto, disse:
- Porque tu gostas de mim.
Entendeste, meu amigo? O amor tem o estranho poder de cativar. O amor gera amor. Ninguém resiste ao magnetismo do amor e uma das grandes verdades bíblicas é que Cristo nos amou de tal modo que o mínimo que podemos fazer é amá-l'O também.
Mas, porque é que o ser humano não consegue amar a Deus? Sabes o que acontece? Às vezes é porque não entendemos o que Ele fez por nós. Dizemos constantemente que Ele morreu na cruz para nos salvar, mas temo que não entendamos plenamente o que isso significa. Temos ouvido tantas vezes essa frase desde quando éramos crianças que é possível que nos tenhamos familiarizado com ela ao ponto de perdermos o seu verdadeiro significado.
Anos atrás, no colégio onde estudei, fui testemunha de uma bonita história de amor. Um dos rapazes mais feios do seminário casou-se com uma das moças mais lindas. Ela chegara naquele ano. Os rapazes mais galãs, mais bonitos, espertos e comunicativos foram desfilando um a um tentando conquistá-la, sem sucesso.
Um dia um colega procurou-me e disse:
- Estou com problemas.
- O que foi?
- Estou apaixonado.
- Parabéns! Isso é fabuloso, não é um problema.
- Espera um minuto - disse ele - estou a falar daquela miúda.
Cortei o sorriso e murmurei:
- Bom, aí sim é que é um problema. Sabes, os rapazes mais sedutores e bonitos do colégio não conseguiram nada. Achas que ela vai olhar para ti?
- Eu sei - disse o rapaz, triste - eu sei disso, mas o que posso fazer se eu a amo?
Os meses foram passando e o amor foi crescendo em silêncio no coração do rapaz.
A meio do ano, de repente, correram boatos de que ela abandonaria a escola porque não conseguia pagar as mensalidades.
O nosso amigo apresentou-se ao gerente do colégio e ofereceu-se para pagar as contas da moça com o que ele tinha ganho a vender livros. Para ele, isto significava naturalmente a perda de um ano de estudos.
O gerente tentou dissuadi-lo da ideia. Mas não conseguiu. "O dinheiro é meu e eu quero pagar as contas dela. E por favor, não gostaria que ela soubesse quem pagou."
Assim ele abandonou o colégio naquele ano para vender mais livros e continuar a estudar no ano seguinte.
Alguns meses depois recebi uma carta dele muito comovente! "Dizes que não vale a pena o sacrifício que estou a fazer, que ela nunca olhará para mim, o que não sabes é que eu a amo e não posso permitir que ela perca um ano de estudos. Eu amo-a. Não importa se ela nunca vai olhar para mim. Eu estou feliz por fazer isto por ela."
No ano seguinte ele voltou ao colégio. O seu amor estava maduro. Tinha a certeza do que sentia e um dia arranjou coragem e falou com ela. Abriu o coração e declarou os seus sentimentos.
Foi um momento muito triste. Ela não só recusou a proposta como o tratou mal. Alguém procurou então a jovem e disse-lhe: "Olha, tens o direito de dizer não, mas podias ter sido mais delicada com ele. Não precisavas de o magoar. É verdade que ele é um rapaz simples, sem qualquer atributo físico, inexpressivo, mas ele ama-te de tal modo que o ano passado perdeu esse ano de estudos para tu não abandonares o colégio, e tudo isso sem querer que soubesses, sem esperar nada, apenas porque te ama."
A moça ficou chocada. Chorou. Perguntou ao gerente se era verdade e, ao confirmar tudo, sentiu-se ferida e humilhada.
Meses depois o rapaz anunciou: "Estou a namorar com ela."
Toda a gente começou a pensar: "É por pena", "por compaixão". Mas um dia ela disse uma coisa muito bonita.br> "Quando descobri o que ele tinha feito por mim senti-me magoada, chateada, ofendida. Mas à medida que o tempo passou, comecei a pensar com mais calma e perguntei a mim mesma: 'Será que neste mundo poderei encontrar um rapaz que me ame tanto a ponto de sacrificar, em silêncio, um ano dos seus estudos sem esperar nada, mesmo sem querer que eu soubesse do sacrifício que ele estava a fazer?' Então cheguei a uma conclusão:
Como teria coragem de não amar alguém que me ama tanto?"
No dia em que nós compreendermos o que realmente aconteceu naquela tarde na cruz do Calvário, sem dúvida, também faremos a mesma pergunta.
Mas o que foi que aconteceu lá?
Voltemos os nossos olhos para o Jardim do Éden. Ao criar o ser humano, Deus deu-lhe uma ordem: "De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Génesis 2:16, 17). Nesta ordem estava envolvido o princípio de retribuição.
Por outras palavras, a obediência merece vida e a desobediência merece morte. O homem pecou. Todos nós pecamos e como consequência a nossa recompensa devia ser a morte. Tínhamos que morrer. "O salário do pecado é a morte" (Romanos 6:23), mas acontece que o ser humano não quer morrer. Ele pede perdão. "Pai, perdoa-me" - ele clama. Sabes o que ele está a querer dizer? "Pai, eu pequei, mereço morrer, mas por favor, não quero morrer.
Esta súplica do homem cria um conflito para Deus porque Ele é Deus e a Sua palavra não muda. Se o homem pecou, tem que morrer, mas Ele ama o ser humano, não pode permitir que o homem morra. O que fazer? Se existiu pecado tem que existir morte, "sem derramamento de sangue, não há remissão" (Hebreus 9:22).
O homem não quer morrer, então alguém tem que morrer. Alguém tem que pagar o preço do pecado no lugar do ser humano. É aí que aparece a figura majestosa do Filho. Ele diz: "Pai, o homem merece a morte porque pecou, mas antes de cumprir a sentença quero ir à Terra como homem e viver como ele; quero assumir a sua natureza, experimentar os seus conflitos, as suas tristezas, as suas alegrias e tentações." Foi por isso que Cristo veio a este mundo, como uma criança.
Ele não parecia homem. Ele era um homem de verdade. Como tu e como eu. Teve as mesmas lutas que tens, sentiu-Se às vezes sozinho e incompreendido como tu. Experimentou as tuas tentações e é por isso, e não simplesmente porque é Deus, que Ele está mais pronto a amar-te e a compreender-te do que a julgar-te e a condenar-te.
O Senhor Jesus viveu neste mundo 33 anos. A Bíblia diz que "foi tentado em tudo, mas não pecou" (Hebreus 4:15). Ora, se Ele viveu neste mundo como homem, e como homem foi tentado e não pecou, pelo princípio de retribuição - Ele merece a vida.
Agora vamos imaginar um diálogo entre Cristo e o Pai. "Pai - disse Cristo depois de ter vivido neste mundo - Eu vivi na Terra, como um ser humano e fui tentado em tudo mas não pequei. Como ser humano ganhei o direito à vida. O homem, pelo contrário, pecou e merece a morte. Agora, Pai, o princípio de retribuição não impede que haja uma troca. Sendo assim, a morte que o homem merece, quero morrê-la Eu e a vida que Eu mereço, porque não pequei, quero oferecê-la ao homem."
Foi isso o que aconteceu lá na cruz do Calvário. Uma troca de amor. Alguém morreu em nosso lugar. Alguém morreu para nos salvar.
Uns dias antes da morte de Cristo a polícia de Jerusalém prendeu um marginal chamado Barrabás. O delinquente foi julgado e condenado à pena de morte. Devia ser cravado numa cruz. Esta era uma morte cruel. Ninguém morre por causa de feridas nas mãos e nos pés. A morte na cruz é lenta e cruel. O sangue vai-se acabando gota a gota. Às vezes o marginal ficava cravado vários dias, o sol de dia e o frio à noite; a fome, a sede e a perda paulatina de sangue iam acabando pouco a pouco com a sua vida. Depois do julgamento e da condenação as autoridades chamaram um carpinteiro para preparar a cruz de Barrabás. Ali estava o delinquente e ali estava a sua cruz. Preparada especialmente para ele, com as suas medidas e com o seu nome.
Mas naquele dia os judeus prenderam Jesus. Ele também foi julgado e condenado. A história conta que um homem chamado Pilatos, tentando defendê-l'O, apresentou Cristo e Barrabás perante o povo, e disse:
- Em datas como esta temos o costume de soltar um prisioneiro. A quem quereis que eu solte desta vez, Cristo ou Barrabás?
E o povo enlouquecido gritou:
- Solta Barrabás! Crucifica Cristo!
Acho que se alguém entendeu alguma vez na plenitude do sentido a expressão: 'Cristo morreu em meu lugar', foi Barrabás. Ele não podia acreditar. Talvez beliscasse a sua pele para saber se realmente estava acordado. Ele, o marginal, o homem mau, estava livre. E aquele Jesus, sereno e simples, que só viveu a semear amor, devolvendo saúde aos doentes e vida aos mortos, estava ali para morrer no seu lugar. Eu imagino o que Barrabás pensou: "Eu nunca terei palavras para agradecer a Cristo por ter aparecido. Se Ele não tivesse vindo, eu estaria condenado irremediavelmente."
Já não havia tempo para chamar o carpinteiro e preparar uma cruz para Cristo. Além do mais, havia ali uma cruz vaga, embora com as medidas de outro, com o nome de outro, preparada para outro.
E naquela tarde, meu jovem, quando Cristo ascendeu ao monte do Calvário carregando uma pesada cruz - eu gostaria que entendesses bem isto - naquela tarde triste, Jesus carregava uma cruz alheia, porque para Ele nunca ninguém preparou uma cruz. Sabes porquê? Simplesmente porque Ele não merecia uma cruz. Era eu que merecia morrer, mas Ele amou-me tanto que decidiu morrer no meu lugar e oferecer-me o direito à vida, que como homem Ele tinha conquistado.
Finalmente os homens chegaram ao topo da montanha. Deitaram a cruz no chão e com enormes pregos atravessaram-Lhe as mãos e os pés. A cruz foi levantada e com o peso do corpo as Suas carnes rasgaram-se. Um soldado tinha-Lhe colocado na fronte uma coroa de espinhos. O sangue escorria lentamente pelo rosto. Um outro soldado feriu-Lhe o lado com uma lança. Ali estava o Deus-homem morrendo por amor. O sol ocultou o seu rosto para não ver a miséria dos homens; o céu chorou uma torrente de chuva. Até as aves dos céus e os animais dos campos corriam de um lado para o outro perscrutando na sua irracionalidade que alguma coisa estranha estava a acontecer.
Só o homem, a mais bela e inteligente das criaturas, parecia ignorar que naquele instante o seu destino eterno estava em jogo.
Horas depois, quando os judeus voltaram para casa, lá naquela montanha solitária, no meio de dois ladrões, pendia agonizante o maravilhoso Jesus, entregando a Sua vida pela humanidade.
Alguma vez te detiveste a pensar no significado daquele acto de amor? Não foi um suicida louco que morreu na cruz. Não foi um revolucionário social que pagou pela sua ousadia. Era um Deus feito homem e como homem tinha medo de morrer. Possuía o instinto de conservação. Ele tinha tanto medo de morrer que na noite anterior, no Getsêmani, disse ao Seu Pai:
- Pai, eu tenho medo de morrer. Se tivesses outro meio de salvar o mundo, se passasses esta provação de Mim, Eu ficaria muito grato.
E eu tenho a certeza de que Deus disse:
- Ainda estás a tempo de voltar atrás, Meu Filho.
A vida toda da humanidade estava nas Suas mãos. Ele tinha medo de morrer, mas o Seu amor era maior do que o medo, maior do que a vida. Como abandonar o homem no mundo de desespero e de morte? É isso que talvez eu nunca consiga entender. Porque é que Ele me amou tanto? Compreendes o significado da tua vida? És a coisa mais importante que Cristo tem! Ele ama-te de tal modo que mesmo tendo medo da morte, a aceitou para te ver feliz. Não apenas para te ver membro de uma igreja, mas para te ver realizado e feliz.
Voltemos agora ao raciocínio inicial. O homem pecou e merece morrer.
Mas ele vai a Deus e diz:
- Pai, perdoa-me. - Por outras palavras: - Eu não quero morrer!
- Filho, Eu não posso mudar o princípio. O salário do pecado é a morte. Não há outra saída - diz Deus.
- Pai, perdoa-me, por favor, perdoa-me - clama o homem em desespero.
O Pastor H. M. S. Richards conta uma pequena história de quando era pequeno. Ele diz que gostava de pular a cerca e colher as maçãs do vizinho. Um dia a mãe chamou-o e, mostrando-lhe uma vara verde, disse:
- Estás a ver esta vara?
- Sim, mãe.
Os dias passaram. As maçãs estavam cada dia mais vermelhas e o menino não conseguiu resistir à tentação. Pulou a cerca e comeu maçãs até ficar satisfeito. O que ele não esperava era que ao voltar para casa a mãe estivesse à sua espera com a vara verde na mão. Tremeu. Sabia o que iria acontecer. Quase sem pensar suplicou:
- Mãe, perdoa-me.
- Não, filho - disse a mãe - eu disse uma coisa e terei que cumpri-la.
- Mãe, por favor, eu prometo que nunca mais tornarei a fazer isso.
- Não posso, filho, terás que receber o castigo.
- Por favor, mãe, por favor - continuou a suplicar com os olhos lacrimejantes.
Que mãe pode ficar insensível vendo o filho amado a suplicar perdão?
Ela tomou entre as suas mãos as mãos do filho e perguntou:
- Não queres receber o castigo?
- Não, mãe.
- Então, só existe uma saída, meu filho.
- Qual é?
A mãe estendeu a vara para ele e disse: "Segura a vara, meu filho. Em lugar de eu te castigar com esta vara, vais tu castigar-me a mim. O castigo tem que se cumprir, porque a falta existiu. Não queres receber o castigo, mas eu amo-te tanto que estou disposta e receber o castigo por ti."
"Até àquele momento eu tinha chorado com os olhos - contou Richards - agora eu comecei a chorar com o coração. Como teria coragem de bater na minha mãe por um erro que eu tinha cometido?"
Compreendeste a mensagem?
É isso que acontece entre Deus e nós quando, depois de pecar, suplicamos perdão. Ele olha com amor para nós e diz:
- Filho, pecaste e mereces a morte, mas tu não queres morrer. Então, só tens uma saíde, Meu filho.
- Qual é? - perguntamos ansiosos.
- Em lugar de morreres pelo pecado que cometeste, estou disposto a sofrer a consequência do teu erro - responde com a Sua voz suave.
Richards não teve coragem para castigar a sua mãe por um erro que ele tinha cometido. Mas nós tivemos coragem para crucificar o Senhor Jesus na cruz do Calvário. Continuamos a crucificá-l'O cada dia com as nossas atitudes. E Ele não diz nada. Como cordeiro é levado ao matadouro e como ovelha muda perante os seus tosquiadores, não abre a boca, não reclama, não exige direitos, não pensa em justiça. Apenas morre, morre lentamente consumido pelas chamas de um amor misterioso, incompreensível, infinito.
Não, eu não terei palavras para agradecer o que Ele fez por mim. Eu nunca poderei entender a plenitude do Seu amor por mim. Mas ao levantar os olhos para a montanha solitária e ao ver pendurado na cruz um Deus de amor, o meu coração enternece-se e exclamo como a jovem do colégio:
"COMO TERIA CORAGEM DE NÃO AMAR ALGUÉM QUE ME AMA TANTO?"
Tentando encontrar uma resposta que satisfizesse a curiosidade do miúdo, olhei bem nos olhos dele e indaguei:
- Gostas do papá?
- Claro que sim, respondeu.
- Mas, já pensaste por que razão é que gostas do papá?
Os seus olhinhos movimentaram-se de um lado para o outro com uma rapidez extraordinária, e com um sorriso iluminando-lhe o rosto, disse:
- Porque tu gostas de mim.
Entendeste, meu amigo? O amor tem o estranho poder de cativar. O amor gera amor. Ninguém resiste ao magnetismo do amor e uma das grandes verdades bíblicas é que Cristo nos amou de tal modo que o mínimo que podemos fazer é amá-l'O também.
Mas, porque é que o ser humano não consegue amar a Deus? Sabes o que acontece? Às vezes é porque não entendemos o que Ele fez por nós. Dizemos constantemente que Ele morreu na cruz para nos salvar, mas temo que não entendamos plenamente o que isso significa. Temos ouvido tantas vezes essa frase desde quando éramos crianças que é possível que nos tenhamos familiarizado com ela ao ponto de perdermos o seu verdadeiro significado.
Anos atrás, no colégio onde estudei, fui testemunha de uma bonita história de amor. Um dos rapazes mais feios do seminário casou-se com uma das moças mais lindas. Ela chegara naquele ano. Os rapazes mais galãs, mais bonitos, espertos e comunicativos foram desfilando um a um tentando conquistá-la, sem sucesso.
Um dia um colega procurou-me e disse:
- Estou com problemas.
- O que foi?
- Estou apaixonado.
- Parabéns! Isso é fabuloso, não é um problema.
- Espera um minuto - disse ele - estou a falar daquela miúda.
Cortei o sorriso e murmurei:
- Bom, aí sim é que é um problema. Sabes, os rapazes mais sedutores e bonitos do colégio não conseguiram nada. Achas que ela vai olhar para ti?
- Eu sei - disse o rapaz, triste - eu sei disso, mas o que posso fazer se eu a amo?
Os meses foram passando e o amor foi crescendo em silêncio no coração do rapaz.
A meio do ano, de repente, correram boatos de que ela abandonaria a escola porque não conseguia pagar as mensalidades.
O nosso amigo apresentou-se ao gerente do colégio e ofereceu-se para pagar as contas da moça com o que ele tinha ganho a vender livros. Para ele, isto significava naturalmente a perda de um ano de estudos.
O gerente tentou dissuadi-lo da ideia. Mas não conseguiu. "O dinheiro é meu e eu quero pagar as contas dela. E por favor, não gostaria que ela soubesse quem pagou."
Assim ele abandonou o colégio naquele ano para vender mais livros e continuar a estudar no ano seguinte.
Alguns meses depois recebi uma carta dele muito comovente! "Dizes que não vale a pena o sacrifício que estou a fazer, que ela nunca olhará para mim, o que não sabes é que eu a amo e não posso permitir que ela perca um ano de estudos. Eu amo-a. Não importa se ela nunca vai olhar para mim. Eu estou feliz por fazer isto por ela."
No ano seguinte ele voltou ao colégio. O seu amor estava maduro. Tinha a certeza do que sentia e um dia arranjou coragem e falou com ela. Abriu o coração e declarou os seus sentimentos.
Foi um momento muito triste. Ela não só recusou a proposta como o tratou mal. Alguém procurou então a jovem e disse-lhe: "Olha, tens o direito de dizer não, mas podias ter sido mais delicada com ele. Não precisavas de o magoar. É verdade que ele é um rapaz simples, sem qualquer atributo físico, inexpressivo, mas ele ama-te de tal modo que o ano passado perdeu esse ano de estudos para tu não abandonares o colégio, e tudo isso sem querer que soubesses, sem esperar nada, apenas porque te ama."
A moça ficou chocada. Chorou. Perguntou ao gerente se era verdade e, ao confirmar tudo, sentiu-se ferida e humilhada.
Meses depois o rapaz anunciou: "Estou a namorar com ela."
Toda a gente começou a pensar: "É por pena", "por compaixão". Mas um dia ela disse uma coisa muito bonita.br> "Quando descobri o que ele tinha feito por mim senti-me magoada, chateada, ofendida. Mas à medida que o tempo passou, comecei a pensar com mais calma e perguntei a mim mesma: 'Será que neste mundo poderei encontrar um rapaz que me ame tanto a ponto de sacrificar, em silêncio, um ano dos seus estudos sem esperar nada, mesmo sem querer que eu soubesse do sacrifício que ele estava a fazer?' Então cheguei a uma conclusão:
Como teria coragem de não amar alguém que me ama tanto?"
No dia em que nós compreendermos o que realmente aconteceu naquela tarde na cruz do Calvário, sem dúvida, também faremos a mesma pergunta.
Mas o que foi que aconteceu lá?
Voltemos os nossos olhos para o Jardim do Éden. Ao criar o ser humano, Deus deu-lhe uma ordem: "De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Génesis 2:16, 17). Nesta ordem estava envolvido o princípio de retribuição.
Por outras palavras, a obediência merece vida e a desobediência merece morte. O homem pecou. Todos nós pecamos e como consequência a nossa recompensa devia ser a morte. Tínhamos que morrer. "O salário do pecado é a morte" (Romanos 6:23), mas acontece que o ser humano não quer morrer. Ele pede perdão. "Pai, perdoa-me" - ele clama. Sabes o que ele está a querer dizer? "Pai, eu pequei, mereço morrer, mas por favor, não quero morrer.
Esta súplica do homem cria um conflito para Deus porque Ele é Deus e a Sua palavra não muda. Se o homem pecou, tem que morrer, mas Ele ama o ser humano, não pode permitir que o homem morra. O que fazer? Se existiu pecado tem que existir morte, "sem derramamento de sangue, não há remissão" (Hebreus 9:22).
O homem não quer morrer, então alguém tem que morrer. Alguém tem que pagar o preço do pecado no lugar do ser humano. É aí que aparece a figura majestosa do Filho. Ele diz: "Pai, o homem merece a morte porque pecou, mas antes de cumprir a sentença quero ir à Terra como homem e viver como ele; quero assumir a sua natureza, experimentar os seus conflitos, as suas tristezas, as suas alegrias e tentações." Foi por isso que Cristo veio a este mundo, como uma criança.
Ele não parecia homem. Ele era um homem de verdade. Como tu e como eu. Teve as mesmas lutas que tens, sentiu-Se às vezes sozinho e incompreendido como tu. Experimentou as tuas tentações e é por isso, e não simplesmente porque é Deus, que Ele está mais pronto a amar-te e a compreender-te do que a julgar-te e a condenar-te.
O Senhor Jesus viveu neste mundo 33 anos. A Bíblia diz que "foi tentado em tudo, mas não pecou" (Hebreus 4:15). Ora, se Ele viveu neste mundo como homem, e como homem foi tentado e não pecou, pelo princípio de retribuição - Ele merece a vida.
Agora vamos imaginar um diálogo entre Cristo e o Pai. "Pai - disse Cristo depois de ter vivido neste mundo - Eu vivi na Terra, como um ser humano e fui tentado em tudo mas não pequei. Como ser humano ganhei o direito à vida. O homem, pelo contrário, pecou e merece a morte. Agora, Pai, o princípio de retribuição não impede que haja uma troca. Sendo assim, a morte que o homem merece, quero morrê-la Eu e a vida que Eu mereço, porque não pequei, quero oferecê-la ao homem."
Foi isso o que aconteceu lá na cruz do Calvário. Uma troca de amor. Alguém morreu em nosso lugar. Alguém morreu para nos salvar.
Uns dias antes da morte de Cristo a polícia de Jerusalém prendeu um marginal chamado Barrabás. O delinquente foi julgado e condenado à pena de morte. Devia ser cravado numa cruz. Esta era uma morte cruel. Ninguém morre por causa de feridas nas mãos e nos pés. A morte na cruz é lenta e cruel. O sangue vai-se acabando gota a gota. Às vezes o marginal ficava cravado vários dias, o sol de dia e o frio à noite; a fome, a sede e a perda paulatina de sangue iam acabando pouco a pouco com a sua vida. Depois do julgamento e da condenação as autoridades chamaram um carpinteiro para preparar a cruz de Barrabás. Ali estava o delinquente e ali estava a sua cruz. Preparada especialmente para ele, com as suas medidas e com o seu nome.
Mas naquele dia os judeus prenderam Jesus. Ele também foi julgado e condenado. A história conta que um homem chamado Pilatos, tentando defendê-l'O, apresentou Cristo e Barrabás perante o povo, e disse:
- Em datas como esta temos o costume de soltar um prisioneiro. A quem quereis que eu solte desta vez, Cristo ou Barrabás?
E o povo enlouquecido gritou:
- Solta Barrabás! Crucifica Cristo!
Acho que se alguém entendeu alguma vez na plenitude do sentido a expressão: 'Cristo morreu em meu lugar', foi Barrabás. Ele não podia acreditar. Talvez beliscasse a sua pele para saber se realmente estava acordado. Ele, o marginal, o homem mau, estava livre. E aquele Jesus, sereno e simples, que só viveu a semear amor, devolvendo saúde aos doentes e vida aos mortos, estava ali para morrer no seu lugar. Eu imagino o que Barrabás pensou: "Eu nunca terei palavras para agradecer a Cristo por ter aparecido. Se Ele não tivesse vindo, eu estaria condenado irremediavelmente."
Já não havia tempo para chamar o carpinteiro e preparar uma cruz para Cristo. Além do mais, havia ali uma cruz vaga, embora com as medidas de outro, com o nome de outro, preparada para outro.
E naquela tarde, meu jovem, quando Cristo ascendeu ao monte do Calvário carregando uma pesada cruz - eu gostaria que entendesses bem isto - naquela tarde triste, Jesus carregava uma cruz alheia, porque para Ele nunca ninguém preparou uma cruz. Sabes porquê? Simplesmente porque Ele não merecia uma cruz. Era eu que merecia morrer, mas Ele amou-me tanto que decidiu morrer no meu lugar e oferecer-me o direito à vida, que como homem Ele tinha conquistado.
Finalmente os homens chegaram ao topo da montanha. Deitaram a cruz no chão e com enormes pregos atravessaram-Lhe as mãos e os pés. A cruz foi levantada e com o peso do corpo as Suas carnes rasgaram-se. Um soldado tinha-Lhe colocado na fronte uma coroa de espinhos. O sangue escorria lentamente pelo rosto. Um outro soldado feriu-Lhe o lado com uma lança. Ali estava o Deus-homem morrendo por amor. O sol ocultou o seu rosto para não ver a miséria dos homens; o céu chorou uma torrente de chuva. Até as aves dos céus e os animais dos campos corriam de um lado para o outro perscrutando na sua irracionalidade que alguma coisa estranha estava a acontecer.
Só o homem, a mais bela e inteligente das criaturas, parecia ignorar que naquele instante o seu destino eterno estava em jogo.
Horas depois, quando os judeus voltaram para casa, lá naquela montanha solitária, no meio de dois ladrões, pendia agonizante o maravilhoso Jesus, entregando a Sua vida pela humanidade.
Alguma vez te detiveste a pensar no significado daquele acto de amor? Não foi um suicida louco que morreu na cruz. Não foi um revolucionário social que pagou pela sua ousadia. Era um Deus feito homem e como homem tinha medo de morrer. Possuía o instinto de conservação. Ele tinha tanto medo de morrer que na noite anterior, no Getsêmani, disse ao Seu Pai:
- Pai, eu tenho medo de morrer. Se tivesses outro meio de salvar o mundo, se passasses esta provação de Mim, Eu ficaria muito grato.
E eu tenho a certeza de que Deus disse:
- Ainda estás a tempo de voltar atrás, Meu Filho.
A vida toda da humanidade estava nas Suas mãos. Ele tinha medo de morrer, mas o Seu amor era maior do que o medo, maior do que a vida. Como abandonar o homem no mundo de desespero e de morte? É isso que talvez eu nunca consiga entender. Porque é que Ele me amou tanto? Compreendes o significado da tua vida? És a coisa mais importante que Cristo tem! Ele ama-te de tal modo que mesmo tendo medo da morte, a aceitou para te ver feliz. Não apenas para te ver membro de uma igreja, mas para te ver realizado e feliz.
Voltemos agora ao raciocínio inicial. O homem pecou e merece morrer.
Mas ele vai a Deus e diz:
- Pai, perdoa-me. - Por outras palavras: - Eu não quero morrer!
- Filho, Eu não posso mudar o princípio. O salário do pecado é a morte. Não há outra saída - diz Deus.
- Pai, perdoa-me, por favor, perdoa-me - clama o homem em desespero.
O Pastor H. M. S. Richards conta uma pequena história de quando era pequeno. Ele diz que gostava de pular a cerca e colher as maçãs do vizinho. Um dia a mãe chamou-o e, mostrando-lhe uma vara verde, disse:
- Estás a ver esta vara?
- Sim, mãe.
Os dias passaram. As maçãs estavam cada dia mais vermelhas e o menino não conseguiu resistir à tentação. Pulou a cerca e comeu maçãs até ficar satisfeito. O que ele não esperava era que ao voltar para casa a mãe estivesse à sua espera com a vara verde na mão. Tremeu. Sabia o que iria acontecer. Quase sem pensar suplicou:
- Mãe, perdoa-me.
- Não, filho - disse a mãe - eu disse uma coisa e terei que cumpri-la.
- Mãe, por favor, eu prometo que nunca mais tornarei a fazer isso.
- Não posso, filho, terás que receber o castigo.
- Por favor, mãe, por favor - continuou a suplicar com os olhos lacrimejantes.
Que mãe pode ficar insensível vendo o filho amado a suplicar perdão?
Ela tomou entre as suas mãos as mãos do filho e perguntou:
- Não queres receber o castigo?
- Não, mãe.
- Então, só existe uma saída, meu filho.
- Qual é?
A mãe estendeu a vara para ele e disse: "Segura a vara, meu filho. Em lugar de eu te castigar com esta vara, vais tu castigar-me a mim. O castigo tem que se cumprir, porque a falta existiu. Não queres receber o castigo, mas eu amo-te tanto que estou disposta e receber o castigo por ti."
"Até àquele momento eu tinha chorado com os olhos - contou Richards - agora eu comecei a chorar com o coração. Como teria coragem de bater na minha mãe por um erro que eu tinha cometido?"
Compreendeste a mensagem?
É isso que acontece entre Deus e nós quando, depois de pecar, suplicamos perdão. Ele olha com amor para nós e diz:
- Filho, pecaste e mereces a morte, mas tu não queres morrer. Então, só tens uma saíde, Meu filho.
- Qual é? - perguntamos ansiosos.
- Em lugar de morreres pelo pecado que cometeste, estou disposto a sofrer a consequência do teu erro - responde com a Sua voz suave.
Richards não teve coragem para castigar a sua mãe por um erro que ele tinha cometido. Mas nós tivemos coragem para crucificar o Senhor Jesus na cruz do Calvário. Continuamos a crucificá-l'O cada dia com as nossas atitudes. E Ele não diz nada. Como cordeiro é levado ao matadouro e como ovelha muda perante os seus tosquiadores, não abre a boca, não reclama, não exige direitos, não pensa em justiça. Apenas morre, morre lentamente consumido pelas chamas de um amor misterioso, incompreensível, infinito.
Não, eu não terei palavras para agradecer o que Ele fez por mim. Eu nunca poderei entender a plenitude do Seu amor por mim. Mas ao levantar os olhos para a montanha solitária e ao ver pendurado na cruz um Deus de amor, o meu coração enternece-se e exclamo como a jovem do colégio:
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