O barco virou-se com quatro homens dentro - todos eram atletas profissionais, jogadores de futebol. Um deles, Nick Schuyler, foi encontrado dois dias depois, agarrado ao casco da embarcação, praticamente inconsciente, e vestindo o seu colete salva-vidas. Os outros nunca foram encontrados.
Depois de ter recuperado totalmente a consciência no hospital e de ter explicado como as coisas aconteceram, as buscas pelos outros três homens cessaram. Schuyler disse aos investigadores que depois de quatro horas naquelas águas geladas - e estando cientes de que o grupo não conseguiria emitir um sinal de socorro que ajudasse os socorristas a localizar a sua exacta posição - os outros três perderam a esperança de virem a ser encontrados. Despiram os seus coletes e deixaram-se afundar nas profundas e frias águas.
Mas Schuyler nunca perdeu a esperança. Ele referiu que acreditava que iria ser resgatado. Os médicos afirmam que foi um milagre ele conseguir manter-se vivo durante todo aquele tempo - 48 horas - dentro de água, a uma temperatura de 17°C. Há força na esperança!
A FORMA COMO PAULO TRATA O ASSUNTO
Enquanto pesquisava sobre o tema da esperança, fui conduzido a um texto familiar que se encontra no livro de I Coríntios. Paulo diz: "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o amor" (I Coríntios 13:13).
A palavra 'esperança', que se encontra no meio deste trio, aparece 128 vezes na Bíblia, sendo que Paulo a usa 41 vezes nas suas epístolas. Este capítulo de Coríntios diz-nos como tudo perde importância em comparação com o amor - sejam as profecias, as línguas, seja o conhecimento ou outra coisa qualquer. Mas ainda que o amor seja 'o maior', Paulo também afirma que a 'fé' e a 'esperança' fazem parte dos três grandes que 'permanecem', os três grandes que persistem depois de todos os outros dons e de todas as outras qualidades se desvanecerem.
No entanto, nesta trilogia, a esperança parece ser aquela que não faz muito sentido. Conseguimos perceber a fé - afinal de contas qualquer Cristão sabe que "sem fé, é impossível agradar-Lhe (a Deus)", como é dito em Hebreus 11:6. E toda a gente parece compreender naturalmente o lugar e a importância do amor - a graça que, segundo Jesus, permite que todos saibamos que somos Seus discípulos (João 13:35).
Mas a esperança - como é que se enquadra aqui? Parece quase fora do lugar. Mas não está.
Há algo relacionado com a nossa maneira de ser, algo na nossa psique (alma) que se alimenta da esperança; e o Deus que nos criou sabe disso. Há uma qualidade intangível nela, mas ainda assim há algo de muito real também. Na verdade, Paulo relembra-nos que "em esperança somos salvos" (Romanos 8:24). A palavra deriva do grego elpis e está relacionada com a noção de expectativa.
Quando decidi pedir a minha mulher em casamento, escolhi o restaurante, fiz as reservas com duas semanas de antecedência, fui ao restaurante uma semana antes, escolhi uma mesa em particular e num local especial e, depois, sai para escolher o relógio que lhe daria como prenda de noivado. Eu tinha esperança! Pensei na forma como decorreria o momento, ensaiei aquilo que iria dizer e depois pensei qual seria a resposta dela. Pensei que ela iria dizer que sim - tinha quase a certeza de que ela diria que sim - mas não tinha provas concretas de que aceitaria. Mas eu tinha esperança! Vivia na expectativa, e mal podia esperar por aquele momento!
Bem, ela disse que sim. E no ano passado comemorámos 25 anos de casamento. É isto que é a esperança. E Deus diz que ela permanecerá.
Numa canção que foi lançada há alguns anos é dito que mesmo que o Céu ou a vida eterna nunca nos tivessem sido prometidos, teria valido a pena só para termos o Senhor a fazer parte da nossa vida. Contudo, Paulo não está de acordo com estes sentimentos. E eu também não! Deus fez-nos algumas promessas e quer que vivamos na esperança de morarmos num lugar melhor. Paulo afirma: "Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens" (I Coríntios 15:19). Deus sempre nos concedeu esperança. Quando expulsou os nossos primeiros pais do Jardim do Éden, Ele prometeu-lhes um Libertador. Quando os Israelitas definhavam na escravatura, Deus prometeu-lhes o Messias. Esperança era a que Job tinha quando disse: "Porque eu sei que o meu Redentor vive e que, por fim, Se levantará sobre a Terra. E, depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus" (Job 19:25, 26). Isso é esperança - desejo acompanhado de expectativa.
Os cristãos devem ser um povo de esperança! ...
As mensagens dos três anjos (Apocalipse 14:6-12) são não só mensagens de aviso, mas também de esperança. ...
Mesmo nas nossas lutas há esperança. Em Romanos 5:3 e 4, Paulo refere: "E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a experiência, e a experiência a esperança."
As pessoas, em todos as lugares, estão à procura de esperança em algo, em alguém. Nós temos aquilo que elas procuram; nós temos o artigo genuíno. Como cristãos, em geral, e Adventistas, em particular, nós estamos "aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo" (Tito 2:13).
PERMEANDO O NOVO TESTAMENTO
Podíamos fazer uma análise do tema da esperança ao longo de todo a Novo Testamento, se o espaço assim o permitisse. O autor de Hebreus fala acerca daqueles que "pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta" (Hebreus 6:18). "A qual temos", diz ele, "como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até ao interior do véu" (Hebreus 6:19). E Pedro admoesta-nos: "Estai sempre preparados para responder, com mansidão e temor, a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós" (I Pedro 3:15).
Assim, não temos de nos preocupar com nada - incluindo as actuais condições económicas do mundo. Tal como David diz: "Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão" (Salmo 37:25).
Nem mesmo os problemas da vida - seja na forma de cancro, doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais (AVC), ou qualquer outro - podem derrotar os filhos de Deus. Eles podem matar-nos, mas Paulo, em I Tessalonicenses 4:14, refere que "se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim, também, aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com Ele". E continua, dizendo: "Porque o mesmo Senhor descerá do céu, com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor" (I Tessalonicenses 4:16, 17).
QUE MENSAGEM!
Mas uma discussão sobre este assunto não pode terminar nunca sem se fazer uma referência ao livro de Apocalipse. João diz: "E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles, e será o seu Deus. E Deus limpará dos seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas" (Apocalipse 21:1-4).
Enquanto crescia, vivi numa quinta, numa pequena localidade nos arredores de Wynne, no Arkansas. Quando se tornou difícil para o meu pai ganhar ali a vida, ele anunciou à família que iria mudar-se para St. Louis, a cerca de 480km de distância, onde iria viver com o seu irmão. Ele arranjaria um emprego, juntaria dinheiro suficiente, alugaria uma casa e depois viria buscar-nos.
Eu era o filho mais ve1ho, pelo que o meu pai chamou-me à parte e disse-me para tomar conta das coisas e ocupar o seu lugar até ele regressar. "Ajuda a tua mãe", disse ele. "Certifica-te de que existe sempre lenha suficiente cortada para manter a casa quente e para colocar no fogão de forma a que a tua mãe possa fazer a comida. Certifica-te de que tiras água suficiente do poço (nós não tínhamos água corrente em casa) e, depois de vires da escola, alimenta bem os animais."
Eu respondi-lhe: "Sim, senhor." Eu tinha apenas oito anos de idade, quatro irmãos mais novos e a minha mãe estava grávida de cinco meses. Ele disse-me: "Filho, eu sei que, por vezes, vai ser muito duro para ti, mas lembra-te de que não terás de o fazer por muito tempo. Eu voltarei em breve."
Lembro-me de lhe ter perguntado: "Quando é que vais voltar?
Mas ele era demasiado sábio para me responder. Ele apenas disse: "Em breve!" Foi duro para mim ter de cortar lenha ao frio e encher os garrafões de água. A única coisa que me fazia continuar era saber que o papá contava comigo e que não teria de o fazer por muito tempo.
Uma noite, sem dizer nada a ninguém, o meu pai entrou de rompante no meu quarto. Quando me apercebi de que era ele, saltei de cima do meu beliche, uma distância que parecia ser de uns cinco metros, para os braços do meu pai. Estava tão feliz por o ver! Já não havia mais corações quebrantados! Já não havia mais dor! Tudo estava no passado agora! O papá estava de volta! E aquilo que parecia ter demorado anos, agora era sentido como se tivesse sido apenas um momento. Todo o trabalho árduo que eu tinha executado foi esquecido de repente.
Já não falta muito. Em breve, o nosso Salvador vai voltar para nos vir buscar. "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque, assim como é, O veremos" (I João 3:2).
Nós somos um povo de esperança, com uma missão de esperança e com uma mensagem de esperança!
G. Alexander Bryant - Secretário da Divisão Norte-Americana dos Adventistas do Sétimo Dia, em Silver Spring, Maryland, EUA